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MÚSICA DE FESTIVAL: - Arte, Cultura e Sociedade na América ...

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por diferentes sujeitos. Existiria um gaúcho real e um gaúcho inventado? Alguns podem<br />

argumentar que sim: existe um gaúcho inventado. Mas e o real, de que matéria é feito?<br />

Segundo Golin (1983), os grupos responsáveis pelo resgate e celebração destas tradições no<br />

RS, intitularam-se a si próprios como um padrão para esse “homem sul-rio-grandense”,<br />

construindo (ou “invertendo elementos originários”, como sugere o autor) tradições a serem<br />

cultuadas.<br />

Dessa forma, a problemática do elo perdido só existiu enquanto o<br />

tradicio<strong>na</strong>lismo ainda não havia se estabelecido como nova u<strong>na</strong>nimidade.<br />

A crença <strong>na</strong> proporção entre presente e passado foi recuperada pela<br />

cavalgada da universalidade gauchista. Em todas as áreas, do lazer ao<br />

conhecimento, da música às artes plásticas, o ser inventado se impôs<br />

como o ser da coerência histórica. O último resquício tradicio<strong>na</strong>l,<br />

representado pelos campeiros, devido à incultura, acabou por aderir ao<br />

padrão citadino de gaúcho. Em um movimento cultural que como tantos<br />

poderia ser ape<strong>na</strong>s um embuste, os tradicio<strong>na</strong>listas foram além e criaram<br />

uma cultura em cujo epicentro se posicio<strong>na</strong>ram como os herdeiros<br />

protótipos da identidade rio-grandense. (GOLIN, 1983: 122)<br />

Nesse sentido, considero problemático tentar entender os movimentos regio<strong>na</strong>listas<br />

gaúchos a partir, somente, da crítica de que dizem respeito a construções sobre uma figura<br />

mítica, um passado heróico e de lutas pela demarcação de fronteiras. Se estes gaúchos<br />

citadinos reinventam e invertem aquele gaúcho campeiro, origi<strong>na</strong>l, é preciso questio<strong>na</strong>r o que<br />

se entende por origi<strong>na</strong>l e o que se entende por inventado. Isto é, quando passamos a desig<strong>na</strong>r<br />

uma tradição como inventada, parece que estamos pressupondo algo não inventado, algo que<br />

possa ser contrastado com ela. Assim, de onde parte a cultura gaúcha? De uma invenção<br />

iniciada a partir do século XIX? Como aponta Oliven, um tema recorrente da relação entre o<br />

RS e o governo brasileiro é a simultaneidade da ênfase <strong>na</strong>s peculiaridades do estado e da<br />

afirmação de seu pertencimento ao Brasil. Poderíamos acrescentar que essa relação se estende<br />

a um domínio maior do que o representado pelas fronteiras geopolíticas do RS, abrangendo<br />

grande parte da região sul do Brasil 57 . Nesse sentido, a peculiaridade da própria relação é que<br />

parece ter firmado o que hoje entendemos como cultura gaúcha. É ela que evoca identidades,<br />

mitos, facetas, escamoteando outras tantas possíveis. Que se renova em autocríticas e novas<br />

nuances. É <strong>na</strong> própria relação que encontramos uma infinidade de gaúchos que, para além de<br />

sua concretude e pureza, despertam agremiações, CTGs, festivais de música. Segundo Oliven,<br />

um dos aspectos fundantes dessa relação diz respeito ao chamado “isolamento geográfico do<br />

RS”. De fato, o “Continente de São Pedro” fica isolado por dois séculos do Brasil, assim<br />

57 Um exemplo interessante é a expansão e grande popularidade do movimento separatista “O Sul é meu país” no<br />

estado de Santa Catari<strong>na</strong>.<br />

57

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