Direito à memória e à verdade - Ministério da Justiça
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DIREITO À MEMÓRIA E À VERDADE<br />
preservação do pouco que restava de sua estrutura. Em 1973 um<br />
último fluxo de prisão atinge mais um casal do Grupo dos 28, as-<br />
sassinado entre Jataí e Rio Verde, no sul de Goiás. A partir <strong>da</strong>í não<br />
se teve mais noticias acerca <strong>da</strong> existência do Molipo, sabendo-se<br />
que, a quase totali<strong>da</strong>de dos 28 militantes especialmente visados<br />
foi assassina<strong>da</strong> pelos órgãos de repressão, entre eles alguns líderes<br />
do ME de 1968.<br />
PCR - Partido Comunista Revolucionário<br />
Resultou de uma cisão do PCdoB ocorri<strong>da</strong> a partir de 1966 em Per-<br />
nambuco, reunindo ex-ativistas <strong>da</strong>s Ligas Camponesas e militantes<br />
do ME <strong>da</strong>quele Estado e áreas adjacentes. O documento político<br />
fun<strong>da</strong>mental do PCR é a “Carta de 12 Pontos aos Comunistas Re-<br />
volucionários”, de maio de 1966, que assinala o rompimento com<br />
o PCcdoB, cuja direção é aponta<strong>da</strong> pelos dissidentes como oportu-<br />
nista e mantenedora <strong>da</strong> mesma linha de trabalho segui<strong>da</strong> pelo PCB<br />
na fase anterior a 1962. Entre os pontos de divergência destaque<br />
para a preparação <strong>da</strong> luta arma<strong>da</strong>, tarefa diante <strong>da</strong> qual o PcdoB<br />
era acusado de omissão.<br />
Em fevereiro de 1968 o PCR aparece com estrutura própria e define<br />
um sintético programa político. A linha do PCR consistia na defesa<br />
do caminho estratégico <strong>da</strong> Guerra Popular Prolonga<strong>da</strong> com “cerco<br />
<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de pelo campo” a partir de um exército revolucionário cuja<br />
área fun<strong>da</strong>mental de estruturação deveria ser o Nordeste brasi-<br />
leiro. Nesse sentido o PCR pode ser apontado como o único parti-<br />
do clandestino no país, que formulou uma estratégia para a luta<br />
revolucionária na região brasileira de mais agu<strong>da</strong>s contradições<br />
sociais. O PCR afirmava que, nacionalmente, o Nordeste devia ser<br />
entendido como o “campo” onde se prepararia o cerco <strong>à</strong> “ci<strong>da</strong>de”<br />
representa<strong>da</strong> pelo Centro-Sul industrializado.<br />
O programa <strong>da</strong> nova organização mantinha literalmente as pre-<br />
missas básicas do PCdoB, explicitando a necessi<strong>da</strong>de de aliança<br />
com a “burguesia nacional” para a luta contra o inimigo fun<strong>da</strong>-<br />
mental, identificado como sendo o imperialismo e o latifúndio. O<br />
PCR defendia a necessi<strong>da</strong>de de um partido em moldes leninistas<br />
para conduzir a guerra revolucionária no Brasil e rejeitava a linha<br />
defendi<strong>da</strong> pelas OLAS, classifica<strong>da</strong> como aventureira. Nesse senti-<br />
do, o PCR recusou uma proposta de ligação com a VPR, em 1968,<br />
tenta<strong>da</strong> por um engenheiro paulista que mantinha vínculos com<br />
ambos os grupos.<br />
O PCR publicou A Luta, como órgão oficial para veiculação de suas<br />
concepções políticas e Luta Operária, voltado para o trabalho no<br />
meio operário de Recife e outras capitais regionais.<br />
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O primeiro grande golpe sofrido pelo PCR ocorreu em novembro<br />
de 1969, quando foram atingidos importantes quadros do Partido,<br />
entre eles um de seus principais fun<strong>da</strong>dores, Amaro Luiz de Car-<br />
valho, o “Capivara”. Nos anos seguintes o PCR voltou para uma<br />
implantação em outros Estados nordestinos, como Alagoas, Rio<br />
Grande do Norte e Paraíba, desenvolveu um trabalho de propagan-<br />
<strong>da</strong> arma<strong>da</strong>, especialmente através de panfletagens em portas de<br />
fábricas. Executou pequenas operações arma<strong>da</strong>s de expropriação<br />
de autos para panfletagens e esporádicas ações para apropriação<br />
de armas de militares, atentados, e obtenção de recursos finan-<br />
ceiros. Em setembro de 1973 a organização sofreu novamente um<br />
golpe dos órgãos de repressão, resultando no assassinato de al-<br />
guns de seus principais dirigentes e prisão de uma parte de seus<br />
efetivos. Noticiou-se, nessa época, que o PCR estava iniciando um<br />
processo de fusão com a Tendência Leninista <strong>da</strong> ALN, um pequeno<br />
e efêmero grupo dissidente formado em 1971. A partir de então<br />
o PCR manteve-se distante dos noticiários de imprensa até 1978,<br />
quando a prisão de um militante vinculado <strong>à</strong> Pastoral <strong>da</strong> Juventude<br />
<strong>da</strong> Arquidiocese de Recife, Edval Nunes <strong>da</strong> Silva - o “Cajá” – obteve<br />
repercussão nacional.<br />
REDE - Resistência Democrática<br />
Pequena organização volta<strong>da</strong> para guerrilha urbana em São Paulo<br />
que existiu por menos de um ano e ficou indissoluvelmente liga-<br />
<strong>da</strong> ao nome de Eduardo Leite, mais conhecido por “Bacuri”, que<br />
morreu vitimado pelas torturas coman<strong>da</strong><strong>da</strong>s pelo delegado Fleury.<br />
“Bacuri” era ex-sol<strong>da</strong>do do Exército, ligado a VPR desde sua cons-<br />
tituição, despertando o interesse dos órgãos de repressão já em<br />
1968 por ter participado do assalto ao hospital Geral do Exército.<br />
Em 1º de julho de 1969 escreveu uma carta intitula<strong>da</strong> “Razões que<br />
determinaram meu desligamento <strong>da</strong> Organização”, onde argumen-<br />
ta com a necessi<strong>da</strong>de de imprimir mais atenção aos trabalhos de<br />
propagan<strong>da</strong> arma<strong>da</strong> e defende uma atuação mais volta<strong>da</strong> “para<br />
fora” do que vinha sendo a prática <strong>da</strong> VPR. Rompia com a VPR<br />
propondo-se a estruturar um novo grupo que desenvolvesse ações<br />
arma<strong>da</strong>s mais vincula<strong>da</strong>s <strong>à</strong> reali<strong>da</strong>de do povo.<br />
A Resistência Democrática, ou Resistência Nacionalista Democrá-<br />
tica e Popular, conforme ficou gravado em um panfleto distribuído<br />
durante assalto a um banco de São Paulo, em setembro de 1969,<br />
nasceu em meados desse ano e foi desarticula<strong>da</strong> após as que<strong>da</strong>s<br />
sofri<strong>da</strong>s em maio de 1970.<br />
Na prática a REDE não conseguiu afirma uma pratica diferente,<br />
na essência, <strong>da</strong>quilo que era feito pela VPR e outras organizações