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MÚSICA DE FESTIVAL: - Arte, Cultura e Sociedade na América ...

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CTG sobre os quesitos avaliados pelo júri: interpretação musical, afi<strong>na</strong>ção, linha melódica,<br />

gestualidade (interpretação física, figurino etc.), e ritmo.<br />

Tal experiência de campo foi bastante valiosa para que, mais tarde, eu pudesse<br />

entender a dinâmica de organização dos festivais <strong>na</strong>tivistas, além da já citada polarização<br />

entre MTG e movimento <strong>na</strong>tivista. Observando os quesitos avaliados pelos jurados, me dei<br />

conta de que um conjunto de normas incorporadas e repetidas há vários anos fazia com que<br />

alguns músicos, inclusive Oliveira, questio<strong>na</strong>ssem sua pertinência e utilidade em tempos<br />

atuais. O principal questio<strong>na</strong>mento estava em não se poder inovar nos aspectos musicais, em<br />

termos de arranjos, instrumentos utilizados, etc. Se questio<strong>na</strong>va, inclusive, a incorporação de<br />

outros gêneros – para além do “repertório base” dos Centros de Tradição Gaúcha - como as<br />

zambas, chamamés e chacareras, vistos com certa cautela, principalmente por serem<br />

considerados ritmos estrangeiros. Para estes músicos, poder executar os ritmos de diferentes<br />

maneiras e com novos elementos, parecia ser a principal carência. No entanto, <strong>na</strong><br />

impossibilidade de inovação de grande impacto, alguns diziam estar, aos poucos,<br />

desenvolvendo um estilo próprio de tocar e compor.<br />

Nesse sentido, as inver<strong>na</strong>das artísticas – departamentos criados dentro dos CTGs e<br />

responsáveis pelas atividades artísticas - e todo o seu mundo de regras, iniciaram<br />

musicalmente grande parte dos compositores e instrumentistas <strong>na</strong>tivistas, impulsio<strong>na</strong>ndo a<br />

constituição de um espaço alter<strong>na</strong>tivo, ou pelo menos fora do contexto dos CTGs e dos bailes<br />

gauchescos: os festivais de música <strong>na</strong>tivista. Em conversas informais com músicos <strong>na</strong>tivistas<br />

descobri que estes espaços alter<strong>na</strong>tivos até existiam - como rodas de violão entre amigos,<br />

churrascadas, peque<strong>na</strong>s apresentações em bares, etc. Mas um espaço institucio<strong>na</strong>lizado para<br />

essa música só passa a existir, de fato, quando os festivais reúnem um número considerável de<br />

pessoas, membros ou não de CTGs, para tocá-la e ouvi-la.<br />

A história da criação do primeiro festival, assim como da criação do primeiro CTG,<br />

recebeu um status de “mito fundador”. Muitos pesquisadores, e me incluo entre eles, puderam<br />

entrar em contato com o idealizador do festival “Califórnia da Canção Nativa”, o poeta e<br />

compositor Colmar Duarte, um senhor simpático e feliz por seu feito de honra. Isto porque<br />

sua história reproduz uma iniciativa corajosa e extremamente justificada aos olhos tanto de<br />

tradicio<strong>na</strong>listas quanto de <strong>na</strong>tivistas, além da imprensa sul-rio-grandense. Despontavam os<br />

agitados anos 1970, e a “era dos festivais” (Zuza Homem de Mello, 2003) fazia sentir seu<br />

peso sobre milhares de espectadores ainda extasiados com o advento televisivo. Também se<br />

observava um Brasil que experimentava uma repressão violenta às liberdades civis e<br />

individuais: a censura implacável da ditadura militar atuava fortemente, enquanto a sociedade<br />

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