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MÚSICA DE FESTIVAL: - Arte, Cultura e Sociedade na América ...

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Ao longo das entrevistas e observações de campo, a questão de como e quando<br />

surgiram poetas e compositores <strong>na</strong>tivistas em Lages tornou-se muito importante. E não ape<strong>na</strong>s<br />

pelo número de vezes em que o assunto foi mencio<strong>na</strong>do, mas por sua capacidade diacrítica,<br />

em demarcar estilos de composição. Nesse contexto, a categoria estilo deve ser compreendida<br />

enquanto uma tendência dos compositores em escolherem determi<strong>na</strong>das temáticas em<br />

detrimento de outras. Assim, existem compositores da linha campeira, da linha de projeção<br />

folclórica e da linha livre 120 . Tais categorias <strong>na</strong>tivas correspondem a tipos ideais, isto é, ao<br />

longo de suas trajetórias individuais, muitos compositores passeiam pelos três estilos, ainda<br />

que sejam reconhecidos por ape<strong>na</strong>s um.<br />

Alguns compositores da cidade relataram “como era difícil, antigamente”, encontrar<br />

um músico <strong>na</strong>tivista <strong>na</strong> região, enquanto que no Rio Grande do Sul existiam muitos. O “como<br />

era difícil, antigamente” estaria ligado ao número restrito de compositores, instrumentistas e<br />

apreciadores das canções <strong>na</strong>tivistas no tempo em que o festival Sapecada da Canção Nativa<br />

ainda não existia. Além da inexistência de um festival <strong>na</strong>tivista <strong>na</strong> cidade, outro argumento<br />

apresentado pelos compositores com relação aos tempos remotos do <strong>na</strong>tivismo em Lages, diz<br />

respeito à falta de outros espaços para a apreciação dessas canções, como bares e casas<br />

notur<strong>na</strong>s 121 . O depoimento do instrumentista e compositor Joacir Borges (conhecido no meio<br />

<strong>na</strong>tivista de Lages como “Vacaria”) revela algumas nuances desse discurso. Em 1989,<br />

voltando a Lages depois de uma temporada em Porto Alegre-RS – quando participou de um<br />

curso de danças gauchescas e acabou se interessando pelos instrumentos de percussão<br />

utilizados <strong>na</strong> música <strong>na</strong>tivista (como o bombo leguero e as boleadeiras) -, Borges decide<br />

“montar” um bar de música <strong>na</strong>tivista:<br />

104<br />

“Voltei para Lages e junto com um amigo de infância, o James Michel<br />

(Cascão), montamos um bar <strong>na</strong>tivista que se chamava Bar e Restaurante<br />

Gaitaço. A nossa idéia era a culinária serra<strong>na</strong> e a música <strong>na</strong>tivista – que <strong>na</strong><br />

época, em Lages, era minoria. Poucas pessoas escutavam e apreciavam esse<br />

tipo de música, mas tinham também os que gostavam e não tinham um lugar<br />

para apreciar essa música. Como o James cantava muito bem e eu tinha<br />

aprendido a tocar percussão, nós começamos a fazer música ao vivo no<br />

nosso bar, tocando as músicas de festivais [...] nossa principal referência<br />

era a Califórnia, a Tertúlia, a Coxilha, a Seara da Canção 122 , esses festivais<br />

antigos, alguns até nem existem mais, infelizmente. Uma vez por mês nós<br />

120 Essas categorias correspondem à classificação utilizada pelo festival Califórnia da Canção Nativa, de<br />

Uruguaia<strong>na</strong>-RS (o primeiro festival <strong>na</strong>tivista). No capítulo 2 explicito o significado de cada uma delas.<br />

121 O exemplo do surgimento de muitos bares <strong>na</strong>tivistas <strong>na</strong> cidade Porto Alegre-RS - principalmente <strong>na</strong> década<br />

de 1980 - era freqüentemente citado pelos interlocutores para si<strong>na</strong>lizar a ausência da produção de música<br />

<strong>na</strong>tivista em Lages.<br />

122 Respectivamente, Califórnia da Canção Nativa (Uruguaia<strong>na</strong>-RS), Tertúlia da Canção Nativa (Santa Maria-<br />

RS, Coxilha da Canção Nativa (Cruz Alta-RS) e Seara da Canção Nativa (inexistente atualmente).

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