MÚSICA DE FESTIVAL: - Arte, Cultura e Sociedade na América ...
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“música do povo” - nos Estados Unidos do pós-guerra - era simplesmente impossível,<br />
principalmente devido a dissemi<strong>na</strong>ção da música pelo rádio e o registro através do gramofone.<br />
Assim, as próprias influências musicais de Elvis, eram também “comerciais”.<br />
Através da análise de diferentes <strong>na</strong>rrativas modernistas sobre a música popular,<br />
Charles Hamm (1993) observa que este tipo de música - como a entendemos hoje – seria um<br />
produto da era moder<strong>na</strong>, concebida a partir da revolução industrial até as mais recentes formas<br />
de capitalismo. De acordo com Hamm, o clima intelectual e ideológico da era moder<strong>na</strong><br />
propiciou a construção de <strong>na</strong>rrativas sobre a música popular com características comuns: entre<br />
elas, uma forte tendência em privilegiar alguns gêneros musicais sobre todos os outros, bem<br />
como reforçar um caráter “autônomo” da música. Com relação a esta última característica, o<br />
autor aponta que a “<strong>na</strong>rrativa da autonomia musical” surge a partir do começo da era<br />
moder<strong>na</strong>, quando o mundo ocidental teria produzido a distinção entre a música das classes<br />
altas (referenciando-se aqui a chamada “música erudita”) e a música do povo<br />
(compreendendo tanto a música dita “folclórica”, quanto a música popular). A música erudita<br />
passou a ser considerada universal e eter<strong>na</strong>, enquanto que a música do povo, criada e<br />
transmitida pela tradição oral e geralmente em um ambiente comunitário, foi tratada como<br />
regio<strong>na</strong>l e efêmera.<br />
Assim, no fi<strong>na</strong>l do século XIX, as distinções entre a música erudita - entendida como<br />
intelectual e moralmente superior - e a música popular e folclórica – inculta e inferior - foram<br />
se tor<strong>na</strong>ndo cada vez mais rígidas. De acordo com o autor, implícita nessa <strong>na</strong>rrativa estaria <strong>na</strong><br />
noção de que a música é autônoma, que seu valor reside <strong>na</strong> composição musical em si mesma<br />
e não em sua recepção e uso. (HAMM, 1993: 4) Conseqüentemente, quase toda a literatura<br />
sobre música popular do começo do século XX foi produzida por não-acadêmicos que, à<br />
princípio, pareciam se distanciar do discurso sobre a autonomia musical. No entanto, como<br />
observa Hamm, essa literatura estaria fundamentada <strong>na</strong> suposição de que a música que estava<br />
fora do repertório erudito não era merecedora de atenção quanto a seus aspectos propriamente<br />
musicais. Nesse sentido, os trabalhos sobre música popular acreditavam que o estudo dos<br />
“textos” musicais era mais apropriado a musicólogos e teóricos da música. A literatura sobre<br />
música popular deveria se concentrar sobre a vida dos compositores e instrumentistas e,<br />
principalmente, sobre as letras das canções.<br />
Hamm a<strong>na</strong>lisa que embora o rock e outros gêneros da música popular nos anos 1950 e<br />
1960, tenham produzido uma nova geração de autores, a maioria deles ainda estava<br />
preocupada com a maneira como a música popular refletia os aspectos sociais. Até o<br />
desenvolvimento dos novos meios de comunicação de massa, a elite não havia se preocupado<br />
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