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MÚSICA DE FESTIVAL: - Arte, Cultura e Sociedade na América ...

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uma deturpação das tradições do Rio Grande do Sul pelas tradições estrangeiras), Cezimbra<br />

Jacques defendeu fervorosamente o reconhecimento das tradições autóctones, que não<br />

deveriam ser tomadas como menores ou menos inteligentes que as dos estrangeiros. Embora<br />

não fosse absolutamente contrário à imigração italia<strong>na</strong> e alemã no RS, sustentava que ela<br />

fosse discipli<strong>na</strong>da de acordo com os interesses <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is. (SANTI, 2004: 38)<br />

No debate proposto por Oliven (1992), é possível a<strong>na</strong>lisar de que maneira a intenção<br />

de separar o discurso político do literário (e da própria organização dessas agremiações) não<br />

se efetiva dentro de um projeto regio<strong>na</strong>lista. Segundo Oliven, as relações travadas entre o<br />

estado do Rio Grande do Sul e o governo brasileiro se estabeleceram a partir de tensões entre<br />

autonomia e integração, onde diferentes conjunturas teriam configurado as características<br />

principais dos movimentos regio<strong>na</strong>listas. Na construção de um Estado-Nação, entre<br />

descentralizações e centralizações políticas, diferentes atores e discursos colaboraram para<br />

que a idéia de <strong>na</strong>ção, e também de região, fossem objeto de constante debate. Ao retomar as<br />

diferentes maneiras como a “identidade <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l” e a “cultura brasileira” foram construídas,<br />

Ortiz (1985) aponta que sendo definida historicamente a partir da relação com o que lhe é<br />

exterior, a noção de identidade <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l também possui uma dimensão inter<strong>na</strong>, que depende<br />

da definição de fatores de identificação - como os símbolos, memórias, tradições - que<br />

concorrem a uma unidade inter<strong>na</strong>. (ORTIZ, 1985: 7) Portanto, falar da construção de<br />

identidades regio<strong>na</strong>is, passa necessariamente pelo exame de como elas articulam-se à<br />

construção de identidades <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is, globais, trans<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is etc. Em meados do século XIX,<br />

quando o termo folclore é criado 53 , a modernização capitalista encontrava-se a todo vapor e os<br />

intelectuais que se dispunham a estudar as manifestações populares não pensavam em “voltar<br />

ao passado” como os românticos. Sob influências do projeto iluminista, acreditava-se que o<br />

domínio científico da <strong>na</strong>tureza permitiria uma liberdade nunca antes experimentada. Porém,<br />

53 Segundo Ortiz (1985), o termo folklore – folk (povo), lore (saber) – foi criado pelo arqueólogo inglês Willian<br />

John Thoms em 1846 e adotado com poucas adaptações por grande parte das línguas européias, chegando ao<br />

Brasil com a grafia pouco alterada: folclore. O termo identificava o saber tradicio<strong>na</strong>l preservado pela transmissão<br />

oral entre os camponeses e substituía outros que eram utilizados com o mesmo objetivo – “antigüidades<br />

populares”, “literatura popular”. Contudo, a idéia de identificar <strong>na</strong>s tradições populares uma sabedoria não era<br />

nova quando a palavra folclore foi criada. De acordo com o autor, os intelectuais românticos valorizaram de<br />

forma positiva a cultura popular em um momento em que a repressão sobre ela se intensificou – fi<strong>na</strong>l do século<br />

XVIII e início do século XIX. Esses estudiosos, que tinham grande curiosidade com relação ao que era<br />

“bizarro”, “estranho”, dedicaram-se a esse tema, responsabilizando-se pela fabricação de um popular ingênuo,<br />

anônimo, espelho da alma <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. Os folcloristas deram continuidade a esse ponto de vista, buscando no<br />

positivismo emergente um modelo para interpretá-lo. Entre esses românticos estão os alemães Jacob e Wilhelm<br />

Grimm que, impulsio<strong>na</strong>dos em grande parte pelo interesse <strong>na</strong>s tradições populares despertado pelo movimento<br />

romântico <strong>na</strong>quele país e pelo contexto de grandes transformações do qual faziam parte, i<strong>na</strong>uguraram uma coleta<br />

de contos pelo contato direto com os camponeses, indicando inclusive o local onde a história havia sido ouvida.<br />

Esses estudiosos alemães e o método utilizado por eles <strong>na</strong> coleta das tradições populares tiveram grande<br />

influência sobre os primeiros folcloristas brasileiros.<br />

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