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Direito à memória e à verdade - Ministério da Justiça

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travar a guerra sur<strong>da</strong> que se deu por meio dos interrogatórios<br />

com torturas, <strong>da</strong>s investigações sigilosas, <strong>da</strong><br />

escuta telefônica, do armazenamento e processamento<br />

de informações sobre ativi<strong>da</strong>des considera<strong>da</strong>s subversivas.<br />

Eram enquadra<strong>da</strong>s nesse campo, desde simples<br />

reivindicações salariais e pregações religiosas, até as<br />

formas de oposição por métodos militares.<br />

Pelo menos entre 1969 e 1976, a estrutura do sistema<br />

repressivo adquiriu o formato de uma ampla pirâmide,<br />

tendo como base as câmaras de interrogatório<br />

e, no vértice, o Conselho de Segurança Nacional. O<br />

SNI tinha sido criado em 13 de junho de 1964 para<br />

recolher e processar to<strong>da</strong>s as informações de interesse<br />

<strong>da</strong> segurança nacional. Seu coman<strong>da</strong>nte, com<br />

status de ministro, mantinha encontros diários com o<br />

presidente <strong>da</strong> República e tinha uma grande influência<br />

sobre as decisões políticas do governo. Tanto que,<br />

desse órgão, saíram dois presidentes do ciclo militar,<br />

o general Emílio Garrastazu Médici e o general João<br />

Baptista Figueiredo.<br />

Apesar do grande aparato montado, o serviço de inteligência<br />

não conseguiu responder com eficiência <strong>à</strong>s expectativas do<br />

governo num primeiro momento. Para melhorar a eficácia<br />

repressiva, surgiu a necessi<strong>da</strong>de de uma integração completa<br />

entre os organismos <strong>da</strong> repressão, ligados aos ministérios do<br />

Exército, <strong>da</strong> Marinha e <strong>da</strong> Aeronáutica, <strong>à</strong> Polícia Federal e <strong>à</strong>s<br />

polícias estaduais. Em São Paulo, foi monta<strong>da</strong>, em 1969, uma<br />

operação piloto que visava a coordenar esses serviços, chama<strong>da</strong><br />

Operação Bandeirante (OBAN). Não era formalmente<br />

vincula<strong>da</strong> ao II Exército, mas estava, de fato, sob a chefia de<br />

seu coman<strong>da</strong>nte, o general Canavarro Pereira. A OBAN foi<br />

composta de efetivos do Exército, <strong>da</strong> Marinha, <strong>da</strong> Aeronáutica,<br />

<strong>da</strong> Polícia Política Estadual, do Departamento de Polícia<br />

Federal, <strong>da</strong> Polícia Civil, <strong>da</strong> Força Pública, <strong>da</strong> Guar<strong>da</strong> Civil e até<br />

de civis paramilitares.<br />

A experiência <strong>da</strong> OBAN como centralizadora <strong>da</strong>s ações<br />

repressivas em São Paulo foi aprova<strong>da</strong> pelo regime<br />

militar, que resolveu estender seu formato a todo o<br />

País. Nasceu então o Destacamento de Operações de<br />

Informações/Centro de Operações de Defesa Interna,<br />

lembrado ain<strong>da</strong> hoje pela temível sigla DOI-CODI, que<br />

formalizou no âmbito do Exército um comando englobando<br />

as três Armas.<br />

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COMISSÃO ESPECIAL SOBRE MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOS<br />

Com dotações orçamentárias próprias e chefiado por<br />

um alto oficial do Exército, o DOI-CODI assumiu o primeiro<br />

posto na repressão política no país. No entanto,<br />

os Departamentos de Ordem Política e Social (DOPS) e<br />

as delegacias regionais <strong>da</strong> Polícia Federal, bem como<br />

o Centro de Informações de Segurança <strong>da</strong> Aeronáutica<br />

(CISA) e o Centro de Informações <strong>da</strong> Marinha (CE-<br />

NIMAR) mantiveram ações repressivas independentes,<br />

prendendo, torturando e eliminando opositores.<br />

Esse gigantesco aparelho repressivo chegou a atuar também<br />

fora do país. Em 1972, deixou sua marca na Bolívia,<br />

após o golpe que derrubou Juan José Torres; em 1973, no<br />

Chile e no Uruguai; e em 1976, na Argentina. Essa expansão<br />

tentacular foi relata<strong>da</strong> por vários exilados submetidos<br />

a interrogatórios por agentes brasileiros quando presos<br />

naqueles países. Os agentes brasileiros explicavam sua<br />

presença no exterior como parte de uma missão para treinar<br />

em técnicas de interrogatório e tortura seus colegas<br />

bolivianos, chilenos, argentinos e uruguaios.<br />

A resistência<br />

Ao A longo dos 21 anos de regime de exceção, em nenhum mo-<br />

mento a socie<strong>da</strong>de brasileira deixou de manifestar seu sentimento<br />

de oposição, pelos mais diversos canais e com diferentes<br />

níveis de força. Já nas eleições de 1965, adversários do regime<br />

venceram a disputa para os governos estaduais de Minas Gerais<br />

e <strong>da</strong> Guanabara, levando os militares a decretar em outubro o<br />

Ato Institucional nº 2 (AI-2), que eliminou o sistema partidário<br />

existente e forçou a introdução do biparti<strong>da</strong>rismo.<br />

Entre 1966 e 1979, o Movimento Democrático Brasileiro<br />

(MDB) atuou como frente legal de oposições, amplamente<br />

heterogênea. Nesses 13 anos, sua conduta alternou<br />

fases pragmáticas de conformismo e momentos de<br />

enfrentamento corajoso. Foi vítima de ciclos vingativos de<br />

cassação de man<strong>da</strong>tos e sofreu a edição de pacotes com<br />

regras casuísticas que buscavam perpetuar a supremacia<br />

do partido governista, a Aliança Renovadora Nacional<br />

(Arena), comprovando que o regime só aceitava o resultado<br />

<strong>da</strong>s urnas quando elas lhe eram favoráveis.<br />

Atingi<strong>da</strong> com dureza já nos primeiros dias do novo governo,<br />

quando a sede <strong>da</strong> União Nacional dos Estu<strong>da</strong>ntes<br />

(UNE) foi incendia<strong>da</strong> na Praia do Flamengo, Rio de Ja-

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