MÚSICA DE FESTIVAL: - Arte, Cultura e Sociedade na América ...
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como também é tardia a integração econômica do interior da região sul. Isso só acontece no<br />
fi<strong>na</strong>l do século XVII, quando os rebanhos de gado xucro ganham importância no mercado<br />
interno (antes o interesse era sobre a exportação de couro para a Europa via Buenos Aires e<br />
Sacramento) através do tropeirismo.<br />
Assim, somando-se a certo “isolamento geográfico”, outras representações passaram a<br />
se constituir de acordo com a relação estabelecida com o Estado Nacio<strong>na</strong>l. Com o objetivo de<br />
garantir o domínio luso <strong>na</strong> região do Rio da Prata, a povoação das terras do sul do país<br />
tornou-se uma ação bastante estratégica: é o momento em que, por exemplo, se constituem as<br />
grandes estâncias de gado. 58 As representações oriundas de um processo dramático de guerras<br />
e adversidades <strong>na</strong>turais e econômicas foram responsáveis por um recorte bastante específico<br />
<strong>na</strong> definição de uma identidade sul-rio-grandense e gaúcha. Portanto, apesar da diversidade<br />
inter<strong>na</strong> do estado, um discurso homogeneizador - tanto de folcloristas quanto de historiadores<br />
– reiterado ainda hoje pelos meios de comunicação de massa, agências de turismo e, sem<br />
dúvida pelos movimentos regio<strong>na</strong>listas atuantes no Estado. (OLIVEN, 1992: 50) Assim, tanto<br />
o negro quanto o índio, assim como imigrantes europeus, foram escamoteados da<br />
historiografia e da constituição do habitante “oficial” do estado através de <strong>na</strong>rrativas como a<br />
da “democracia suli<strong>na</strong>” – onde patrões e servidores convivem em ple<strong>na</strong> igualdade e<br />
familiaridade – e da influência “pobre do temperamento indíge<strong>na</strong>”. (OLIVEIRA VIANNA<br />
1974 apud OLIVEN, 1992: 51)<br />
O livro “Nativismo: Um fenômeno social gaúcho”, lançado em 1985 e escrito por Luís<br />
Carlos Barbosa Lessa, traz à to<strong>na</strong> questões importantes para se pensar a construção de uma<br />
identidade regio<strong>na</strong>l que reivindica um caráter de autenticidade e origi<strong>na</strong>lidade. De acordo com<br />
o autor, no fi<strong>na</strong>l da II Guerra Mundial, jovens integrantes do “segmento mais escolarizado” de<br />
Porto Alegre, entre eles o próprio Barbosa Lessa, decidem fundar o “35 – Centro de Tradições<br />
Gaúchas”, composto de 35 membros. Tinha por fi<strong>na</strong>lidade, entre outras, zelar pelas tradições<br />
do Rio Grande do Sul, sua história, suas lendas, canções e costumes e divulgação dos mesmos<br />
nos estados vizinhos. A ata de fundação data de 24 de abril de 1948, e seu maior objetivo,<br />
segundo Barbosa Lessa, não ia muito além de reunir-se à beira do fogo-de-chão e o culto às<br />
tradições “galponeiras” 59 . A idéia era construir um galpão simbólico no centro de Porto<br />
Alegre, onde a tradição pudesse ser mantida através do “contágio mental”, usando os termos<br />
58 A coroa portuguesa, a partir do século XVIII, passa a distribuir sesmarias a tropeiros e militares no RS. Como<br />
aponta Oliven, os conflitos em torno da Colônia do Sacramento e da delimitação de fronteiras foram<br />
responsáveis por uma forte militarização da região, reforçando imaginário heróico e bravil da figura do gaúcho.<br />
(OLIVEN, 1992: 48)<br />
59 Por galponeiras entendem-se as atividades realizadas no interior dos galpões das fazendas (ou estâncias), onde<br />
peões e estancieiros reuniam-se para contar causos, tomar mate e ouvir música à beira do fogo de chão.<br />
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