Direito à memória e à verdade - Ministério da Justiça
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COMISSÃO ESPECIAL SOBRE MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOS<br />
Ramires Maranhão do Valle nasceu em Recife e, no final de 1961, passou no exame para cursar o Colégio Militar, embora não tenha con-<br />
seguido vaga. Matriculou-se então no colégio São João, estu<strong>da</strong>ndo até a 3ª série ginasial e destacando-se também em atletismo. Devido <strong>à</strong><br />
composição social elitista dessa escola, enfrentou conflitos com colegas que se opunham ao governo estadual de Miguel Arraes. Depois de<br />
abril de 1964, preferiu transferir-se para o colégio Carneiro Leão, onde concluiu a 4ª série. Interessado em agricultura, foi cursar o colegial<br />
na Paraíba, na escola agrícola Vi<strong>da</strong>l Negreiros, em Bananeiras. Permaneceu apenas um ano nesse estabelecimento e retornou a Recife, matricu-<br />
lando-se no colégio salesiano Sagrado Coração. Não chegou a concluir o curso secundário devido <strong>à</strong>s perseguições policiais por sua atuação política<br />
no meio estu<strong>da</strong>ntil. Na primeira vez em que foi preso, aos 16 anos, estava participando de manifestação do Movimento Estu<strong>da</strong>ntil contra o acordo<br />
MEC-USAID, nas esca<strong>da</strong>rias <strong>da</strong> Assembléia Legislativa de Pernambuco. Junto com ele foi preso Fernando Santa Cruz, que também seria assassinado<br />
pelos órgãos de segurança em 1974. Nessa ocasião, Ramires permaneceu oito dias no Juizado de Menores.<br />
No enterro do Padre Antônio Henrique Pereira Neto, assassinado em Recife em 21/08/1969, Ramires, rompendo a vigilância policial, pro-<br />
moveu um comício relâmpago em uma <strong>da</strong>s pilastras <strong>da</strong> Ponte <strong>da</strong> Torre, por onde passava o cortejo. Em decorrência <strong>da</strong> perseguição policial<br />
que se seguiu, teve de passar <strong>à</strong> vi<strong>da</strong> clandestina, vinculando-se ao PCBR. Atuou clandestinamente em Fortaleza (CE) e radicou-se no Rio<br />
de Janeiro em 1971. Em todo esse período, manteve contato com parentes através de cartas, telefonemas ou mesmo visitas, embora raras.<br />
O último encontro aconteceu em fevereiro de 1972. Documentos dos órgãos de segurança do regime militar atribuem a ele participação<br />
em várias ações arma<strong>da</strong>s, inclusive em duas execuções: a do delegado Octavinho, menciona<strong>da</strong> há pouco e a do ex-preso político do PCBR<br />
Salatiel Teixeira Rolins, acusado por seus companheiros de ser responsável pela prisão de Mário Alves.<br />
Seu desaparecimento foi denunciado pela família <strong>à</strong> ONU, ao Conselho de <strong>Justiça</strong>, Segurança Pública e <strong>Direito</strong>s Humanos do governo do<br />
Estado do Rio de Janeiro e ao Conselho de Defesa dos <strong>Direito</strong>s <strong>da</strong> Pessoa Humana. No Relatório do <strong>Ministério</strong> do Exército, de 1993, consta<br />
que foi morto junto com dois companheiros em tiroteio com as forças de segurança.<br />
O pernambucano Almir Custódio de Lima tinha 23 anos quando foi morto. Fez o curso médio na Escola Técnica Federal de Recife e foi<br />
metalúrgico, tendo trabalhado na Aluferco, no Rio de Janeiro. Casou-se aos 21 anos com Nadja Maria de Oliveira, em 10/08/1971. Não<br />
foi possível reunir mais informações sobre sua biografia e sobre ativi<strong>da</strong>des políticas anteriores. O “Livro Negro do Terrorismo no Brasil”, Brasil” de<br />
autoria atribuí<strong>da</strong> ao Centro de Informações do Exército, registra que os quatro militantes do PCBR foram localizados a partir de uma ope-<br />
ração em que Almir passou a ser seguido intensamente, após denúncia de um informante na primeira quinzena de outubro de 1973. Esse<br />
documento também o inclui entre os participantes <strong>da</strong> execução de Salatiel Teixeira Rolins, num bar do Leblon, dia 22/07/1973, onde teria<br />
pixado uma parede com a sigla PCBR e jogado sobre o cadáver panfletos assinados “Comando Mário Alves”.<br />
Vitorino Alves Moitinho, o Tiba, saiu de São Mateus (ES) para estu<strong>da</strong>r e trabalhar no Rio de Janeiro, indo morar com seus irmãos no Catete. En-<br />
quanto estu<strong>da</strong>va trabalhou também como bancário e operário. Respondeu a alguns processos por sua militância política, sendo por esse motivo<br />
obrigado a viver na clandestini<strong>da</strong>de. Já militando no PCBR, tinha sido preso antes, na ofensiva contra esse partido ocorri<strong>da</strong> no Nordeste em março<br />
de 1972, deixando como saldo as mortes de Luís Alberto Andrade de Sá e Benevides, Miriam Lopes Verbena e Ezequias Bezerra <strong>da</strong> Rocha, cujos<br />
casos já foram apresentados neste livro-relatório. O Relatório do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Marinha, de 1993, registra que ele “teria morrido juntamente com<br />
outros subversivos, durante operação não defini<strong>da</strong>”. defini<strong>da</strong>” Não há confirmação de sua morte no Relatório do <strong>Ministério</strong> do Exército, mas o <strong>da</strong> Aeronáu-<br />
tica afirma que Vitorino foi “morto em 27/10/1973, num carro, em Jacarepaguá, juntamente com outros três militantes do PCBR”. PCBR” Documentos dos<br />
órgãos de segurança o incluem, ao lado de Ramires, como autor dos disparos que mataram Salatiel Teixeira Rolins.<br />
Todos os corpos deram entra<strong>da</strong> no IML como desconhecidos e foram necropsiados por Hélder Machado Paupério e Roberto Blanco dos<br />
Santos, que confirmaram a versão oficial. A partir de 1991, com os documentos encontrados em arquivos do DOPS foi comprova<strong>da</strong> a morte<br />
dos dois desaparecidos. Documento de informação do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Aeronáutica de 22/11/1973, de nº 575, encontrado no arquivo do antigo<br />
DOPS/SP, afirma: “dia 27/10/1973, em tiroteio com elementos dos órgãos de segurança <strong>da</strong> Guanabara, foram mortos os seguintes militantes<br />
do PCBR: Ranúsia Alves Rodrigues, Ramires Maranhão do Valle, Almir Custódio de Lima e Vitorino Alves Moitinho”.<br />
Moitinho”