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MÚSICA DE FESTIVAL: - Arte, Cultura e Sociedade na América ...

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arrebatador do que Pollak chamou de “enquadramento da memória”. A abertura de uma<br />

estrada que viabilizasse a passagem de tropeiros de mula, gado, mantimentos, entre outros - a<br />

partir do século XVIII -, além de contribuir para a ocupação do território, ajudou a constituir e<br />

impulsio<strong>na</strong>r economicamente a recente “Nossa Senhora dos Prazeres das Lagens”. De acordo<br />

com Licurgo Costa, depois da abertura do “Caminho dos Conventos” em 1730, (primeira<br />

estrada construída, ligando o Rio Grande do Sul ao Paraná), o lugar onde mais tarde seria<br />

fundada a póvoa de Lages, passou a ser um dos “pousos” mais comuns de tropeiros que,<br />

freqüentemente, também ali inver<strong>na</strong>vam, isto é, permaneciam alguns meses <strong>na</strong> cidade para a<br />

engorda do gado trazido do sul. A partir da abertura desse caminho, começaram a afluir para<br />

os Campos das Lagens paulistas e lagunenses, fundadores das primeiras fazendas da região.<br />

O tropeirismo tornou-se um forte símbolo da formação da cidade, constituindo um<br />

conjunto de práticas celebradas em momentos festivos, como o aniversário de Lages, a Festa<br />

Nacio<strong>na</strong>l do Pinhão e a Sapecada da Canção Nativa. Desde a maneira de preparação do café<br />

(o café tropeiro) e as atividades artísticas nos acampamentos das tropas (os chamados<br />

“quartos de ronda”) até o temperamento “enérgico” e “austero”, muitos hábitos dos antigos<br />

tropeiros são reconstituídos <strong>na</strong> solidificação dos traços típicos do “ser lageano”. Assim como<br />

cataúcho, surgem serranos, caboclos, bois-de-botas 39 . Isto é, categorias utilizadas para<br />

representar alguns traços de uma perso<strong>na</strong>lidade lagea<strong>na</strong>, ancorados em discursos sobre a<br />

história da cidade e, principalmente, a história de sua formação “tropeira”.<br />

No relato do poeta e compositor lageano Mário Arruda, a relação entre os temas<br />

escolhidos por compositores <strong>na</strong>tivistas e a construção de uma música elaborada:<br />

“[...] A proposta inicial da música <strong>na</strong>tivista é uma abertura. Então teve os<br />

primeiros trabalhos de projeção, onde não necessariamente tinha que ser<br />

uma rancheira, um bugio, uma milonga... podia ser qualquer ritmo da<br />

música gauchesca, e que fosse um trabalho mais elaborado, com base <strong>na</strong><br />

história, contando fatos da história do Rio Grande do Sul e de Santa<br />

Catari<strong>na</strong> [...] Tem a música fandangueira, que é mais pra diversão, pra<br />

entretenimento, caracterizada pelos bailes e fandangos; e a música <strong>na</strong>tivista<br />

é mais para a reflexão, para passar uma mensagem. Podemos compará-la<br />

com a música popular brasileira, ou com a bossa nova, no eixo Rio - São<br />

Paulo... Assim como <strong>na</strong>sceu a bossa nova, surgiu dentro da música gaúcha a<br />

música <strong>na</strong>tivista, que é uma nova leitura dos ritmos e da expressão através<br />

da letra.” (Mário Sérgio Arruda Antunes, entrevista realizada em novembro<br />

de 2008, em Lages-SC)<br />

39 Termos utilizados por moradores da cidade, imprensa escrita e falada, e propagandas do município, para<br />

definir um “povo lageano”. O termo bois-de-botas, particularmente, teria sido utilizado primeiramente pelo<br />

exército farroupilha com relação aos lageanos que combateram ao lado de suas tropas durante o “cerco de<br />

Lages”, <strong>na</strong> Revolução Farroupilha. Os lageanos foram denomi<strong>na</strong>dos bois (por sua força) e de botas (por serem<br />

homens e utilizaram esse tipo de calçado).<br />

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