MÚSICA DE FESTIVAL: - Arte, Cultura e Sociedade na América ...
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perspectiva de DaMatta representasse uma nova forma de falar sobre o Brasil, ou do que faz o<br />
brasil, Brasil! (Barbosa, 2000: 49) Nesse sentido, DaMatta contribui para a análise<br />
antropológica no Brasil de maneira fundamental: realiza uma mediação entre as vertentes que<br />
apreendiam o Brasil através dos macroprocessos sociais, privilegiando suas organizações<br />
institucio<strong>na</strong>is , e a vertente culturalista, focalizada <strong>na</strong>s relações sociais, raciais e cotidia<strong>na</strong>s da<br />
sociedade brasileira 102 . No entanto, em um balanço crítico a respeito dos estudos sobre<br />
festividades brasileiras, Rita de Cássia Amaral (1998) adverte que além dos aspectos<br />
simbólicos e concretos (em termos de estrutura social e econômica), existem ainda outras<br />
dimensões relevantes, como a organização política local e a construção de “modelos de ação”<br />
que, não sendo totalmente inovadores, têm sido atualizados <strong>na</strong> forma de incentivo do Estado<br />
ao turismo. (AMARAL, 1998: 112). De acordo com a autora, se esta atitude produz, por um<br />
lado, a transformação das festas em produtos rentáveis, também recebe como resposta popular<br />
o aproveitamento de certas iniciativas da Igreja e do Estado: a festa também é o espaço onde a<br />
sociedade se reconhece e escreve sua história tal como ela a compreende.<br />
Segundo Sérgio Alves Teixeira (1988), as festas apresentam uma preocupação ímpar<br />
com o auto-destaque das cidades em que acontecem, fazendo com que não se tratem de festas<br />
<strong>na</strong>s cidades, mas das cidades. Neste processo, o autor avalia que há uma grande motivação<br />
por parte dos municípios que realizam as festas em assumirem e destacarem suas próprias<br />
origens. No caso de festas ligadas a produtos agrícolas, pesquisadas por Teixeira, cada<br />
município escolhe do elenco de sua produção, para festejar, o que mais lhe convém e,<br />
independente do que seja, o ambiente rural não está em primeiro plano, mas sim o meio<br />
urbano, sede desses eventos.<br />
Como mencio<strong>na</strong> Lucas (1990), os festivais adquiriram uma forma institucio<strong>na</strong>lizada<br />
<strong>na</strong>s sociedades pós-industriais, onde o pesquisador confronta-se com amplas dimensões de<br />
participação. Para Beverly Stoeltje (1992), tais construções moder<strong>na</strong>s encar<strong>na</strong>m, por vezes,<br />
interesses ideológicos, comerciais e políticos que estão <strong>na</strong> base das sociedades que os<br />
produzem, constituindo um momento especial para a observação do diálogo entre diferentes<br />
interpretações das sociedades sobre si mesmas. No Brasil, os anos 1960 foram referenciais<br />
para este tipo de evento, através de competições de música popular organizadas por emissoras<br />
de TV e rádio em São Paulo e no Rio de Janeiro. Segundo Zuza Homem de Mello (2003), a<br />
102 Cavalcanti (2000) também ressalta a contribuição de DaMatta à Antropologia, não ape<strong>na</strong>s no Brasil. A autora<br />
destaca, entre outras contribuições, a importante discussão empreendida por DaMatta com relação às noções de<br />
pessoa e indivíduo (<strong>na</strong> leitura de Marcel Mauss e Louis Dumont), e também com relação à idéia de “totalidade”<br />
<strong>na</strong>s chamadas sociedades complexas (inserindo o ritual como uma chave de leitura para o sistema de festas<br />
brasileiro). (CAVALCANTI, 2000: 155)<br />
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