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13 - Câmara dos Deputados

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9354 Quarta-feira <strong>13</strong> DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NAOONAL CONsmUINTE Abril de 1988<br />

sul, as quais, por sua vez, foram simplesmente<br />

trazidas no hemisfério norte, e os cerra<strong>dos</strong> vêm<br />

sendo desmata<strong>dos</strong> para abrigar novas culturas<br />

ou para o plantio de florestas industriais, fato que<br />

ocasiona desequilíbrios ecológicos e amplia a acidez<br />

já bastante elevada nesses ecossistemas.<br />

O litoral brasileiro, por outro lado, quando não<br />

transformado em praias particulares, com rnarínas<br />

e conjuntos residenciais, é utilizado para a<br />

instalação de complexos industriais altamente poluídores,como<br />

é o caso da Tibrás, na Bahia.<br />

Ainda no meu Estado, Sr. Presidente, Camaçari<br />

e Aratu, como já foi dito, correm o risco de se<br />

tomarem um novo Cubatão, e a Mata Atlântica,<br />

em toda a sua extensão, inclusive no território<br />

baiano, representa hoje "o ecossistema mais<br />

ameaçado da América do Sul, comparável apenas<br />

à ilha de Madagascar, na costa oriental da África",<br />

na opinião do zoólogo Russel Mittermeier, presidente<br />

da Wodd WildUfe Foundation, organiza'tão<br />

internacional com sede na Suíça.<br />

A luz desses fatos e diante de uma situação<br />

realmente preocupante, julgo de meu dever alertar<br />

os nobres colegas para a necessidade de que<br />

venham a ser inscritos na nova Constituição instrumentos<br />

efetivos que possibilitem a implantação,<br />

em nível nacional, de uma racional e moderna<br />

política de preservação do habitat brasileiro.<br />

Necessário se toma, efetivamente, que os diversos<br />

processos produtivos partilhem <strong>dos</strong> encargos<br />

para a proteção do patrimônio natural do País,<br />

em beneficio de toda a coletividade.<br />

Com plena consciência de que o homem e<br />

a natureza' caminham juntos no grande cenário<br />

da vida terrestre, é imprescindivel que saibamos<br />

sustar a crescente degradação <strong>dos</strong> diversos ecossistemas<br />

brasileiros, mediante a incorporação, ­<br />

repito - na Carta Magna que temos a responsabilidade<br />

de elaborar, <strong>dos</strong> "fundamentos do direito<br />

ambiental, de modo que ao Estado e aos diversos<br />

segmentos da sociedade se atribuam instrumentos<br />

adequa<strong>dos</strong> à garantia de um direito humano<br />

fundamental, como é do da fruição de um meio<br />

ambiente equilibrado e saudável".<br />

OSR.JUTAHYMACiAUfÃES (PMDB-BA<br />

Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente,<br />

Srs. Constituintes, no atual quadro político e econômico<br />

brasileiro, tendo em vista, particularmente,<br />

as sucessivas denúncias de atos ilicitospratica<strong>dos</strong><br />

por administradores públicos de to<strong>dos</strong> os níveis,<br />

cobra-se muito do Poder Legislativo,o exercício<br />

de sua função fiscalizadora sobre as ações<br />

do Executivo.<br />

Essa ação fiscalizadora, entretanto, que figura<br />

entre as mais importantes desempenhadas pelo<br />

Poder Legislativo, encontra inúmeros obstáculos<br />

à sua realização, a começar pelas atuais disposições<br />

constitucionais, que ao não explicitar deta­<br />

Ihadamente a função, nem prever to<strong>dos</strong> os instrumentos<br />

necessários à sua efetivação, permite que<br />

se levantem interpretações divergentes sobre a<br />

abrangência do poder conferido ao Legislativo.<br />

As dificuldades interpostas ao trabalho da CPI<br />

da Corrupção, que são um exemplo extremo do<br />

que estou falando, demonstram de maneira inequívoca<br />

quanto ainda precisamos avançar para<br />

restaurar as prerrogativas do Poder Legislativo e<br />

exercer de forma efetiva a fiscalização que nos<br />

compete.<br />

Assim sendo, é com satisfação que registro o<br />

grande avanço consignado no texto constitucional<br />

em elaboração, relativamente a esse assunto.<br />

O art. 83, da parte já aprovada do texto, que,<br />

pelo processo de fusão de emendas, contou com<br />

minha colaboração, define com clareza a função<br />

de controle externo do Congresso Nacional, caracterizada<br />

pela fiscalização contábil, financeira,<br />

operacional e patrimonial da União, e de todas<br />

as entidades da administração direta e indireta,<br />

bem como da aplicação de subvenções e renúncias<br />

de receitas, quanto aos aspectos da legalidade,<br />

legitimidade e economicidade.<br />

De suma importância, também, é o art. 84,<br />

que estabelece as competências do Tribunal de<br />

Contas da União, na qualidade de órgão auxiliar<br />

do Congresso Nacional na realização do controle<br />

externo.<br />

Dentre os diversos incisos ali conti<strong>dos</strong>, que definem<br />

as várias atribuições do órgão, como a apreciação<br />

das contas do Presidente da República;<br />

o julgamento das contas <strong>dos</strong> administradores e<br />

demais responsáveis pordinheiros, bens e valores<br />

públicos; a apreciação da legalidade <strong>dos</strong> atos de<br />

pessoal; a fiscalização das contas nacionais de<br />

empresas supranacionais de que participe a<br />

União; a fiscalização da aplicação de recursos repassa<strong>dos</strong><br />

pela União etc., gostaria de destacar<br />

as disposições do inciso IV, para cujo conteúdo<br />

também contribuí, via fusão de emendas, que atribui<br />

ao TCU a realização de inspeções e auditoriais<br />

de natureza financeira, contábil, orçamentária e<br />

patrimonial, inclusive quando forem requeridas<br />

pela Câmara <strong>dos</strong> Deputa<strong>dos</strong>, Senado Federal e<br />

por iniciativa de comissão mista, técnica ou de<br />

inquérito, nas unidades administrativas <strong>dos</strong> Poderes<br />

Legislativo, Executivo e Judiciário e outras<br />

entidades referidas no texto.<br />

Julgo oportuno destacar esse inciso porque ele<br />

cria poderoso instrumento para viabilizar nossa<br />

ação fiscalizadora.<br />

A verdade é que somente exercendo com profundidade<br />

essa prerrogativa de fiscalizar, conseguirá<br />

o Poder Legislativo recuperar sua credibilidade<br />

e moralizar o exercício do poder no Brasil.<br />

Para isso é fundamental que o novo texto defina<br />

com todas as letras a função que o Congresso<br />

deverá exercer e os instrumentos que deverá utilizar.<br />

Manter o texto aprovado em primeiro turno,<br />

com os grandes avanços que incorpora comparativamente<br />

ao texto constitucional em vigor, é fundamental,<br />

em meu entender, para que desta<br />

Constituição resulte o reequUíbrio <strong>dos</strong> Poderes<br />

da República, num eficiente e amplo sistema de<br />

freios e contrapesos que garanta à administração<br />

pública como um todo a moralidade e a transparência<br />

que a opinião pública exige e que haveremos<br />

de alcançar.<br />

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.<br />

o SR. ASDROBAL BENTES (PMOB- PA<br />

Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente,<br />

Srs. Constituintes, um <strong>dos</strong> males que mais nos<br />

atemorizam neste País é, sem dúvida, a impunidade<br />

.:<br />

Se os crimes que cometem nas grandes cidades,<br />

nj3 maioria dasvezes, permanecem sem pistas,<br />

sem castigo, impunes, os perpetra<strong>dos</strong> nos<br />

longínquos municípios, principalmente, da amazônía,<br />

esses nem mesmo são averigua<strong>dos</strong>.<br />

Senhores, no próximo passado 10 de abril, em<br />

pleno domingo, um jovem jornalista, foi barbaramente<br />

assassinado enquanto assistia televisão, no<br />

restaurante em que almoçava em Marabá. Antônio<br />

Ismar da Costa Alvarenga, conhecido apenas<br />

por Alvarenga foi executado por cinco tiros de<br />

forma selvagem. O homicida com todo sangue<br />

frio aproximou-se de Alvarenga, sob olhares de<br />

várias pessoas, fez os disparos e fugiu incontinenti.<br />

Senhores, o assassinato do jornalista é mais<br />

um crime a denunciar o clima de violência que<br />

vigora no sul do Pará.<br />

Sempre que ocorrem crimes como esse, naquela<br />

região to<strong>dos</strong> o vinculam logo ao problema<br />

de terra. Na verdade, a posse da terra é o fulcro,<br />

o motivo central, mas estamos convenci<strong>dos</strong> de<br />

que o que, realmente, move a mão assassina <strong>dos</strong><br />

matadores profissionais, é a consciência, a certeza<br />

de que o seu crime permanecerá sem castigo.<br />

Todo o sul do Pará vive em clima de medo<br />

de pânico, de permanente tensão, o que constitui<br />

o maior entrave para um desenvolvimento integral<br />

e uniforme da região.<br />

Senhores, as familias andam assustadas, os investimentos<br />

susta<strong>dos</strong>, o progresso entravado.<br />

No ano passado, a pedido nosso e de vários<br />

colegas parlamentares do Pará, o ministro da Justiça<br />

deixou escapar a mais extraordinária oportunidade<br />

para tomar ciência, de forma objetiva, da<br />

situação convulsiva e conflagrada do sul do Pará.<br />

As autoridades, sobretudo da área da justiça,<br />

não podem contentar-se, apenas, no depoimento<br />

de terceiros. Umministro da Justiça há de conhecer,<br />

com profundidade, não apenas, as desenvolvidas<br />

e ricas regiões do sul do país. Aíos acontecimentos<br />

fluem com certa normalidade, de forma<br />

civilizada, obedecendo a requintes padroniza<strong>dos</strong><br />

comanda<strong>dos</strong> pelos esquadrões da morte,<br />

nos quais os maiores atores são filia<strong>dos</strong> à própria<br />

policia.<br />

Lá,nos longes da região, na amazônia, ou mais<br />

propriamente no sul do nosso Estado do Pará,<br />

os assassinos são pagos por milionários, os quais,<br />

aproveitando-se da miséria material e moral de<br />

pessoas revoltadas e recalcadas, mandam matar<br />

a to<strong>dos</strong> os que, de alguma forma, obstaculam<br />

os seus projetos calca<strong>dos</strong> na imoralidade e na<br />

injustiça.<br />

Mais uma vez, apelamos ao Sr. Ministroda Justiça<br />

a pôr cobro na impunidade.<br />

SenhorMinistroPaulo Brossard, volte sua atenção<br />

para a região mais conflagrada do Brasil.Não<br />

permita que a impunidade acabe por gerar a insatisfação<br />

que poderá, inclusive, ameaçar a própria<br />

unidade de nossa Pátria.<br />

Não sabemos se V. Ex- sabe que por lá já se<br />

ouvem murmúrios de maus brasileiros com intentos<br />

separatistas.<br />

NãÕse concebe que a impunidade seja o móvel<br />

de tais propósitos. Na verdade, se falta às autoridades<br />

brasileiras pulso e competência para dar<br />

um fírn a esse estado de coisas, que acende nos<br />

matadores a ânsia de matar, cada vez mais, a<br />

pessoas inocentes, evidentemente que é grande<br />

a tentação de tentar mover lideranças e novos<br />

méto<strong>dos</strong> capazes de afastar, de umavezportodas,<br />

a maior inimiga da tranqüilidade da familia brasileira:<br />

a impunidade.<br />

Dirigimos também um apelo ao Governador<br />

- Hélio Gueiros.

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