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MÚSICA DE FESTIVAL: - Arte, Cultura e Sociedade na América ...

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A música <strong>na</strong>tivista pode ser entendida como um conjunto de gêneros específicos de<br />

canção, definidos como tradicio<strong>na</strong>is no Rio Grande do Sul por pesquisadores como Barbosa<br />

Lessa e Paixão Cortes 75 . Por outro lado, também compõem seu repertório, gêneros não<br />

classificados como tradicio<strong>na</strong>is e oriundos de países vizinhos, como a Argenti<strong>na</strong>, o Uruguai e<br />

o Paraguai. Ela se diferencia do que é chamado generalizadamente de “música gauchesca” ou<br />

“música tradicio<strong>na</strong>lista gaúcha”, apesar das muitas semelhanças. Trata-se de um novo estilo<br />

musical que, <strong>na</strong> década de 1980, tornou-se um dos pólos do debate entre tradicio<strong>na</strong>listas e<br />

<strong>na</strong>tivistas. O debate também contou com integrantes de diferentes setores da sociedade, como<br />

jor<strong>na</strong>listas, radialistas, escritores etc. Também representa uma maneira diferenciada de<br />

produção musical, isto é, ainda que gêneros da música tradicio<strong>na</strong>lista gaúcha façam parte do<br />

repertório de composições <strong>na</strong>tivistas, suas intenções musicais - incluindo temática, arranjos,<br />

instrumentação e interpretação - são outras. É preciso notar que não estamos tratando de uma<br />

ruptura, propriamente dita. Os embates entre tradicio<strong>na</strong>listas e <strong>na</strong>tivistas aproximam-se de um<br />

mesmo plano de reivindicações – entre elas, a valorização da chamada cultura gaúcha -,<br />

resultando, então, <strong>na</strong>s diferentes faces (movimentos) do regio<strong>na</strong>lismo sul-rio-grandense.<br />

Antes de adentrarmos em suas especificidades e desdobramentos, julgo necessário<br />

articulá-la ao processo de constituição e seleção dos principais gêneros do repertório<br />

gauchesco e sua relação com o que é conhecido como “música popular brasileira”. Atento<br />

para as construções sociais destes gêneros enquanto representantes de uma musicalidade dita<br />

regio<strong>na</strong>l. Nesse sentido, os valores advogados por tal maneira de ouvir/pensar o mundo<br />

tor<strong>na</strong>m-se fundamentais para entendermos a música <strong>na</strong>tivista produzida atualmente.<br />

Numa a<strong>na</strong>logia com o processo não tão misterioso da transformação do samba em<br />

“música <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l” – a<strong>na</strong>lisado por Hermano Vian<strong>na</strong> (1995) – podemos afirmar que a<br />

constituição do que conhecemos como música tradicio<strong>na</strong>l no Rio Grande do Sul representou<br />

um momento de valorização do “genui<strong>na</strong>mente gaúcho”. Isto é, a busca pela definição de uma<br />

identidade gaúcha a partir do que seria considerado autêntico, origi<strong>na</strong>l, comum. E a a<strong>na</strong>logia<br />

não constitui ape<strong>na</strong>s um artifício de análise. O momento no qual diferentes forças passam a<br />

75 Em sua tese de doutorado, Oliveira (2009) realiza uma diferenciação interessante a respeito dos trabalhos de<br />

“pesquisadores” e “acadêmicos” - como observei com relação às fontes bibliográficas sobre a música<br />

tradicio<strong>na</strong>lista gaúcha e a música <strong>na</strong>tivista. Segundo o autor, tais categorias são diferenciadas <strong>na</strong> medida em que<br />

a pesquisa de campo representa um contexto comum para a emergência de ambas. Nesse sentido, Oliveira chama<br />

de pesquisadores “[...] as pessoas com grande inserção no universo da música sertaneja (como fãs, radialistas,<br />

produtores, músicos) e que pesquisam sua história [...]”. Com relação aos acadêmicos, Oliveira utiliza a seguinte<br />

definição: “[...] refiro-me a pessoas que se aproximam do universo estudado, com o intuito da própria pesquisa,<br />

sendo que tal aproximação é matizada por diversas teorias. Sua autoridade discursiva reside no ‘eu estive lá’,<br />

ficando em segundo plano (sendo até mal visto) o ‘ser de lá’. O trabalho produzido, por sua vez, volta-se para<br />

um lugar específico, a universidade.” (OLIVEIRA, 2009: 253)<br />

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