13 - Câmara dos Deputados
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9306 Quarta-feira <strong>13</strong> DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Abril de 1988<br />
e que autoridade possuem os governantes americanos<br />
para acusar alguém de alguma coisa?<br />
Outra acusação, que soa cômica, é a de que<br />
o General Noriega teve participação no assassinato<br />
do General nacionalista Omar Torríjos, como<br />
se o mundo inteiro não soubesse que, sejam<br />
quais forem os participantes diretos ou indiretos<br />
no assassinato de dirigentes políticos progressistas,<br />
os organizadores fundamentais, os responsáveis<br />
e os interessa<strong>dos</strong> históricos nesses crimes<br />
estão sedia<strong>dos</strong> na CIA, no Pentágono, ou seja,<br />
é o imperialismo norte-amencanol<br />
Mas a situação no Panamá se agravou devido<br />
à intervenção indevida e inaceitável <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong><br />
Uni<strong>dos</strong>. Na semana passada houve o desembarque<br />
de mais de 1.300 fuzileiros navais norte-americanos<br />
no Panamá. Depois disso, dois outros navios<br />
de guerra já estão ancora<strong>dos</strong> na Zona do<br />
Canal, sob a argumentação prepotente de que<br />
têm que defender os cidadãos norte-americanos.<br />
Além disso, os fun<strong>dos</strong> panamenhos nos EUAcontinuam<br />
congela<strong>dos</strong>, criando uma dIfícil situação<br />
para o governo panamenho, no sentido do pagamento<br />
<strong>dos</strong> salários e do próprio funcionamento<br />
da economia. Os EUAagem como provocadores!<br />
Diante da campanha de desinformação, que<br />
visa denegrir o Panamá e o seu povo, é importante<br />
discutir junto às forças progressistas de toda a<br />
América Latma as verdadeiras causasque levaram<br />
o govemo <strong>dos</strong> EUAa adotarem essa posição intervencionista.<br />
Sr. Presidente, toda esta crise está<br />
relacionada com a assinatura do Acordo sobre<br />
o Canal do Panamá, em 1977, entre o Presidente<br />
Jimmy Carter e o General Omar Torrijos, pelo<br />
qual os EUA se comprometeram a pagar 70 milhões<br />
de dólares anualmente ao govemo daquele<br />
país centro-americano, e a passar ao Panamá o<br />
controle total do Canal, a partir de 1999. Com<br />
a Revolução Sandinista em 1979, e o avanço da<br />
luta revolucionária em El Salvador, a relação de<br />
forças na região apresentou uma modificação no<br />
sentido desfavorável aos interesses <strong>dos</strong> EUA. Os<br />
conflitos do imperialismo norte-americano com<br />
os govemos latino-americanos têm crescido nos<br />
últimos anos, tendo em vista a linha de arrocho<br />
econômico e comercial imposta contra os países<br />
menos desenvolvi<strong>dos</strong>, inclusive o Brasil. A Invalidação<br />
do Acordo do Canal é um <strong>dos</strong> objetivos<br />
do Pentágono, pois percebe que para conter o<br />
processo de transformações em curso na América<br />
Central, e para melhor aplicar seus planos<br />
:le VIOlência contra a Nicarágua e outros países<br />
,Je venham a adotar posições de independência<br />
frente aos EUA,necessita manter instalações militares<br />
nessa área. Querem ainda evitar que o simples<br />
fato de uma retirada das bases ianques no<br />
Canal apareça, simbólica e historicamente, como<br />
uma derrota do imperialismo frente às massas<br />
latino-americanas, frente ao progresso social de<br />
Cuba, da Nicarágua etc.<br />
Neste sentido, partindo do princípio de que a<br />
pressão, a intervenção americana no Panamá<br />
atinge a to<strong>dos</strong> os países da América Latina, defendemos<br />
que seja organizada uma campanha de<br />
solidariedade ao povo panamenho. Aliás, esta intervenção<br />
mostra muito bem que qualquer política<br />
de submissão ao imperialismo, aos banqueiros<br />
intemacionais, como esta praticada pelo trágico<br />
"feijão com arroz" do Ministro Mailson da Nóbrega,<br />
não pode resultar em progresso para o<br />
Brasil. O progresso da História se dá contra os<br />
interesses americanos que querem conter a roda<br />
da História!!!<br />
Exigimos ainda coerência da política extema<br />
brasileira. Se o governo na ONU vem posicionando-se<br />
em favor <strong>dos</strong> palestinos e contra o sionismo,<br />
contra o apartheid, em defesa de uma<br />
saída política para a crise da América Central,<br />
tudo isso como conquista das forças progressistas,<br />
também é necessário posicionar-se contra<br />
a intervenção <strong>dos</strong> EUAnum país soberano, o Panamá.<br />
Lembramos também aos militares nacionalistas<br />
brasileiros, que a resistência do povo do<br />
Panamá à pressão norte-americana tem como<br />
base o processo nacionalista panamenho dirigida<br />
pelo General Omar Torrijos, cuja morte era do<br />
absoluto interesse <strong>dos</strong> EUA e muito ao seu feitio.<br />
Mas a dignidade do povo panamenho, apesar da<br />
desinformação <strong>dos</strong> meios de comunicação, aparece<br />
clara quando os militares, que têm uma tradição<br />
de luta antiimperialista, conclamam o próprio<br />
povo para a formação de uma Brigada Popular,<br />
com a participação de voluntários, para lutar contra<br />
uma possível intervenção militar <strong>dos</strong> EUA.Esse<br />
é um processo que acabará explodindo contra<br />
os EUA,abrindo uma nova fase da luta antiimperialista<br />
na América Latina. Além disso, o General<br />
Noriega afirmou que o processo de sucessão no<br />
país somente poderá ser consumado através da<br />
realização de eleições diretas para a Presidência<br />
da República e nunca através da intervenção norte-americana,<br />
que, como se sabe, onde intervém<br />
provoca o retrocesso nas liberdades democráticas,<br />
nas conquistas sociais e econômicas de um<br />
povo, como ficou comprovado em Granada.<br />
O Governo brasileiro, se quisesse interpretar<br />
o sentimento progressista e solidário do povo de<br />
nosso País, deveria posicionar-se através <strong>dos</strong> fóruns<br />
apropria<strong>dos</strong> contra a intervenção norte-americana.<br />
Caso essa intervenção seja bem sucedida,<br />
e apenas não o foi em função da resistência panamenha<br />
e da relação mundial de forças quetravam<br />
as mãos assassinas do imperialismo, será desfechado<br />
um golpe contra toda a América Latina.<br />
Depois do Panamá, qual será o próximo alvo?<br />
É importante que seja formado também para o<br />
Panamá, como foi feito para a Nicarágua com<br />
a criação do Grupo de Contadora e do Grupo<br />
de Apoio, um instrumento intemacional dessa<br />
modalidade com a participação de vários países,<br />
com o objetivo de travar os planos militares de<br />
intervenção <strong>dos</strong> EUAno Panamá. Os Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong><br />
não são os donos do mundo! Têm que aprender<br />
definitivamente que a marcha da História vai<br />
no sentido inverso ao <strong>dos</strong> seus interesses. O Vietnã<br />
é uma realidade; a China é outra realidade.<br />
São países que enfrentaram a bárbara agressão<br />
imperialista, venceram, e hoje constroem o seu<br />
futuro superando as barreiras da exploração da<br />
miséria e da ignorância. Aí. está também o exemplo<br />
de Cuba, que superou o analfabetismo, que<br />
mantém sua dignidade, que avança no campo<br />
da saúde, inclusive doando instrumentos computadoriza<strong>dos</strong><br />
de alto nívelao Brasil para a reali, ção<br />
de teste antiAlDS.A solidariedade ao povo panamenho<br />
hoje significa uma posição de defesa da<br />
autonomia da América Latina, que deve procurar<br />
formas novas para o seu desenvolvimento, longe<br />
da submissão aos Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>, seja através<br />
da coordenação <strong>dos</strong> países, da ajuda mútua, seja<br />
através da coordenação com os países socialistas<br />
e progressistas, que são os que objetivamente<br />
querem o progresso <strong>dos</strong> países atrasa<strong>dos</strong>; muito<br />
ao contrário do que os EUA demonstram agora<br />
no Panamá, cuja intervenção tem por objetivo<br />
manter o Panamá no atraso, na pobreza e, através<br />
de uma posição de força, ameaçar e agredir o<br />
conjunto <strong>dos</strong> países latino-americanos.<br />
Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.<br />
o SR. OSCAR coRRt:.A (PFL -<br />
MG. Sem<br />
revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Constituintes,<br />
o não funcionamento da Câmara e do<br />
Senado tem causado, sem sombra de dúvida,<br />
inúmeros prejuízos ao curso normal de nosso<br />
País.<br />
Em 30 de março próximo passado, o Senhor<br />
Presidente da República encaminhou à Câmara<br />
<strong>dos</strong> Deputa<strong>dos</strong> o Projeto de Lein°490, que dispõe<br />
sobre procedimentos para privatização do capital<br />
de empresas estatais.<br />
Não resta dúvida alguma, Sr. Presidente, que<br />
o Brasil de hoje necessita, de algum modo, administrar<br />
a sua dívida intema e extema, e uma das<br />
formas para que isso aconteça seria a democratização<br />
do capital de suas empresas, principalmente<br />
aquelas que estão obtendo resulta<strong>dos</strong> favoráveis.<br />
Sr. Presidente, o Projeto de Lei n- 490, desde<br />
o início, causou a esta Casa a maior estranheza,<br />
ao promover a criação de determinado tipo de<br />
ações, no caso as ações previstas no art. 3°, que<br />
são as conhecidas gold share, que permitem,<br />
possibilitam que empresas nacionais e da mais<br />
alta relevância em nosso País, como é o caso<br />
da Petrobrás, possam, eventualmente, vir a sofrer<br />
a desnacionalização. Para que isso não viesse a<br />
ocorrer - este é um <strong>dos</strong> motivos que me traz<br />
à tribuna-, o Sr. Ministro Aureliano Chaves esteve<br />
ontem com o Senhor Presidente da República,<br />
e, demonstrou a Sua Excelência a inadequação<br />
desse projeto de lei, a sua inconveniência, principalmente<br />
o perigo que representa para os interesses<br />
nacionais e, em especial, para empresas que<br />
exercem o monopólio no Brasil, como a Petrobrás.<br />
O Ministro Aureliano Chaves conseguiu do<br />
Presidente Sarney se providenciasse, junto ao Gabinete<br />
Civil, a retirada desse projeto de lei que<br />
foi encaminhado ao Congresso Nacional, à Câmara<br />
<strong>dos</strong> Deputa<strong>dos</strong>.<br />
Faço este registro, Sr. Presidente, para que esta<br />
Casa tome conhecimento da matéria - o que<br />
não estava acontecendo - e, principalmente, para<br />
chamar a atenção do Brasil, da Constituinte<br />
e do Congresso Nacional, a fím de que fatos como<br />
este não passem despercebi<strong>dos</strong>, em função da<br />
agilização ou da pressa com que estamos procurando<br />
traçar os novos rumos constitucionais do<br />
Brasil. (Muito bem!)<br />
Duranteo discursodo Sr. Constituinte Oscar<br />
Corrêa, o Sr. Jorge Arbage, 2 9-Vice-Presidente,<br />
deixa a cadeira da presidência, que<br />
é ocupadapejo Sr.Mauro Benevides, 1°_Vice<br />
Presidente.<br />
O Sr. Evaldo Gonçalves -<br />
peço a palavra pela ordem.<br />
Sr. Presidente,<br />
O SR. PRESIDENTE (Mauro Benevides) <br />
Tem a palavra o nobre Constituinte.<br />
o SR. EVALDO GONÇALVES (PFL - PB.<br />
Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente,