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MÚSICA DE FESTIVAL: - Arte, Cultura e Sociedade na América ...

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nova, do tropicalismo e da canção de protesto; bem como as transformações tecnológicas<br />

introduzidas no país, como a eletrificação dos instrumentos musicais e a evolução das<br />

aparelhagens de amplificação e difusão sonora. Como aponta Lucas, o movimento da música<br />

<strong>na</strong>tivista no Rio Grande do Sul estaria amarrado a certas condições conjunturais e históricas<br />

do capitalismo no sul do Brasil, uma referência que não deve ser mal interpretada, porque sua<br />

intenção não foi reduzir ou explicar esse movimento somente através da lógica das relações<br />

econômicas. Nesse sentido, a música não foi tomada ape<strong>na</strong>s como uma manifestação, um<br />

sintoma ou ilustração de outros processos sociais, mas como “um fato social total”, que<br />

considera a música popular <strong>na</strong>s sociedades capitalistas como uma área de investigação entre<br />

as diretrizes propostas por Marcel Mauss no sentido de evitar uma dicotomia entre música e<br />

sociedade. (LUCAS, 1990: 40).<br />

É <strong>na</strong> década de 1980, porém, que todo este debate sobre a qualidade musical<br />

introduzida pelos festivais <strong>na</strong>tivistas <strong>na</strong> música gauchesca irá consolidar a polarização entre<br />

tradicio<strong>na</strong>lismo e <strong>na</strong>tivismo, fazendo da identidade gaúcha um importante “móvel de<br />

disputas”. (OLIVEN, 1992: 108) Isso porque, segundo Oliven, apesar dos contrastes entre os<br />

movimentos, havia um substrato comum em jogo: quem teria competência e legitimidade para<br />

afirmar o que é e o que não é cultura gaúcha. De um lado, o tradicio<strong>na</strong>lismo e sua cartilha<br />

bastante consolidada – com regras de composição, figurino e execução; de outro, um<br />

movimento pautado em grandes festivais de música, interessado em inserir o seu formato de<br />

cultura gaúcha em composições musicais de qualidade – com relação às letras (incluindo<br />

temas “politizados”, que falassem do êxodo rural, das questões latino-america<strong>na</strong>s etc.),<br />

arranjos, instrumentistas e intérpretes. A disputa pelo discurso legítimo sobre a cultura gaúcha<br />

passou a constituir o surgimento de novos compositores, assim como novos elementos no<br />

debate entre tradicio<strong>na</strong>listas e <strong>na</strong>tivistas. Considero desnecessário me prolongar <strong>na</strong> afirmação<br />

de que não se tratam de movimentos homogêneos, livres de qualquer cisão inter<strong>na</strong>. Em<br />

conversa com alguns membros de CTGs descobri que há uma grande rivalidade em torno da<br />

diretoria e suas decisões. Alguns chegaram a relatar casos de sabotagem a eventos<br />

promovidos pelo CTG. Nesse sentido, mesmo com a grande centralização das diretrizes do<br />

tradicio<strong>na</strong>lismo promovida pelo MTG, muitos centros adotam medidas convenientes e<br />

discutem constantemente a imposição de normas.<br />

O mesmo ocorre no <strong>na</strong>tivismo. Os festivais - além de competições acirradas por<br />

prêmios altos - representam “uma das are<strong>na</strong>s <strong>na</strong> qual têm se travado de modo mais intenso as<br />

disputas em torno do que significa ser gaúcho”. (OLIVEN, 1992: 116) Para definir quais<br />

composições podem ser inscritas, cada festival organiza um regulamento onde expõe o que<br />

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