MÚSICA DE FESTIVAL: - Arte, Cultura e Sociedade na América ...
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Ainda sobre a expressiva aceitação da milonga, o compositor sul-rio-grandense Vítor<br />
Ramil - considerado um dos expoentes da MPB contemporânea - mesmo sem ter participado<br />
do circuito dos festivais <strong>na</strong>tivistas, sai em defesa do gênero como um dos elementos básicos<br />
de uma “estética do frio” – título de um dos discos do compositor, e sua concepção sobre a<br />
música produzida no Rio Grande do Sul:<br />
“A milonga também está entre as idéias centrais da estética do frio (...). A<br />
milonga está em mim, está em nós. A milonga está introjetada em nosso<br />
imaginário, assim como o pampa, assim como o frio, assim como o gaúcho,<br />
essa ‘existência quase romanesca’ a que se refere Euclides da Cunha em Os<br />
Sertões. É certamente o gênero que melhor expressa a nossa sensibilidade.<br />
Significativo que, dentro de um país mundialmente associado à alegria, à<br />
festa, essa música intimista, reflexiva, melancólica, seja a que nos toca mais<br />
profundamente, a que fala mais especificamente de nós. (Vítor Ramil,<br />
depoimento citado em MANN, 2002: 148)<br />
O mesmo não ocorre com o chamamé, gênero de aparição mais recente que a milonga.<br />
Mais recente ape<strong>na</strong>s em sua denomi<strong>na</strong>ção, pois como atestam diferentes pesquisadores<br />
argentinos, trata-se de uma maneira diferente de se executar a polca correnti<strong>na</strong> (uma versão<br />
local da polca paraguaia). De acordo com Cardoso, a primeira vez que o termo chamamé<br />
aparece - nos registros da sociedade de autores e compositores argentinos - data de 1930 e<br />
corresponde à gravação do tema Corrientes Potí (Flor de Corrientes) por Francisco Pracánico,<br />
autor da música, e Diego Novillo Quiroga, da letra. (Cardoso, 2006: 255) Também Oliveira e<br />
Vero<strong>na</strong> elucidam a descendência da polca correnti<strong>na</strong> apresentada pelo chamamé:<br />
No nordeste argentino [região das províncias de Corrientes e Misiones], a<br />
polca paraguaia foi adaptada ao acordeón e ao bandoneón, e, sem a harpa,<br />
sofreu uma metamorfose gradativa e profunda, dada a imensa distância que<br />
esses instrumentos mantêm entre si em termos de recursos sonoros. Essas<br />
características, somadas a diversas outras condições concorreram para que a<br />
polkita correnti<strong>na</strong> (diminutivo afetuoso) fosse mais cadenciosa, ter<strong>na</strong> e<br />
romântica que sua matriz paraguaia. (OLIVEIRA;VERONA, 2006: 144)<br />
O mito de origem versa também sobre a gravação de um disco em 1930, em Buenos<br />
Aires, pelo cantor paraguaio Samuel Aguayo, contendo a canção Corrientes Potí, batizada por<br />
ele de chamamé. Sobre a etimologia da palavra, Cardoso nota que já existia língua guarani e<br />
significava algo como “feito de improviso”, “com descuido”. Como relata Cardoso, Samuel<br />
Aguayo estava a caminho de Buenos Aires e, numa pousada <strong>na</strong> região de Corrientes, falou<br />
para seus músicos, companheiros de viagem: “mbae catu ña mbopu?” (da língua guarani,<br />
significando: “o que vamos tocar de bom?) e outro músico respondeu: “nã mo chamame –<br />
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