Direito à memória e à verdade - Ministério da Justiça
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DIREITO À MEMÓRIA E À VERDADE<br />
I<strong>da</strong>lísio fez o curso primário em Rubim (MG), sua ci<strong>da</strong>de natal, e o ginasial em Teófilo Otoni (MG), no Colégio São José. Em 1962, mudou-se<br />
para Belo Horizonte, onde estudou no ex-Colégio Universitário <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal de Minas Gerais. Em 1968 participou <strong>da</strong> luta dos<br />
excedentes por mais vagas na Universi<strong>da</strong>de. Nesse mesmo ano iniciou o curso de Psicologia na UFMG. Em 1970, casou-se com Walkíria<br />
Afonso Costa, que seria a última <strong>da</strong>s desapareci<strong>da</strong>s na guerrilha do Araguaia.<br />
Foi eleito presidente do Centro de Estudos de Psicologia de Minas Gerais e do Diretório Acadêmico <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Filosofia e Ciências Hu-<br />
manas em 1971. Em janeiro de 1971, I<strong>da</strong>lísio e Walkíria, já militantes do PCdoB, decidiram mu<strong>da</strong>r-se para o Araguaia, região do Gameleira.<br />
Como violeiro e cantador, conquistava rapi<strong>da</strong>mente a simpatia <strong>da</strong>queles com quem convivia.<br />
Em julho de 1972, seu grupo entrou em combate com uma patrulha do Exército, perto <strong>da</strong> Grota Vermelha. I<strong>da</strong>lísio perdeu-se do grupo. Em<br />
12/07/1972, em Perdidos, distante nove léguas a Oeste de Caianos, I<strong>da</strong>lísio foi emboscado e morto, aos 25 anos de i<strong>da</strong>de, segundo docu-<br />
mento dos Fuzileiros Navais entregue anonimamente <strong>à</strong> Comissão de Representação Externa <strong>da</strong> Câmara Federal, em 1992. Relatório do Mi-<br />
nistério <strong>da</strong> Marinha diz que I<strong>da</strong>lísio foi morto, em julho de 1972, “por ter resistido ferozmente”. Na mesma época em que I<strong>da</strong>lísio morreu no<br />
Araguaia, a casa de seus pais, em Belo Horizonte, foi invadi<strong>da</strong> por policiais. Em julho de 1973, foi condenado <strong>à</strong> revelia pela <strong>Justiça</strong> Militar.<br />
Segundo o relatório Arroyo, “em julho, a CM resolveu enviar um grupo de companheiros, chefiados pelo Juca (João Carlos Haas Sobrinho),<br />
para conseguir reatar o contato com o C. Faziam parte do grupo: Flávio (Ciro Flávio de Oliveira Salazar), Gil (Manoel José Nurchis), Aparício<br />
(I<strong>da</strong>lísio Soares Aranha Filho) e Ferreira (Antônio Guilherme Ribeiro Ribas), do B. Esta medi<strong>da</strong> se impunha porque o C não atendeu aos pontos<br />
previamente estabelecidos. Este grupo caiu numa embosca<strong>da</strong> do Exército na Grota Vermelha, a uns 50 metros <strong>da</strong> estra<strong>da</strong>. Juca levou dois<br />
tiros: um na perna e outro na coxa, mas conseguiu, juntamente com os outros companheiros, embrenhar-se na mata. Ficaram parados alguns<br />
dias para que Juca se restabelecesse. Durante esse período, Aparício saiu para caçar e se perdeu. Procurou a casa de um morador chamado<br />
Peri, por onde sabia que os demais iam passar. Lá ficou <strong>à</strong> espera. O dono <strong>da</strong> casa onde se refugiou levou-o para um barraco no mato, próximo<br />
<strong>à</strong> casa. Aí lhe serviam a comi<strong>da</strong>. Dias depois, apareceu o Exército e travou tiroteio com Aparício. Este descarregou to<strong>da</strong>s as balas do revólver<br />
que tinha e quando tentava enchê-lo de novo recebeu um tiro e morreu. Não se sabe se o Exército chegou por acaso ou se foi denúncia”.<br />
denúncia”<br />
O livro de Hugo Stu<strong>da</strong>rt, A Lei <strong>da</strong> Selva, acrescenta informações que adquirem um tom quase ficcional: “Dossiê dá sua morte em JUL 72.<br />
Entrou em combate com uma equipe de militares <strong>da</strong> inteligência. Levou 53 tiros de metralhadora, inclusive no rosto, e ain<strong>da</strong> assim conse-<br />
guiu escapar pela mata. Foi apanhado pelos militares dois quilômetros adiante, agonizando no chão. Um mateiro o executou com um tiro de<br />
espingar<strong>da</strong> Winchester calibre 44. O tiro atingiu sua cabeça, que foi praticamente arranca<strong>da</strong> do tronco. I<strong>da</strong>lísio foi levado numa rede para<br />
Xambioá a fim de ser identificado. Foi inicialmente enterrado no cemitério local, na ala dos indigentes. Os militares mataram um cachorro e<br />
enterraram em cima do seu corpo para futura identificação”.<br />
Em abril de 2007, as cita<strong>da</strong>s reportagens de Lucas Figueiredo revelam que existe a seguinte passagem no chamado “livro negro do terroris-<br />
mo no Brasil”, de responsabili<strong>da</strong>de do CIE e do ex-ministro do Exército Leôni<strong>da</strong>s Pires Gonçalves: “Nesse mês (julho de 1972), no dia 13, num<br />
choque com as forças legais em Perdidos, foi morto o subversivo I<strong>da</strong>lísio Soares Aranha Filho (Aparício)”<br />
MAIS OITO MORTES<br />
No início <strong>da</strong> chama<strong>da</strong> segun<strong>da</strong> campanha, as Forças Arma<strong>da</strong>s eliminaram,<br />
em apenas dez dias de setembro de 1972, oito guerrilheiros.<br />
Não sendo possível fixar com exatidão as diferentes <strong>da</strong>tas,<br />
sabe-se que entre os dias 20 e 30 <strong>da</strong>quele mês morreram ou foram<br />
presos Miguel Pereira dos Santos, Francisco Manoel Chaves, Antônio<br />
Carlos Monteiro Teixeira, José Toledo de Oliveira, Helenira<br />
Rezende, Ciro Flávio Salazar de Oliveira, João Carlos Haas Sobrinho<br />
e Manoel José Nurchis.<br />
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Miguel foi metralhado nas circunstâncias assim descritas pelo Relatório<br />
Arroyo: “No Destacamento C, cerca do dia 20 de setembro, dois<br />
companheiros, Vítor (José Toledo de Oliveira) e Cazuza (Miguel Pereira<br />
dos Santos), deslocavam-se para fazer um encontro com três outros<br />
companheiros. Acamparam perto de onde devia se <strong>da</strong>r o encontro. À<br />
tardinha, ouviram barulho de gente que ia passando perto. Cazuza<br />
achou que eram os companheiros e quis ir ao encontro deles, mas Vítor<br />
não permitiu. Disse que se devia ir ao ponto no dia seguinte. Pela