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MÚSICA DE FESTIVAL: - Arte, Cultura e Sociedade na América ...

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segundo Campos, é onde se encontra o maior número de Centros de Tradição Gaúcha (CTGs)<br />

em Santa Catari<strong>na</strong>, e a área que teria recebido de modo mais direto a influência da chamada<br />

cultura gaúcha. (Campos, 1999: 62) No entanto, a presença do gauchismo mostrou-se um<br />

fenômeno sócio-cultural complexo que em muito extrapola supostas relações diretas de<br />

vínculos com práticas campeiras ou referências culturais do Rio Grande do Sul 36 . Um<br />

exemplo interessante da recusa do tradicio<strong>na</strong>lismo gaúcho em Santa Catari<strong>na</strong> é o texto de<br />

Teófilo Mattos (1981) 37 para o Boletim da Comissão Catarinense de Folclore, intitulado<br />

“Tradicio<strong>na</strong>lismo Mascarado”. Nesse pequeno artigo, o autor expõe seu imenso<br />

descontentamento com o culto a tradições sul-rio-grandenses <strong>na</strong> região serra<strong>na</strong>, citando o<br />

evento da Revolução Farroupilha que, passando por Lages, teria feito com que Bento<br />

Gonçalves (um dos líderes do movimento) se referisse aos habitantes dos Campos de Lages<br />

como um povo que por sua posição geográfica, seu caráter e seus hábitos, estaria muito<br />

próximo dos habitantes do Rio Grande do Sul. O autor contesta:<br />

41<br />

Não devemos, entretanto, nós os serranos catarinenses, nos<br />

desgarrar das nossas raízes históricas ao cultuar aqueles hábitos e<br />

costumes que nos identificam com o gaúcho riograndense, fugindo<br />

às peculiaridades da nossa tradição regio<strong>na</strong>l. Não devemos fazer,<br />

como vem acontecendo com certos tradicio<strong>na</strong>listas do pla<strong>na</strong>lto<br />

catarinense, que procuram imitar o falar gaúcho dos pampas ou<br />

adotar como nossos, costumes que não nos são peculiares [...].<br />

(MATTOS, 1981: 35)<br />

Para o autor, as “tradições catarinenses” deveriam contemplar aspectos <strong>na</strong>tivos, como<br />

a expressiva presença dos açorianos e dos imigrantes italianos e alemães no estado. É<br />

importante notar que a presença negra e indíge<strong>na</strong> não se enquadra em sua percepção de<br />

aspectos <strong>na</strong>tivos. Sobre tal omissão, Frank Marcon (1999) explora de maneira bastante<br />

interessante a relação entre a invisibilidade da população negra em Lages e o argumento<br />

quantitativo. Segundo o autor, a questão quantitativa dos descendentes de africanos teria sido<br />

comumente assimilada como insignificante e justificada pelos números apresentados em<br />

estudos sobre escravidão <strong>na</strong> região. (MARCON, 1999:49) Além da invisibilidade numérica,<br />

Marcon a<strong>na</strong>lisa que em Lages e em todo o estado de Santa Catari<strong>na</strong>, além da invisibilidade<br />

numérica, outro tipo de representação foi construído: a de que a escravidão aqui teria sido<br />

mais branda, diferente de outras regiões do Brasil. Faz sentido então – ainda que um sentido<br />

36 Segundo Campos, <strong>na</strong>s últimas quatro décadas do século XX, a expansão do MTG atingiu as mais diferentes<br />

regiões do estado, como a cidade de Blume<strong>na</strong>u, onde as referências a uma cultura germânica fazem-se bastante<br />

presentes. (CAMPOS, 1999: 44)<br />

37 Mattos, Teófilo. Tradicio<strong>na</strong>lismo Mascarado. In: Boletim da Comissão Catarinense de Folclore. Florianópolis:<br />

1981, p.35.

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