13 - Câmara dos Deputados
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Abril de 1988 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Quarta-feira <strong>13</strong> 9305<br />
os devedores da Previdência, os clubes de futebol,<br />
os usineiros, que se locupletam com benefícios,<br />
com empréstimos, com isenções, para o açúcar<br />
e o álcool. Agora fazem passeata, talvez eles estejam<br />
colocando à frente alguns pequenos plantadores<br />
de cana, e os espertalhões, os grandalhões<br />
mesmos, esses estão aqui muito próximos, votando<br />
cinco anos para o Senhor Sarney.<br />
o SR. oLÍVIo DUTRA (PT -<br />
RS. Sem revisão<br />
do orador.) -Sr.Presidente, Sr"S e Srs. Constituintes,<br />
volto a lembrar que o decreto-lei do Executivo<br />
que instituio último pacote, prejudicial para<br />
um número considerável de trabalhadores, funcionários<br />
públicos, deve ser urgentemente apreciado<br />
pelo Congresso Nacional Não podemos<br />
admitir que o Poder Executivo deixe para encaminhar<br />
à apreciação do Congresso esse decreto-lei<br />
à hora que bem entender.Já o fato de ter utilizado<br />
o decreto-lei mostra o caráter deste Governo, seqüência<br />
<strong>dos</strong> Governos militares. .<br />
Somos daqueles que não têm ilusão de que<br />
o Governo esteja acima de interesses econômicos,<br />
e um Governo sem a legitimidade do voto<br />
popular direto, como é o Governo do Presidente<br />
José Sarney, tem uma vinculação mais estreita<br />
com os interesses <strong>dos</strong> setores privilegia<strong>dos</strong> da<br />
sociedade brasileira. Vejam que em to<strong>dos</strong> os pacotes<br />
baixa<strong>dos</strong> por este Governo, no plano econômico,<br />
nenhum deles conteve os lucros do setor<br />
financeiro, nenhum deles estabeleceu patamares<br />
de lucratividade para o grande capital industrial<br />
e comercial. Portanto, este Governo se sustenta<br />
com benefícios que ele.leva aos setores sociais<br />
que lhes dão apoio econômico e político.<br />
Não podemos, portanto, ter a ilusão de que<br />
este Governo venha a defender os interesses das<br />
amplas maiorias populares de trabalhadores do<br />
campo e da cidade, de pequenos e mícroempreendedores<br />
empresariais Só a mobilização popular<br />
organizada é que poderá fazer com que<br />
este Governo sinta que é hora de ele, como dizemos<br />
lá no Sul, galopar ou sair da estrada. Entendemos<br />
que é hora de este Governo compreender<br />
que a vontade da maioria do povo é ter um Presidente<br />
da República eleito pelo voto popular direto<br />
e comprometido com um plano econômico, politico<br />
e social defendido em praça pública, do interesse<br />
da maioria do povo brasileiro e não das<br />
minorias privilegiadas.<br />
Agora mesmo acabamos de ler, na imprensa,<br />
que o Presidente da República quer repartir a sua<br />
bionicidade, tentando fazer do Presidente do<br />
PMDB e desta Constituinte o Vice-Presidente da<br />
República,viadecreto-lei. É uma forma de, através<br />
do fisiologismo - que, penso, jamais será aceito<br />
pelo ilustre Presidente do Congresso Constituinte<br />
-, manter um nível de sustentação política a um<br />
governo que lá fora não tem nenhuma, do ponto<br />
de vista das classes sociais economicamente não<br />
privilegiadas.<br />
Também estamos lembrando a esta Casa que<br />
amanhã uma comissão suprapartidária, coordenada<br />
pela OAB,por entidades sindicais <strong>dos</strong> mais<br />
diferentes matizes políticos e Ideológicos, e pela<br />
sociedade civil organizada, estar-se-á reunindo,<br />
aqui, em Brasília, nas dependências da Câmara,<br />
para coordenar uma campanha pública, de rua,<br />
de mobilização popular, em torno <strong>dos</strong> quatro anos<br />
de mandato para o Presidente José Samey. Essa<br />
questão deverá ser votada, com a soberania do<br />
Congresso Constituinte, num prazo de 30 a 40<br />
dias, e se a sociedade brasileira civil organizada<br />
e o movimento popular e sindical não se manifestarem<br />
publicamente, através de comícios, passeatas,<br />
caminhadas, a pressão popular estará ausente<br />
deste Congresso, e predominará aqui a pressão<br />
do Planalto e de outras áreas que vêem, na prorrogação<br />
do mandato do Presidente da República<br />
para cinco anos, a manutenção <strong>dos</strong> seus privilégios.<br />
Chamamos as forças políticas e democráticas<br />
desta Casa a se juntarem às forças sociais da<br />
sociedade real nesta mobilização O Partido <strong>dos</strong><br />
Trabalhadores se sente convocado e na obrigação<br />
de convocar todas essas forças. Só assim poderemos<br />
fazer com que, depois do comício já programado<br />
em Porto Alegre, para o dia 22, em torno<br />
<strong>dos</strong> quatro anos, aconteçam outras atividades públicas<br />
e de massa, em outras cidades importantes<br />
e capitais de nosso País, fazendo com que essa<br />
pressão desague neste Congresso, e aqui, soberanamente,<br />
a Constituinte defina, por quatro anos,<br />
o mandato do Presidente José Sarney. A CUT<br />
e o Movimento Sindical preparam uma mobilização<br />
grevista contra o pacote de congelamento<br />
da URP, e por outras medidas no campo econômico<br />
e social, no interesse da população brasileira.<br />
A reação do Governo tem sido a de ameaçar<br />
com demissões, com punições e repressão. Entendemos<br />
que este Governo, com isto, está a demonstrar<br />
claramente a sua vinculação de classe<br />
e a sua subordinação aos interesses do capital<br />
financeiro internacional e do FMI. Contra essa subordinação,<br />
mobilização popular, clareza política<br />
e proposta alternativa, que signifiquem pressão<br />
unitária da sociedade brasileira contra este Governo<br />
e a sua política, e por eleições para Presidente<br />
da República em 1988.<br />
Obrigado, Sr. Presidente. (Muitobem!)<br />
O SR. ADROALDO STRECK (PDT - RS.<br />
Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente e Srs.<br />
Constituintes, estão sendo anuncia<strong>dos</strong> mais dois<br />
aumentos de preços. O primeiro deles será o <strong>dos</strong><br />
cigarros. Até aí não há nenhum problema, porque<br />
o consumo de cigarros deve ser diminuído via<br />
preço alto. Nos países desenvolvi<strong>dos</strong>, dou como<br />
exemplo os da Escandinávia, um maço de cigarro<br />
sai quatro ou cinco vezes mais caro, proporcionalmente,<br />
do que no Brasil. Sr. Presidente, este<br />
tipo de aumento não me preocupa, porque seria<br />
uma forma de o Governo, no caso a Previdência<br />
Social, gastar um pouco menos, diminuindo o<br />
consumo de cigarros via preços, porque to<strong>dos</strong><br />
sabemos o que custam hoje para a Nação enfisemas<br />
pulmonares e todas as doenças respiratórias<br />
e cardiovasculares, decorrentes do uso e consumo<br />
excessivos do cigarro, do tabaco.<br />
Outro aumento é do preço <strong>dos</strong> remédios. Aí<br />
sim, Sr. Presidente, existe uma distorção e um<br />
verdadeiro absurdo. Dou a V. Ex' e aos Companheiros<br />
Constituíntes um exemplo pessoal. Sou<br />
literalmente contrário ao uso de medicamehtos,<br />
tanto que só os uso em última instância. Fui obrigado,<br />
esta semana, a comprar três medicamentos,<br />
e me surpreendi, com o custo de 2 mil e<br />
450 cruza<strong>dos</strong>, um <strong>dos</strong> quais tinha etiquetas superpostas,<br />
com preços diferentes, que vinham <strong>dos</strong><br />
400 e chegavam aos 800 cruza<strong>dos</strong>.<br />
Isto sim, Sr. Presidente, me preocupa, porque,<br />
daqui a pouco, um operário que necessite comprar<br />
remédios, como fica a situação de um brasileiro<br />
que ganha, seja lá, dois, três, quatro ou cinco<br />
salários mínimos?<br />
Estamos fazendo uma Constituição nova, e até<br />
este momento tratamos, exclusivamente, de direitos<br />
e mais direitos. Espero que daqui para frente<br />
tenhamos volta<strong>dos</strong> os nossos trabalhos também<br />
para o setor das obrigações e daquelas questões<br />
que produzem alguma coisa, e que possam dar<br />
respaldo e sustentação, para que o País, no futuro,<br />
possa cumprir uma Constituição, que até este<br />
momento é exclusivamente de direitos.<br />
Sr. Presidente, enxergo, como fundamental para<br />
este País, que a nova Constituição, que está<br />
nascendo aqui, seja também de obrigações, para<br />
que, amanhã ou depois, o brasileiro poente possa<br />
comprar os seus remédios para ficar melhor, para<br />
ter melhor saúde, e colaborar para a sociedade<br />
igualitária que to<strong>dos</strong> estamos perseguindo.<br />
Este, Sr. Presidente, é o registro que gostaria<br />
que constasse <strong>dos</strong> Anais desta Casa. (Muitobem!)<br />
O SR. ALUÍZIO BEZERRA (PMDB - AC.<br />
Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente,<br />
Srs. Constituintes, voltamos a esta tribuna para<br />
abordar um tema que consideramos de vital importância<br />
para toda a América Latina. Trata-se<br />
da pressão militar, política e econômica que os<br />
Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong> vêm fazendo contra o governo<br />
e o povo do Panamá, em mais uma prova de<br />
que aquele país não conhece nem respeita as<br />
leis da convivência internacional.<br />
Além do fato de terem explorado, durante décadas<br />
seguidas, o povo panamenho, os Esta<strong>dos</strong><br />
Uni<strong>dos</strong>, agora, iniciam mais um processo de ingerência<br />
em outra nação, mediante argumentação<br />
fabricada, como sempre, nos funestos gabinetes<br />
do Pentágono, o templo da guerra, da morte e<br />
da destruição. Primeiramente, os EUAorganizam<br />
campanha internacional, acusando o General Noriega<br />
de estar vinculado ao tráfico internacional<br />
de cocaína. Apesar do estardalhaço, da manipulação<br />
da imprensa internacional, querendo apresentar<br />
tudo como se fosse um fato consumado,<br />
até o momento, nenhuma prova foi apresentada.<br />
Para um país, com o enorme poderio que possui,<br />
não seria difícil aos EUA revelar fatos comprovadores<br />
da acusação feita ao general panamenho.<br />
Ao contrário, a única coisa que foi revelada nessa<br />
furiosa campanha de um país impe:ialista contra<br />
um pequenino país, pobre e explorado, foi o enorme<br />
preconceito contra o povo panamenho, preconceito<br />
este que atinge a to<strong>dos</strong> os povos subdesenvolvi<strong>dos</strong>,<br />
a todo o povo latino-americano, inclusive<br />
ao povo brasileiro. Mas nesta acusação,<br />
feita com ódio e fogo, as fagulhas queimam também<br />
o governo norte-americano: basta lembrar<br />
estatísticas reconhecidas por autoridades desse<br />
próprio país, afirmando que nos EUAexistem cerca<br />
de 22 milhões de vicia<strong>dos</strong> em cocaína, sendo<br />
sabido que todas as rotas do tráfico internacional<br />
de drogas termina em Miami. Ou seja, os EUA<br />
não conseguem esconder da opinião pública<br />
mundial formas de decadência de sua sociedade<br />
reveladas, não apenas pelo alto consumo de drogas,<br />
como também pelo racismo contra negros<br />
e híspano-americanos, a assustadora crímínalídade.<br />
Com uma situação interna assim, que moral