MÚSICA DE FESTIVAL: - Arte, Cultura e Sociedade na América ...
MÚSICA DE FESTIVAL: - Arte, Cultura e Sociedade na América ...
MÚSICA DE FESTIVAL: - Arte, Cultura e Sociedade na América ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
- como também passou a representar um gênero musical mais “intimista”, em oposição a<br />
gêneros “alegres” como a vaneira e o bugio. Nesse processo, alguns padrões harmônicos<br />
foram conformando-se à dinâmica das composições <strong>na</strong>tivistas. Os tons menores (considerados<br />
intimistas) são quase que sumariamente descartados em vaneiras, bugios e chamarras;<br />
enquanto que tons maiores (alegres) aparecem em milongas 97 .<br />
Ao enfocar um momento da história de Lages, o compositor da música citada elege a<br />
milonga dentre outros gêneros 98 . Entre os critérios utilizados pela comissão julgadora para<br />
avaliar as composições, está o da “adequação temática”; isto é, adequação do conteúdo<br />
literário da canção ao gênero musical. O depoimento de um compositor <strong>na</strong>tivista, também<br />
jurado de festivais, é bastante interessante nesse aspecto:<br />
“[...] É o que aconteceu aqui, por exemplo, com aquela música que falava<br />
do Correia Pinto, <strong>na</strong> última ou penúltima Sapecada. Falava do Correia<br />
Pinto, e era uma chacarera! Ela ganhou o melhor tema da região<br />
serra<strong>na</strong>,coisa e tal, e aí você fica pensando que o melhor tema, é o tema<br />
como um todo, o tema não é letra, o tema é esse todo, é você conseguir, <strong>na</strong><br />
melodia, no arranjo, adequar a letra. Isso é uma coisa que a gente cuidava<br />
muito: o melhor tema. Mas tema não é letra, às vezes o tema nem precisa de<br />
letra [...] De repente, o melhor tema da região serra<strong>na</strong> era uma chacarera,<br />
e o que é que chacarera tem a ver com a região serra<strong>na</strong>? Eu inclusive<br />
jamais colocaria uma chacarera em cima de uma letra daquela. É uma letra<br />
que pedia uma moda de viola, uma coisa tropeira [...] daí você fica<br />
pensando: Ta! Licença poética [...].” (Bada Castro, entrevista realizada em<br />
fevereiro de 2009, em Lages-SC)<br />
A escolha de uma milonga ou de uma chacarera está ancorada em percepções de<br />
mundo – e, obviamente, musicais - que, de certa forma, foram padronizadas pela dinâmica<br />
dos festivais. Não quero dizer com isso que não existam exceções. Porém, compreender os<br />
processos de composição das canções <strong>na</strong>tivistas requer um olhar cuidadoso sobre a<br />
organização dos festivais enquanto competições musicais e momentos em que valores<br />
bastante específicos entram em ce<strong>na</strong>. Além disso, tais competições se configuraram, ao longo<br />
do tempo, em momentos bastante significativos para as cidades que as sediam. É importante<br />
mencio<strong>na</strong>r que o festival a<strong>na</strong>lisado em minha etnografia, estando inserido em uma festa de<br />
grande porte como é a Festa Nacio<strong>na</strong>l do Pinhão 99 , assume características peculiares. Isto é,<br />
97<br />
A discussão sobre as considerações <strong>na</strong>tivas a respeito dos modos “menor” e “maior” será retomada com maior<br />
profundidade no capítulo 4.<br />
98<br />
No capítulo seguinte tratarei mais detalhadamente do processo de composição. É comum existirem canções<br />
onde o autor da letra, o poeta <strong>na</strong>tivista, envia a letra a um compositor que escolherá o gênero e irá arranjá-la de<br />
acordo com suas preferências.<br />
99<br />
Segundo dados divulgados pela organização da festa no site www.festadopinhao.com, em 2008 o evento<br />
contabilizou um público de 284.805 pessoas em dez dias de festa.<br />
88