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MÚSICA DE FESTIVAL: - Arte, Cultura e Sociedade na América ...

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sentido, uma questão que se apresentou de imediato para a pesquisa diz respeito à maneira<br />

com que certos fatos ou peculiaridades da cidade estariam relacio<strong>na</strong>dos com a produção<br />

musical do repertório de músicas <strong>na</strong>tivistas do festival Sapecada da Canção Nativa. Assim,<br />

comecei por investigar os relatos de pesquisadores e cronistas locais e não-locais quanto à<br />

relação entre os “costumes e tradições” da cidade de Lages e os imaginários em torno de sua<br />

formação.<br />

De acordo com o historiador Michael Pollak (1989), numa perspectiva “construtivista”<br />

– ao contrário da argumentação durkheimia<strong>na</strong> com relação à construção de imaginários<br />

sociais -, não se trata mais de lidar com os fatos sociais como coisas, mas de a<strong>na</strong>lisar como os<br />

fatos sociais se tor<strong>na</strong>m coisas, e como e por quem eles são solidificados e dotados de duração<br />

e estabilidade. Nesse sentido, a abordagem privilegiada pelo autor irá se interessar pelos<br />

“processos” e “atores” que intervém no trabalho de contribuição e formalização das<br />

memórias. (POLLAK, 1989: 4)<br />

Outro ponto importante apresentado por Pollak <strong>na</strong> discussão a respeito da idéia de<br />

memória coletiva é o do “enquadramento da memória”. Pollak pergunta: qual a função da<br />

memória? Sua resposta - um tanto durkheimia<strong>na</strong> para sua crítica - é a de manter a coesão<br />

inter<strong>na</strong> e defender as fronteiras daquilo que um grupo tem em comum, incluindo-se o<br />

território (no caso dos Estados Nacio<strong>na</strong>is). Pollak toma de empréstimo a definição<br />

previamente apresentada por Henry Rousso (1985) de que o trabalho de enquadramento da<br />

memória se alimenta do material fornecido pela história. No entanto, tal material precisa de<br />

uma “justificação plausível”, que limita a falsificação pura e simples do passado <strong>na</strong><br />

reconstituição política. Nesse sentido, o trabalho permanente de reinterpretação do passado é<br />

contido por uma exigência de credibilidade que depende da coerência dos discursos<br />

sucessivos. Assim, o trabalho de enquadramento da memória tem seus atores privilegiados:<br />

profissio<strong>na</strong>is da história das diferentes organizações de que são membros, clubes e células de<br />

reflexão. De acordo com o autor, se o controle da memória se estende aqui à escolha de<br />

testemunhas autorizadas, ele é efetuado <strong>na</strong>s organizações mais formais pelo acesso dos<br />

pesquisadores aos arquivos e pelo emprego de “historiadores da casa”. Esta categoria<br />

apresentada por Pollak faz bastante sentido quando colocamos em pauta, por exemplo, a<br />

relação entre o trabalho de pesquisadores ligados a grandes centros de pesquisa,<br />

universidades; e pesquisadores locais, muitas vezes autodidatas, advogados, funcionários<br />

públicos que resolvem pesquisar a história da cidade onde <strong>na</strong>sceram e vivem. Não posso<br />

entrar nos méritos de uma discussão como essa, mas o fato é que grande parte dos livros<br />

encontrados em meu levantamento bibliográfico, mostraram a presença marcante desses<br />

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