MÚSICA DE FESTIVAL: - Arte, Cultura e Sociedade na América ...
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da dissertação, o conceito de gênero musical será utilizado a<strong>na</strong>liticamente, ao passo que o<br />
conceito de ritmo será contextualizado etnograficamente.<br />
Uma das propostas iniciais da dissertação é que a produção de música <strong>na</strong>tivista seja<br />
compreendida dentro de uma problemática mais ampla a respeito do estudo da música através<br />
da perspectiva antropológica. Em primeiro lugar, é preciso salientar a importância da<br />
constituição do campo da Etnomusicologia dentro de um contexto em que as abordagens tanto<br />
da Musicologia quanto da Antropologia são invocadas. Nos anos 1960, Allan Merriam<br />
publica o livro The Anthropology of Music (1964), onde sistematiza o que entende pelo<br />
“dilema etnomusicológico”, muito influenciado pelas discussões a respeito do conceito de<br />
cultura <strong>na</strong> antropologia norte-america<strong>na</strong>. Para Merriam, o dilema encontra-se <strong>na</strong> análise da<br />
música como constituída por dois planos de abordagem: o dos sons (ou música,<br />
propriamente), e o dos comportamentos (representando a cultura). Tal dilema, exposto <strong>na</strong><br />
intenção interdiscipli<strong>na</strong>r da etnomusicologia de Merriam, deve ser a<strong>na</strong>lisado à luz das<br />
discussões anteriores, <strong>na</strong> virada do século, quando a Musicologia Comparada da Escola de<br />
Berlim - sob influências da Etnologia, da Musicologia Histórica e da Psicologia – desenvolve-<br />
se a partir das teorias evolucionistas e difusionistas aplicadas ao estudo da música. Segundo<br />
Menezes Bastos (1995), a constituição do campo etnomusicológico pode ser a<strong>na</strong>lisada através<br />
do descompasso entre a intenção e a efetivação de seu projeto discipli<strong>na</strong>r, considerado pelo<br />
autor como uma característica típica de qualquer ciência. Num primeiro momento - enquanto<br />
Musicologia Comparada - o campo se estrutura a partir das idéias de comparação e<br />
classificação de Guido Adler (ADLER apud MENEZES BASTOS, 1995). Comparação leia-<br />
se, da “produção to<strong>na</strong>l” 1 com um propósito etnográfico, e de classificação (no estudo da<br />
“concretude material-sonora” desta produção). Para Menezes Bastos, o par de categorias<br />
proposto pela Musicologia Comparada de Adler seria “biface”. Isto é, por um lado, ele<br />
constrói uma Antropologia, e por outro, uma Musicologia, constituídas pelo objeto dos<br />
discursos “voco-sonoros humanos”. (MENEZES BASTOS, 1995: 16) Mas assim, como<br />
entender a especificidade dos cantos folclóricos dos diferentes povos, países e territórios?<br />
Menezes Bastos a<strong>na</strong>lisa que a Musicologia Comparada (através da passagem de “produção<br />
to<strong>na</strong>l” a “cântico folclórico”) constitui-se como uma “Etno-(musico)-logia” <strong>na</strong> construção do<br />
binômio nós/outros. A partir de Kunst (Apud Menezes Bastos, 1995), setenta anos após a<br />
1 De acordo com Menezes Bastos, a categoria “produção to<strong>na</strong>l” - conforme Adler - refere-se ao universo, em<br />
geral, dos discursos voco-sonoros humanos, incluindo a música e a própria fala, esta última tipicamente – mas<br />
não só - através do canto. A organização básica do sistema to<strong>na</strong>l no mundo ocidental considera uma nota de<br />
referência (a tônica) ocupando o centro dos acontecimentos, enquanto um número finito de outras notas ou graus<br />
gravitam em torno dela. De acordo com Ernst F. Schurmann (1989), o processo que conduziu ao estabelecimento<br />
do sistema to<strong>na</strong>l teve início por volta de 1600.<br />
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