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MÚSICA DE FESTIVAL: - Arte, Cultura e Sociedade na América ...

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de música. “Monumentalidade” e “progresso” são, aqui, conquistas de uma inteligibilidade<br />

que retira a música do território do sensível. Com este movimento, trata esta música de definir<br />

a sensibilidade do Ocidente como algo “trabalhado”. Seu segundo movimento, cumulativo do<br />

primeiro, estabelece esta conquista inteligível como novo ponto de partida: num supremo tipo<br />

de sensibilidade, da “alma”, onde interioridade e universalidade se manifestem. Para o autor,<br />

operando em dois movimentos cumulativos, a Música Ocidental produz, de um lado, a<br />

distinção “nós/outros”, e de outro, a elaboração da “ocidentalidade européia”.<br />

A partir desse panorama bastante paradigmático para o estudo da música,<br />

principalmente a música dita “não ocidental”, muitos trabalhos etnomusicológicos posteriores<br />

tentaram desconstruir essa visão etnocêntrica e desenvolver propostas alter<strong>na</strong>tivas. Da<br />

primeira definição de Allan Merriam, onde a Etnomusicologia seria “o estudo da música <strong>na</strong><br />

cultura” até sua redefinição pelo mesmo autor como “o estudo da música como cultura”, tem-<br />

se um novo parâmetro para a Etnomusicologia, que buscaria a<strong>na</strong>lisar a música não ape<strong>na</strong>s<br />

como artefato, mas como processo. É o caso de Anthony Seeger (1987) que propõe uma<br />

“antropologia musical”, tentando superar a dicotomia entre o estudo da música e o estudo da<br />

sociedade. Na análise que faz dos Suyá, Seeger demonstra que por meio da performance<br />

musical, aspectos fundamentais da organização social são reconhecidos, sendo a música,<br />

portanto, parte da construção e interpretação de processos sociais. Nessa linha também Steven<br />

Feld (1990) ambicio<strong>na</strong> um estudo etnográfico do som como um “sistema cultural”, isto é, “um<br />

sistema de símbolos”, que compreende regras, códigos, modos diversos da comunicação<br />

sonora, onde o “ethos” e o “modo de vida” deixam-se transparecer. (FELD, 1990:3) O<br />

trabalho de Feld sobre os Kaluli reflete a noção de estética como elemento de diálogo entre o<br />

pesquisador e os sujeitos de sua pesquisa. Nesse sentido, questio<strong>na</strong> a maneira como as<br />

abordagens etnográficas comumente entenderam as formas expressivas, desvinculadas de um<br />

sentido propriamente estético, associando-as a “funções” ou “estruturas”.<br />

Com relação à discussão no interior da Musicologia, John Shepherd (1991) a<strong>na</strong>lisa que<br />

as dimensões sociológicas trouxeram desafios à teoria e à análise musical, sendo que os<br />

teóricos tradicio<strong>na</strong>lmente restringiram sua atenção para assuntos que pudessem ser<br />

representados “visualmente”. Isto é, a análise de dados visuais, como partituras, parecia<br />

satisfazer os compromissos positivistas da Musicologia nos anos 1950 e 1960, por exemplo.<br />

Após a Segunda Guerra Mundial, constituíram-se alguns dos paradigmas mais importantes da<br />

Musicologia, representados, sobretudo, pela necessidade de relacio<strong>na</strong>rem-se questões acerca<br />

dos “contextos” (musicologia histórica) e dos “textos” (análises de teoria musical). No debate<br />

apresentado por Shepherd - entre teóricos como Claude V. Palisca, Arthur Mendel e Joseph<br />

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