17.04.2013 Views

MÚSICA DE FESTIVAL: - Arte, Cultura e Sociedade na América ...

MÚSICA DE FESTIVAL: - Arte, Cultura e Sociedade na América ...

MÚSICA DE FESTIVAL: - Arte, Cultura e Sociedade na América ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Marcante [...] foi a presença do ritmo milonga entre os cantadores de galpão,<br />

em praticamente todos os municípios fronteiriços desde Itaqui, <strong>na</strong> fronteira<br />

com a Argenti<strong>na</strong>, até Jaguarão, <strong>na</strong> fronteira com o Uruguai. [...] A milonga<br />

galponeira pode ser considerada uma expressão realmente folclórica tanto da<br />

Argenti<strong>na</strong> como do Uruguai e do Rio Grande do Sul. (BARBOSA LESSA;<br />

PAIXÃO CÔRTES, 1975: 141)<br />

Assim, as calorosas discussões a respeito da “aculturação” (termo utilizado pelo<br />

regulamento do festival Califórnia da Canção Nativa) promovida pelo chamamé não chegam<br />

à milonga, gênero que mais prosperou nos festivais <strong>na</strong>tivistas. Em conversas com<br />

compositores de música <strong>na</strong>tivista, descobri ser uma prática comum a invenção de nomes<br />

diferentes para um mesmo gênero, com o intuito de burlar os regulamentos de festivais. Nesse<br />

sentido, surgiram nomes como “compasso taipeiro”, “cantiga de ronda”, “canção<br />

missioneira”, entre outros, substituindo chamamés 85 . Segundo os compositores, tratavam-se<br />

ainda de chamamés, embora com um nome diferente. Em um depoimento concedido a<br />

Henrique Mann (2002) o compositor Luís Carlos Borges 86 discute a proibição do chamamé<br />

pela Califórnia da Canção Nativa:<br />

“A aceitação de ritmos no RS é morosa. Há anos se debate a aceitação do<br />

chamamé <strong>na</strong> Califórnia da Canção. É uma enrascada para a Califórnia,<br />

porque vários chamamés já ganharam este festival, inscritos como<br />

rancheira [...] Ora, me criei tocando chamamé em baile e acho que a maior<br />

prova de aculturação do gênero é a aceitação popular e não o canetaço de<br />

um gabinete (...)” (Luís Carlos Borges, depoimentos citado em MANN,<br />

2002: 112)<br />

Para tentar compreender melhor de que maneira a milonga e o chamamé caem no<br />

gosto dos compositores <strong>na</strong>tivistas de forma tão contraditória – isto é, enfrentando<br />

adversidades, no caso do chamamé, ou sendo privilegiados, no caso da milonga – passemos a<br />

a<strong>na</strong>lisá-los mais profundamente.<br />

De acordo com Jorge Cardoso (2006), as referências documentais sobre a milonga<br />

sugerem que sua aparição se deu a partir da segunda metade do século XIX, <strong>na</strong> região<br />

pampia<strong>na</strong> da Argenti<strong>na</strong> 87 , irradiando-se rapidamente para outras regiões do país e também<br />

85 Esta prática é muito interessante e aponta para o fato importante - inicialmente levantado por Todorov (1972) -<br />

, de que um gênero não é simplesmente um rótulo, podendo, por outro lado, haver gêneros sem rótulo.<br />

86 De acordo com Lucas (2003), com uma visão bastante crítica às restrições promovidas pelos festivais<br />

<strong>na</strong>tivistas no RS, Luís Carlos Borges decide criar o festival Musicanto Sul Americano de Nativismo, em 1983,<br />

<strong>na</strong> cidade de Santa Rosa-RS. Segundo Borges, o intuito do festival era o de promover a integração dos povos do<br />

sul da <strong>América</strong> através da música. (Lucas, 2003: 66)<br />

87 Sobre a origem remota da milonga, o musicólogo argentino Carlos Vega teria afastado a idéia de que ela tenha<br />

sido inventada <strong>na</strong> segunda metade do século XIX, mas que, nesse período, fora assim batizada. Nesse sentido,<br />

sustenta a hipótese de que poderia ter existido anteriormente, mas com outra denomi<strong>na</strong>ção. (VEGA apud<br />

OLIVEIRA; VERONA, 2004: 104).<br />

78

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!