17.04.2013 Views

MÚSICA DE FESTIVAL: - Arte, Cultura e Sociedade na América ...

MÚSICA DE FESTIVAL: - Arte, Cultura e Sociedade na América ...

MÚSICA DE FESTIVAL: - Arte, Cultura e Sociedade na América ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

longo do tempo, como locus de inúmeras e instigantes polêmicas. Um dos debates centrais é a<br />

maneira como se produzem as interpretações antropológicas e como estas se tor<strong>na</strong>m<br />

hegemônicas. Além disso, questio<strong>na</strong>-se o regime contemporâneo do “eu”, configurado no<br />

quase-perso<strong>na</strong>gem do antropólogo, em suas possibilidades e limitações ao escrever a cultura.<br />

A compreensão da etnografia como gênero, texto, <strong>na</strong>rrativa, alegoria, enfim, como verdade<br />

parcial, coloca a noção de cultura como um “produto de inscrição”, <strong>na</strong>s palavras de Clifford<br />

Geertz, e aproxima, embora não subsuma, o campo da crítica cultural ao da crítica literária.<br />

Anthropology as a <strong>Cultura</strong>l Critique (1986) 110 , um dos livros de cabeceira <strong>na</strong><br />

discussão sobre a crise das representações etnográficas a partir dos anos 1980, problematiza a<br />

etnografia enquanto “representação transparente”. Voltar o olhar para a etnografia enquanto<br />

representação significa, sobretudo, entender a importância da retórica nesses textos, atentando<br />

para a ironia das formas de conhecimento. George Marcus e Michael Fischer entendem a idéia<br />

de crítica cultural a partir da situação onde os antropólogos voltam-se para sua própria<br />

sociedade e constroem uma espécie de autocrítica; as <strong>na</strong>rrativas podem, dessa maneira,<br />

incorporar o “estranhamento” das sociedades dos antropólogos, isto é, <strong>na</strong>s pontas de um<br />

triângulo estariam o antropólogo, sua pesquisa e o other, sempre problemático. Assim, o texto<br />

revela-se cultural critique, <strong>na</strong> medida em que o estranhamento é produzido a partir do abroad<br />

etnográfico. Nesse sentido, a maneira de construção do texto etnográfico é também um modo<br />

discursivo da antropologia. As múltiplas dimensões do texto remetem a maneiras específicas<br />

de representação da cultura como um acesso estratégico e a<strong>na</strong>lítico de outras sociedades.<br />

As famosas descrições das culturas não estão longe de serem problematizadas: de<br />

acordo com James Clifford (2002), a Antropologia Social do século XX passa<br />

necessariamente pela construção de uma representação plausível em uma realidade ambígua,<br />

multifocal, onde a representação é em si mesma intercultural. Clifford descreve a etnografia<br />

como “performance e alegoria”, no sentido de entendê-la como “performance com enredo<br />

estruturado através de histórias poderosas”. (CLIFFORD, 2002:63) Ainda nesse sentido, a<br />

consciência de que a retórica utilizada em nossas etnografias provém de escolhas origi<strong>na</strong>das<br />

no e com o campo – a escrita etnográfica não se limita a gabinete, computador, dados<br />

espalhados sobre a mesa –, insere a problemática da performance etnográfica pontuada por<br />

Stephen Tyler no artigo “Post-Modern Ethnography: From Document of the Occult to Occult<br />

110 MARCUS, George e FISCHER, Michael. Anthropology as a <strong>Cultura</strong>l Critique. Chicago: The University of<br />

Chicago Press, 1986.<br />

98

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!