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MÚSICA DE FESTIVAL: - Arte, Cultura e Sociedade na América ...

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Document”. 111 De acordo com o autor, a etnografia deve evocar uma ruptura absoluta entre o<br />

representante e o representado <strong>na</strong> medida em que ela própria é o objeto de sua pesquisa. Este<br />

fato extremamente relevante insere no debate a participação do leitor das etnografias <strong>na</strong><br />

suposta conclusão sobre a realidade evocada no texto. Este “mundo oculto”, do leitor – seja<br />

ele um <strong>na</strong>tivo acadêmico ou não – pressupõe um holismo que existe provisoriamente ape<strong>na</strong>s<br />

<strong>na</strong> leitura; em outras palavras, não se apresenta como um holismo metodológico, mas,<br />

sobretudo, ético.<br />

Com isso, é importante entender até que ponto a construção de um texto etnográfico<br />

retoma, de fato, a discussão acerca do ofício etnográfico como aquele que articula<br />

conhecimentos dispersos e dá luz a significados encobertos, como propõe Vagner Gonçalves<br />

da Silva (2000). Ao desenvolver um trabalho, definido por Peter Fry como uma<br />

“metaetnografia”, Vagner discute a presença do antropólogo no campo, o encontro<br />

etnográfico, de onde parte o texto fi<strong>na</strong>l, apresentado em bancas, congressos, seminários e, no<br />

caso das religiões afro-brasileiras pesquisadas pelo autor, lido e comentado pelos próprios<br />

sujeitos da pesquisa, também escritores de suas religiões. Apesar do risco de reificação do<br />

antropólogo, Vagner aponta para dimensões básicas da discussão em torno da dicotomia<br />

clássica entre sujeito e objeto. O encontro etnográfico, portanto, deve ser entendido tanto a<br />

partir das representações dos observadores quanto da dos observados, o que no caso de sua<br />

pesquisa fica ainda mais latente. Entretanto, ao assumir o caráter “provisório, parcial e<br />

inventivo” de sua etnografia, Vagner Gonçalves da Silva assume de maneira instantânea a<br />

preocupação de estar escrevendo para um determi<strong>na</strong>do leitor (preferencialmente acadêmico),<br />

com o qual um discurso comedido e sistemático deve ser utilizado. (SILVA, 2000:21)<br />

Relembrando o fato de que alguns compositores <strong>na</strong>tivistas leram e comentaram meu projeto<br />

de dissertação - disponível no site do núcleo de pesquisa do qual faço parte <strong>na</strong> UFSC, o<br />

MUSA 112 - e conversando com meu orientador sobre a questão do distanciamento, percebi<br />

que refletir sobre o encontro etnográfico não se tratava ape<strong>na</strong>s de um procedimento<br />

metodológico, mas ético.<br />

111 TYLER, Stephen. “Post-Modern Ethnography: From Document of the Ocult to Occult Document” In:<br />

Writing Culture. Edited by James Clifford and Georg Marcus. Berkeley: University of Califórnia Press, 1986.<br />

112 Descrevo o fato no primeiro capítulo dessa dissertação<br />

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