MÚSICA DE FESTIVAL: - Arte, Cultura e Sociedade na América ...
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Antônio Augusto Fagundes e Glaucus Saraiva. (SANTI, 2004: 51) Santi aponta também que a<br />
proximidade entre o MTG e o Governo do Estado propiciou um grande incentivo às<br />
atividades ligadas ao tradicio<strong>na</strong>lismo no estado, ocupando uma posição de destaque dentro do<br />
orçamento público desti<strong>na</strong>do à cultura - o que recebeu críticas de outros setores da classe<br />
artística do estado, principalmente com relação ao que chamaram de “culto ao passado”,<br />
promovido pelo MTG.<br />
Com tamanho sucesso e expansão, não é de causar espanto que existam, atualmente,<br />
mais de 2.000 CTGs em território <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, segundo dados apontados por Hermano Vian<strong>na</strong><br />
em um artigo para a Folha de São Paulo em 20 de junho de 1999. Vian<strong>na</strong> discute as diferentes<br />
facetas das construções identitárias do tradicio<strong>na</strong>lismo gaúcho e se mostra surpreso com a<br />
eficácia com que Centros de Tradição Gaúcha se espalham pelos mais longínquos lugares do<br />
país, onde “tor<strong>na</strong>r-se gaúcho é muito mais fácil do que se imagi<strong>na</strong>”. Segundo Vian<strong>na</strong>, como a<br />
carta que regulamenta o Movimento Tradicio<strong>na</strong>lista Gaúcho não define precisamente quem é<br />
gaúcho, então, em princípio, qualquer pessoa pode se associar a um CTG e reivindicar sua<br />
identidade de gaúcho.<br />
O difícil não é ape<strong>na</strong>s saber quem é ou pode ser gaúcho, mas também,<br />
identificando o gaúcho, definir o que vem a ser sua tradição ou o que<br />
tor<strong>na</strong> um gaúcho diferente dos não-gaúchos, ou ainda o que faz um<br />
gaúcho para ser gaúcho. O gaúcho dança danças gaúchas? O gaúcho<br />
veste roupas gaúchas e assim por diante? Mas quem determi<strong>na</strong> o que há<br />
de gaúcho numa roupa, numa dança? Quem diz o que é gaúcho e o que<br />
não é? A carta do MTG? Os manuais de Paixão Côrtes? (VIANNA,<br />
Hermano. Folha de São Paulo, 20/06/1999: 23).<br />
Nesse sentido, o autor aponta para as dificuldades encontradas pelos movimentos<br />
regio<strong>na</strong>listas ao definir tradições e costumes a serem cultuados. Se ser gaúcho não é ter<br />
<strong>na</strong>scido no estado do Rio Grande do Sul, mas ainda assim, é saber sobre sua história e seus<br />
feitos heróicos – como a Revolução Farroupilha – que tipo de referencial identitário é<br />
valorizado quando se houve a frase: “Lages é uma cidade tradicio<strong>na</strong>lista”; ou “Lages é mais<br />
gaúcha que muitas cidades do Rio Grande do Sul”. Foram inúmeras as vezes que ouvi tais<br />
frases em campo, e sempre sentia batendo-me de frente com o forte senso comum que me<br />
acompanhava desde que escolhi estudar a produção de música <strong>na</strong>tivista <strong>na</strong> cidade de Lages.<br />
Mas como não pensar que o grande referencial para o gauchismo, pelo menos no Brasil,<br />
continua sendo o RS? Ainda que alguns acreditem no “estado de espírito” de ser gaúcho, ou<br />
tenham conhecimento da existência do gauchismo em outros países do Cone Sul; tor<strong>na</strong>r-se<br />
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