11.04.2013 Views

Direito à memória e à verdade - Ministério da Justiça

Direito à memória e à verdade - Ministério da Justiça

Direito à memória e à verdade - Ministério da Justiça

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

| 237 |<br />

COMISSÃO ESPECIAL SOBRE MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOS<br />

Quanto <strong>à</strong>s condições concretas <strong>da</strong> morte ou desaparecimento de Nelson, reunindo informações contraditórias forneci<strong>da</strong>s por moradores <strong>da</strong><br />

região, tem-se que José <strong>da</strong> Luz Filho, lavrador cujo pai permaneceu detido durante sete meses em Marabá, testemunha que Nelito e Cristina<br />

foram presos e levados para Bacaba. Zé <strong>da</strong> Onça afirma conhecer uma senhora, cujo nome não revelou, que saberia dizer onde estão as<br />

ossa<strong>da</strong>s de Nelson Piauhy Dourado (Nelito), de Luiz Renê Silveira e Silva (Du<strong>da</strong>) e do camponês Pedro Carretel, todos mortos no mesmo dia<br />

segundo seu testemunho. Outro depoimento indica como possível local de sepultura de Nelson o castanhal Brasil-Espanha.<br />

Raimundo Nonato dos Santos, conhecido como Peixinho, informa que Pedro Carretel foi preso por uma equipe de militares guia<strong>da</strong> por Zé<br />

Catingueiro, sendo ferido por um tiro do próprio Zé Catingueiro e que na mesma ocasião Nelito foi morto. Conta também que a operação<br />

onde morreu Nelito e foi capturado Carretel era coman<strong>da</strong><strong>da</strong> pelo capitão Rodrigues.<br />

Pedro Matos do Nascimento, conhecido por Pedro Mariveti, relata que, preso na Bacaba, conversou com Babão, um guia do Exército, que<br />

contou terem matado e decapitado o Ari, conforme já descrito. Além disso, Babão disse que na cabeceira <strong>da</strong> pista de pouso na Bacaba foram<br />

sepultados vários corpos. Ele se recor<strong>da</strong> de Babão ter dito que Nelito e uma Japonezinha estariam enterrados lá.<br />

Em 1974, agentes do DOPS de Salvador invadiram a casa dos irmãos de Nelson, apoderando-se de uma carta onde os seus companheiros<br />

de guerrilha informavam de sua morte. A polícia política do Regime Militar tentava não deixar qualquer prova <strong>da</strong> existência de combates<br />

na região do Araguaia. Seu irmão, José Lima Piauhy Dourado também desapareceu no Araguaia, na mesma época. Sua mãe faleceu nesse<br />

mesmo ano, ao saber <strong>da</strong> morte dos filhos. O Relatório do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Marinha, apresentado em 1993 ao ministro <strong>da</strong> <strong>Justiça</strong>, apenas ofi-<br />

cializou a informação de que Nelson foi “morto em 02/01/1974”.<br />

JANA MORONI BARROSO (1948 - 1974)<br />

Número do processo: 196/96<br />

Filiação: Cyrene Moroni Barroso e Benigno Girão Barroso<br />

Data e local de nascimento: 10/06/1948, Fortaleza (CE)<br />

Organização política ou ativi<strong>da</strong>de: PCdoB<br />

Data do desaparecimento: entre 02/01 e 11/02/1974<br />

Data <strong>da</strong> publicação no DOU: Lei nº 9.140/95 – 04/12/95<br />

Cearense de uma conheci<strong>da</strong> família de Fortaleza, cresceu em Petrópolis (RJ), onde praticou escotismo, primeiro como “Lobinho”, depois<br />

“Bandeirante”. Concluiu naquela ci<strong>da</strong>de o ensino médio e cursou até o quarto ano de Biologia na Universi<strong>da</strong>de Federal do Rio de Janeiro,<br />

onde se integrou <strong>à</strong> Juventude do PCdoB. Trabalhou com outros companheiros como responsável pela imprensa clandestina do partido. Em<br />

21 de abril de 1971, foi desloca<strong>da</strong> para a locali<strong>da</strong>de de Metade, região do Araguaia, onde trabalhou como professora e ficou conheci<strong>da</strong><br />

como Cristina, integrando o Destacamento A <strong>da</strong> guerrilha. Dedicou-se também a ativi<strong>da</strong>des de caça e ao plantio. Casou-se com Nelson Lima<br />

Piauhy Dourado. Ao se despedir dos pais, deixou-lhes uma carta explicando as razões de sua opção política e um exemplar do clássico de<br />

Gorki, A Mãe, que narra uma sensível história de amor entre um militante socialista e sua mãe na Rússia czarista.<br />

No livro Operação Araguaia, Taís Morais e Eumano Silva escrevem: “Em entrevista ao historiador Romualdo Pessoa Campos Filho, o morador<br />

José Veloso de Andrade contou que Cristina morreu nas mãos dos militares. Segundo o depoimento do ex-mateiro Raimundo Nonato dos<br />

Santos, o Peixinho, para o <strong>Ministério</strong> Público, Jana teria sido presa em um local chamado Grota <strong>da</strong> Sônia. Ela se deslocava para o ribeirão<br />

Fortaleza para encontrar Du<strong>da</strong> (Luiz René Silveira e Silva). Este, já preso, foi obrigado a levar os militares ao ponto. Raimundo, ao avistá-la,<br />

teria feito sinal para que fugisse, mas outra equipe já a cercava. Cristina estava desarma<strong>da</strong>, mas um sol<strong>da</strong>do disparou contra ela. Raimundo<br />

afirma que Jana foi deixa<strong>da</strong> no local, insepulta. Apenas uma foto teria sido feita”.<br />

Raimundo Nonato relata em outro depoimento que “Cristina foi presa perto de um local chamado “Grota <strong>da</strong> Sônia” em homenagem a uma<br />

outra guerrilheira que gostava muito <strong>da</strong>quele lugar; que quando viu a Cristina, que estava desarma<strong>da</strong>, ain<strong>da</strong> fez sinal para que ela fugisse,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!