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Direito à memória e à verdade - Ministério da Justiça

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COMISSÃO ESPECIAL SOBRE MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOS<br />

Em 11/11/1972, o corpo foi trasla<strong>da</strong>do para São Paulo, sendo entregue <strong>à</strong> família em caixão lacrado, com ordens expressas para que não fos-<br />

se aberto. A história de sua militância política e de seu suplício está narra<strong>da</strong>, de modo romanceado, no livro Em Câmara Lenta, escrito pelo<br />

cineasta e ex-preso político Renato Tapajós, que era então cunhado de Aurora. O relator do processo na CEMDP, general Osvaldo Pereira<br />

Gomes, apoiou-se em alguns trechos do depoimento do general Fiúza em seu voto, concluindo não restar dúvi<strong>da</strong>s de que Aurora morreu por<br />

causas não naturais em dependência policial, sendo falsa a versão oficial.<br />

LINCOLN CORDEIRO OEST (1907-1972)<br />

Número do processo: 231/96<br />

Filiação: Ezequiela Cordeiro Oest e Edmundo Oest<br />

Data e local de nascimento: 17/6/1907, Rio de Janeiro (RJ)<br />

Organização política ou ativi<strong>da</strong>de: PCdoB<br />

Data e local <strong>da</strong> morte: 21/12/1972, Rio de Janeiro (RJ)<br />

Relator: general Oswaldo Pereira Gomes<br />

Deferido em: 23/4/1996 por unanimi<strong>da</strong>de<br />

Data <strong>da</strong> publicação no DOU: 25/4/1996<br />

Lincoln, dirigente do PCdoB, nasceu no Rio de Janeiro em 17 de junho de 1907, filho de Ezequiela Cordeiro Oest e Edmundo Oest. Militante<br />

político desde os 15 anos, atuou junto ao movimento operário e participou, como militar, do levante de novembro de 1935 <strong>da</strong> Aliança Nacional<br />

Libertadora. Em 1946, foi eleito deputado estadual pelo Partido Comunista, sendo cassado em 1948, quando a sigla foi coloca<strong>da</strong> novamente na<br />

ilegali<strong>da</strong>de. Jornalista, em 1962 fez parte <strong>da</strong> Comissão de Soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de a Cuba e organizou a Comissão Cultural Brasil-Coréia do Norte.<br />

Em 10/04/1964, dia seguinte <strong>à</strong> decretação do primeiro Ato Institucional, os seus direitos políticos foram cassados pelo regime militar, sendo<br />

ele o 18º de uma lista de 100 nomes, inicia<strong>da</strong> com Luís Carlos Prestes e concluí<strong>da</strong> com o cabo Anselmo. A partir de então, Lincoln Oest<br />

passou a viver na clandestini<strong>da</strong>de e enfrentou uma primeira prisão em 1968, pelo DOPS de São Paulo, onde foi torturado e após 18 dias<br />

liberado por ausência de acusações. Em 20/12/1972, integrando a Executiva do Comitê Central do PCdoB, foi novamente preso, aos 65 anos<br />

de i<strong>da</strong>de, agora pelos agentes do DOI-CODI do Rio de Janeiro, que o torturaram até a morte.<br />

O comunicado oficial sobre sua morte é típico de um momento em que os órgãos de segurança pareciam já não querer esconder que as versões<br />

apresenta<strong>da</strong>s eram delibera<strong>da</strong>mente falsas. Sem preocupação alguma com a verossimilhança <strong>da</strong>s informações, anunciava que Lincoln Oest “foi<br />

morto ao tentar uma fuga na hora <strong>da</strong> prisão”. Entretanto, a guia do DOPS/RJ, encaminha<strong>da</strong> ao IML, onde entrou como desconhecido, registra<br />

que o corpo de Lincoln estava largado “num terreno baldio <strong>da</strong> rua Garcia Redondo após tiroteio com agentes <strong>da</strong>s forças de segurança”. O horário<br />

apontado, cinicamente, é 2h50, quando todos sabiam que, nas rigorosas condições de clandestini<strong>da</strong>de vivi<strong>da</strong>s pelos dirigentes comunistas, os<br />

encontros com companheiros não eram marcados após o anoitecer, muito menos em altas horas <strong>da</strong> madruga<strong>da</strong>. Laudo e fotos de perícia de lo-<br />

cal concluem por morte violenta (homicídio) e mostram o corpo de Lincoln baleado. As fotos mostram também evidentes marcas de tortura.<br />

A versão oficial de morte por tentativa de fuga foi desmenti<strong>da</strong> pelos depoimentos dos presos políticos José Auri Pinheiro e José Francisco<br />

dos Santos Rufino, prestados <strong>à</strong> época em auditorias militares. Segundo eles, Lincoln foi torturado no DOI-CODI/RJ, onde estava preso. Tanto<br />

Auri, quanto Rufino ouviram de um policial torturador que Lincoln teria sido “eliminado em suas mãos”. O exame ca<strong>da</strong>vérico demonstrou<br />

que o ex-deputado foi morto com grande número de tiros (pelo menos nove), em várias partes do corpo. A necropsia, realiza<strong>da</strong> por Adib<br />

Elias e Eduardo Bruno, confirmou a versão oficial de morte em tiroteio. O corpo de Lincoln foi reconhecido por sua filha, Vânia Moniz Oest,<br />

somente no dia 6/1/1973, sendo sepultado por sua família no Cemitério São João Batista (RJ) no dia 8. Para o relator <strong>da</strong> CEMDP, general<br />

Oswaldo Pereira Gomes, “to<strong>da</strong>s as provas anexa<strong>da</strong>s ao processo levam a crer que não houve tiroteio e Lincoln foi levado ao local em que<br />

morreu, sendo ali fuzilado”.

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