Direito à memória e à verdade - Ministério da Justiça
Direito à memória e à verdade - Ministério da Justiça
Direito à memória e à verdade - Ministério da Justiça
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
a conquista do poder e defendia a necessi<strong>da</strong>de de preparação tam-<br />
bém <strong>da</strong> guerrilha urbana e <strong>da</strong>s “guerrilhas locais” a serem desen-<br />
cadea<strong>da</strong>s em zonas camponesas, mas exibindo características de<br />
irregulari<strong>da</strong>de semelhante a <strong>da</strong> luta urbana. A tática geral segui<strong>da</strong><br />
pelo PCBR após sua formação procurava, entretanto, um equilíbrio<br />
entre o militarismo que se fortalecia na ação dos outros grupos<br />
dissidentes e o “massismo” pacifista <strong>da</strong> pratica anterior no PCB. A<br />
busca desse equilíbrio provocou tensões internas e drenagem de<br />
militantes para outras organizações.<br />
Ao nascer, o PCBR contava com alguma penetração em círculos<br />
operários do Rio e mantinha certa penetração em áreas rurais do<br />
Nordeste. No ME, o PCBR conseguia hegemonia em Pernambuco e<br />
em varias enti<strong>da</strong>des acadêmicas do Rio de Janeiro e Guanabara.<br />
Logo após a fun<strong>da</strong>ção do novo partido um grupo liderado por Jover<br />
Telles desligou-se para ingressar no PCdoB, apresentando suas ra-<br />
zões através de um documento com titulo pretensioso: “Reencon-<br />
tro Histórico”. A resposta do PCBR foi <strong>da</strong><strong>da</strong> em tom incisivo e po-<br />
lemico: “Reencontro Histórico ou Simples Mistificação’?”. Muitos<br />
anos mais tarde um congresso do PCdoB iria comunicar a expulsão<br />
de Jover Telles como autor de traição e como principal responsável<br />
pela repressão desfecha<strong>da</strong> contra a reunião do Comitê Central do<br />
partido em dezembro de 1976, em São Paulo.<br />
Desde abril de 1969 o PCBR se ocupou com algumas operações<br />
arma<strong>da</strong>s volta<strong>da</strong>s para a propagan<strong>da</strong> revolucionaria. Num con-<br />
texto em que se aceleravam as ativi<strong>da</strong>des dos outros grupos<br />
guerrilheiros o PCBR passou a viver um choque interno entre os<br />
setores <strong>da</strong> organização, quando algumas bases, especialmente<br />
do Nordeste, acusavam o partido de massismo e exigiam a im-<br />
plementação <strong>da</strong>s operações militares. A pressão desses setores<br />
e o profundo acirramento <strong>da</strong> repressão no segundo semestre de<br />
1969 - criação <strong>da</strong> OBAN e DOI-CODIs, seqüestro do embaixador<br />
norte-americano, golpe branco <strong>da</strong> Junta Militar na enfermi<strong>da</strong>de<br />
do presidente Costa e Silva, decretação <strong>da</strong> pena de morte -obri-<br />
gam o PCBR a reforçar sua clandestini<strong>da</strong>de e exigem operações<br />
para obtenção de fundos.<br />
No primeiro assalto a banco realizado no Rio em dezembro, ocor-<br />
rem prisões que iniciam um fluxo que derrubou, até janeiro, metade<br />
do Comitê Central de 13 membros, jogando nas prisões centenas<br />
de militantes e obrigando outros 70 a seguirem para a clandestini-<br />
<strong>da</strong>de. As conseqüências <strong>da</strong>s prisões poderiam ter sido mais <strong>da</strong>nosas<br />
não fosse a heróica postura de alguns dos dirigentes aprisionados,<br />
como Apolônio de Carvalho, que terminaria conquistando o res-<br />
| 471 |<br />
COMISSÃO ESPECIAL SOBRE MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOS<br />
peito envergonhado de seus próprios seviciadores, e Mario Alves,<br />
truci<strong>da</strong>do no Quartel <strong>da</strong> PE, no Rio de Janeiro.<br />
Em junho de 1970 é formado um segundo Comitê Central que re-<br />
orienta claramente a linha do partido em direção a uma pratica<br />
idêntica a dos grupos que passavam a constituir a “Frente Arma-<br />
<strong>da</strong>”. As prisões continuariam atingindo o PCBR nos meses seguin-<br />
tes no Rio e no Paraná, e em 1971 o partido sofreria duros golpes<br />
em Pernambuco e Bahia. Em 1971 e 1972 o PCBR vive a rotina<br />
dos demais grupos voltados para a guerrilha urbana: a estrutura<br />
clandestina do partido exigia sucessivas operações para obtenção<br />
de recursos e esse ciclo de ações absorvia praticamente to<strong>da</strong>s as<br />
atenções dos militantes. As bases estão drasticamente reduzi<strong>da</strong>s<br />
e é mínima a penetração política do partido numa conjuntura de<br />
repressão política e refluxo de todos os tipos de movimentos de<br />
massas. Enquanto no exterior um setor do PCBR que havia se diri-<br />
gido para o exílio através dos seqüestros de embaixadores ou por<br />
outros meios desenvolvia um certo balanço auto-crítico <strong>da</strong> pratica<br />
anterior, a direção do PCBR no Brasil manteve, até 1973, uma linha<br />
inteiramente baliza<strong>da</strong> pelo circulo vicioso. Em dezembro de 1972<br />
e outubro de 1973, no Rio, membros do 3° Comitê Central foram<br />
chacinados pelos órgãos de repressão.<br />
MR-8 - Movimento Revolucionário 8 de Outubro<br />
Esta sigla foi adota<strong>da</strong> por duas organizações inteiramente distintas.<br />
A DI de Niterói, pequeno grupo dissidente do PCB integrado basi-<br />
camente por estu<strong>da</strong>ntes universitários, adotou a sigla MR-8 como<br />
homenagem a Che Guevara e, já em 1968, definiu a necessi<strong>da</strong>de<br />
de dedicar-se imediatamente <strong>à</strong> preparação do foco guerrilheiro.<br />
Este primeiro MR-8 teve existência efêmera e não chegou a elabo-<br />
rar uma proposta política global através de documentos escritos.<br />
Adotou literalmente as premissas de Regis Debray acerca <strong>da</strong>s po-<br />
tenciali<strong>da</strong>des do “foco guerrilheiro” e jogou todos os seus recursos<br />
na instalação de uma infra-estrutura para sua deflagração. A área<br />
escolhi<strong>da</strong> foi o Paraná e foi nesse Estado que um acidente de trân-<br />
sito em princípios de 1969 forneceu aos órgãos de repressão uma<br />
pista que permitiria atingir, em pouco tempo, praticamente to<strong>da</strong><br />
a organização. O desbaratamento do primeiro MR-8 foi utilizado<br />
pelos órgãos de segurança como manobra de guerra psicológica<br />
contra os demais grupos de esquer<strong>da</strong> e como justificativa para no-<br />
vas escala<strong>da</strong>s repressivas. Foi então, para neutralizar esse festival<br />
sensacionalista, que os dissidentes <strong>da</strong> Guanabara decidiram reto-<br />
mar o nome MR-8.<br />
O grupo que até os dias atuais age sob o nome de MR-8 começou<br />
a nascer em 1966 como “DI <strong>da</strong> Guanabara”, ou seja, Dissidência <strong>da</strong>