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MÚSICA DE FESTIVAL: - Arte, Cultura e Sociedade na América ...

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apesar de ser um momento em que se busca enfatizar “valores populares”, “tradições locais”,<br />

há também que se levar em conta a maneira como essas ênfases se articulam a interesses mais<br />

amplos, estatais e privados, com relação ao turismo e ao mercado do lazer. Como mostrou o<br />

trabalho de <strong>América</strong> Larraín (2008) com relação ao Festival de Dança de Joinville, os<br />

festivais são eventos muitas vezes entendidos como “vitrines” das cidades em que estão<br />

localizados. Dotam de sentido e di<strong>na</strong>mizam as ficções que constituem sua população, além de<br />

envolver fi<strong>na</strong>nciamentos por parte de patroci<strong>na</strong>dores interessados em promover os produtos<br />

de suas empresas em um evento altamente lucrativo.<br />

De acordo com Lucas (1990), a literatura antropológica, de uma maneira geral, tem<br />

enfatizado o caráter de “inversões simbólicas” desses eventos. No caso brasileiro, a análise<br />

dos eventos festivos tem priorizado a perspectiva da construção de um espaço crítico, capaz<br />

de condensar, ilumi<strong>na</strong>r e desnudar situações-chave que colocam em causa o estado das coisas<br />

do social. Para Roberto DaMatta (1998) as festividades, principalmente as festas populares,<br />

encar<strong>na</strong>m o “drama” em que se inverte o mundo. Nesse sentido, no Brasil, as festas populares,<br />

as comemorações cívicas e as solenidades religiosas formam um claro “sistema” ou um<br />

“triângulo ritual” 100 . Na combi<strong>na</strong>ção entre tradição e modernidade, o sistema de festas<br />

brasileiro implicaria uma inversão dos papéis sociais, possível, ao menos, no plano<br />

simbólico 101 , onde uma “visão relacio<strong>na</strong>l” do mundo apareceria enquanto alter<strong>na</strong>tiva a uma<br />

modernidade hegemonicamente marcada pelo individualismo e pela noção burguesa de<br />

igualdade perante a lei. (DAMATTA, 1998: 76).<br />

No clássico Car<strong>na</strong>vais, Malandros e Heróis (1979), DaMatta dialoga com<br />

perspectivas referenciais nos estudos sobre a sociedade brasileira, assumindo um ponto de<br />

vista diferenciado. De acordo com Lívia Barbosa (2000), é <strong>na</strong> intenção de interpretar o Brasil<br />

através da dialética de seus processos hierárquicos e igualitários, que o livro de DaMatta<br />

inova e instaura um “E” bastante importante. Isto é: tendo em mente o contexto intelectual e<br />

moral em que a primeira edição do livro é lançada – a luta intelectual que colocava marxistas<br />

e não-marxistas em choque, preponderando uma visão pessimista sobre a sociedade brasileira<br />

– o enfoque sobre as “ênfases, mediações, zo<strong>na</strong>s de encontro e complementaridades entre<br />

sócio-lógicas que se combi<strong>na</strong>m e recombi<strong>na</strong>m para orde<strong>na</strong>r o mundo” fez com que a<br />

100<br />

De acordo com DaMatta (1997), a noção de “triângulo ritual” se refere aos três momentos festivos mais<br />

importantes no Brasil, devido ao seu caráter de rituais <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is: a Sema<strong>na</strong> da Pátria, a Sema<strong>na</strong> Santa e o<br />

Car<strong>na</strong>val. Segundo o autor, essas três sema<strong>na</strong>s festivas constituem um “triângulo ritual” <strong>na</strong> medida em que são<br />

festividades controladas pelo Estado Nacio<strong>na</strong>l, pela Igreja e pela sociedade civil desorganizada. Assim, cada<br />

momento festivo e extraordinário corresponde a um grupo ou categoria social, que ocupa um lugar definido –<br />

“sua hora e sua vez” – no quadro da vida social <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. (DAMATTA, 1997: 53)<br />

101<br />

Para uma crítica a esta perspectiva de DaMatta ver: QUEIROZ, Maria Isaura P. de. Car<strong>na</strong>val Brasileiro: o<br />

vivido e o mito. São Paulo, Brasiliense: 1992.<br />

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