MÚSICA DE FESTIVAL: - Arte, Cultura e Sociedade na América ...
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em cada obra, por exemplo. Foi então que decidi problematizar uma categoria que tive acesso<br />
pela primeira vez em maio de 2008, durante a 16 a Sapecada da Canção Nativa: os cataúchos.<br />
Devo dizer que tal decisão deve-se também a uma conversa com um ator de um grupo de<br />
teatro da cidade, Gilson Maximo - também pesquisador dos costumes da região serra<strong>na</strong> -, que<br />
ao ler meu projeto de pesquisa - disponível no site do núcleo de estudos do qual faço parte <strong>na</strong><br />
Universidade Federal de Santa Catari<strong>na</strong>, o Núcleo de Estudos <strong>Arte</strong>, <strong>Cultura</strong> e <strong>Sociedade</strong> <strong>na</strong><br />
<strong>América</strong> Lati<strong>na</strong> e Caribe (MUSA) – questionou a utilização do termo cataúcho, dizendo- me<br />
ser pejorativo e uma denomi<strong>na</strong>ção vinda “de fora”, e não dos próprios lageanos. Embora eu<br />
aceitasse sua opinião e até concordasse que poderia estar equivocada, lembrei que a situação<br />
em que o termo me foi revelado era bastante paradigmática: um importante festival de música<br />
<strong>na</strong>tivista, realizado em Santa Catari<strong>na</strong>, e não no Rio Grande do Sul, estado que concentra a<br />
maior parte desses eventos.<br />
Ainda assim, precisaria levar em conta aquela conversa com Máximo, até porque eu<br />
não tinha dúvidas de que se tratava de um termo bastante parcial e eu jamais poderia pensar<br />
que fizesse parte imprescindível do cotidiano dos moradores da cidade. Pareceu-me, contudo,<br />
uma boa chave de pesquisa com relação à dinâmica do festival e das composições que nele<br />
concorrem. Ao acompanhar blogs e sites da internet sobre o festival, pude perceber algumas<br />
discussões quanto ao fato de o evento estar ou não fechando as portas aos sul-rio-grandenses;<br />
se os jurados deveriam vir de fora ou ape<strong>na</strong>s de Santa Catari<strong>na</strong> 24 . Nesse sentido, a categoria<br />
cataúcho - antes de representar um adjetivo generalizante - merece atenção principalmente<br />
devido às questões que suscita. E é nesse cenário também, que se constroem outras<br />
categorias, tais como a do serrano 25 . Acredito que assim como cataúcho seja uma categoria<br />
parcial - oriunda de determi<strong>na</strong>do contexto - serrano também o é. E a música <strong>na</strong>tivista,<br />
protagonista dos processos que a<strong>na</strong>liso, é o ponto de referência dos caminhos que a pesquisa<br />
percorreu.<br />
Uma característica das composições <strong>na</strong>tivistas é a valorização de aspectos telúricos,<br />
histórias sobre a cidade (ou a “terra” do compositor) e seus habitantes. E essa característica<br />
não se remete ape<strong>na</strong>s ao conteúdo das letras das canções, mas a uma concepção dos gêneros<br />
musicais como parte da cultura musical de cada região geográfica. Assim, a serra catarinense<br />
apresentaria alguns gêneros musicais considerados mais “<strong>na</strong>tivos” do que outros 26 . Nesse<br />
24 Informações obtidas no blog: www.quartoderonda.blogspot.com.<br />
25 A categoria “serrano” é uma construção alicerçada, principalmente, por órgãos públicos e agências de turismo,<br />
a partir da região geográfica onde está localizada a cidade de Lages, a “serra catarinense”.<br />
26 Essa questão será retomada no capítulo 4, através dos dados etnográficos sobre a produção de música <strong>na</strong>tivista<br />
em Lages-SC.<br />
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