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Direito à memória e à verdade - Ministério da Justiça

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DIREITO À MEMÓRIA E À VERDADE<br />

Numa carta <strong>à</strong>s autori<strong>da</strong>des, Carlos Gomes Machado, 62 anos, formalizou a denúncia nos seguintes termos: Além disso, embora sabendo ser<br />

eu cardíaco, não po-dendo sofrer emoções, levaram-me para ver outros colegas meus serem torturados, como foram os casos do tenente<br />

Atílio Geromin, que ficou com marcas indeléveis nas duas pernas, visto que fora amarrado em uma cadeira de braços chama<strong>da</strong>, pelos inter-<br />

rogadores, de “cadeira do dragão”; te-nente José Ferreira de Almei<strong>da</strong> que, apesar de seus 63 anos de i<strong>da</strong>de, foi levado <strong>à</strong> morte em virtude<br />

<strong>da</strong>s torturas que lhe foram aplica<strong>da</strong>s, tais como “pau-de-arara”, choques elé-tricos, palmatória, etc., que se repetiam diariamente;<br />

Cabe transcrever, por fim, a passagem do livro A Ditadura Encurrala<strong>da</strong> em que Elio Gaspari abor<strong>da</strong> a morte de José Ferreira de Almei<strong>da</strong>:<br />

“Enquanto Golbery lutava pela vi<strong>da</strong> em Barcelona, a ofensiva sobre o PCB chegara a um veio rico e inesperado. Descobrira-se uma base<br />

do Partidão dentro <strong>da</strong> Polícia Militar paulista. Ela estivera invicta desde sua montagem, em 1946. Funcionava sob as rígi<strong>da</strong>s normas<br />

de segurança do Setor Mil, ligando-se diretamente a um representante pessoal do secretário-geral do PC. Segundo o CIE, conseguira<br />

infiltrar um sargento no DOI por dois anos. Na sua liqui<strong>da</strong>ção, prenderam-se 63 policiais. Entre eles, nove oficiais <strong>da</strong> ativa, inclusive<br />

um tenente-coronel, e doze <strong>da</strong> reserva.<br />

O tenente reformado José Ferreira de Almei<strong>da</strong>, o Piracaia, tinha 64 anos e mais de vinte de militância. Foi preso no dia 7 de julho.<br />

No princípio de agosto, deitado num colchão de carceragem do DOI, despediu-se de um capitão: ‘Eu não agüento mais...Vou morrer’.<br />

Acareado com um cabo, pediu-lhe ‘pelo amor de Deus’ que contasse o que sabia. ‘Deus está de férias, vá tomar no...’, corrigiu um dos<br />

interrogadores. O II Exército informou que no dia 8 de agosto Piracaia se enforcara. Teria amarrado o cinto do macacão <strong>à</strong> grade <strong>da</strong> cela,<br />

de forma que seu corpo pendeu com as pernas dobra<strong>da</strong>s e os pés no chão. Segundo o SNI, Piracaia se matara ‘quando havia indícios de<br />

que iria nomear os prováveis contatos em outras áreas militares’. Oficialmente, era o 36º preso a se suici<strong>da</strong>r dentro de uma prisão <strong>da</strong><br />

ditadura, o 16º enforcado, sétimo a fazê-lo sem vão livre”.<br />

JOSÉ MAXIMINO DE ANDRADE NETTO (1913 – 1975)<br />

Número do processo: 205/96<br />

Filiação: Odila de Andrade Netto e José Maximiano Netto<br />

Data e local de nascimento: 20/09/1913, Três Corações (MG)<br />

Organização política ou ativi<strong>da</strong>de: PCB<br />

Data e local <strong>da</strong> morte: 18/08/1975, em Campinas (SP)<br />

Relator: Luís Francisco Carvalho Filho<br />

Deferido em: 01/08/1996 por 6x1 (voto contra do general Oswaldo Pereira Gomes)<br />

Data <strong>da</strong> publicação no DOU: 05/08/1996<br />

O coronel reformado <strong>da</strong> PM paulista José Maximino de Andrade Netto, mineiro de Três Corações, mas radicado em Campinas (SP), já tinha<br />

sido expurgado <strong>da</strong> corporação em 1964, quando ela ain<strong>da</strong> se chamava Força Pública, por não aderir ao movimento militar que depôs o<br />

presidente João Goulart.<br />

Duas déca<strong>da</strong>s depois, sob a acusação de militância no PCB, foi preso em 11/08/1975 por agentes do DOI-CODI/SP. Um dia após ser liber-<br />

tado e deixado pelos agentes dos órgãos de segurança na porta de sua casa, em péssimas condições de saúde, morreu em 18/08/1975, no<br />

Hospital Clinicor, em Campinas (SP), segundo o legista Alberto F. Piccolotto Naccaratto, de um enfarte do miocárdio.<br />

O relator do caso na CEMDP Luís Francisco Carvalho Filho enumerou os depoimentos colhidos pela autori<strong>da</strong>de judicial, sob compromisso<br />

legal. Salomão Galdino <strong>da</strong> Rocha, ex-policial militar, afirmou ter sido preso e torturado no mesmo dia que Maximino. Segundo ele, durante<br />

o interrogatório lhe fizeram perguntas sobre seu relacionamento com o coronel. Contou também que um carcereiro lhe informou que um<br />

coronel preso ali estava passando mal e que um médico teria determinado que o retirassem <strong>da</strong> prisão, pois ele estava morrendo.<br />

O outro depoimento é de Bráulio Mendes Nogueira, funcionário público aposentado, segundo quem Maximino era um nacionalista con-<br />

victo. Foi visitá-lo quando soube que havia sido solto e o encontrou bastante ferido e sem condições de conversar. Bráulio disse também<br />

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