13 - Câmara dos Deputados
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Abril de 1988 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Quarta-feira <strong>13</strong> 9353<br />
Naturalmente que a crise se faz sentir aqui e<br />
ali com intensidade diferente, a depender das condições<br />
e <strong>dos</strong> agentes deste ou daquele lugar.<br />
Em Sergipe, os agentes enquista<strong>dos</strong> na Federação<br />
do Futebol há décadas, e que para lá se manter,<br />
não venderam a alma ao diabo, porque o<br />
diabo não quis mas praticaram to<strong>dos</strong> os desman<strong>dos</strong><br />
possíveis e impossíveis, estão colhendo agora<br />
o prêmio merecido: o campeonato foi suspenso<br />
porque a Federação, hoje completamente desmoralizada,<br />
está devendo e não pode pagar milhões<br />
de cruza<strong>dos</strong> a integrantes do seu Departamento<br />
de Árbitros que entraram na Justiça do<br />
Trabalho para receber os seus direitos.<br />
De passagem, registra-se o aspecto irônico do<br />
caso: alguns desses juízes de futebol são exatamente<br />
aqueles que durante anos e anos serviram<br />
fielmente à Federação na sua política de modificar<br />
resulta<strong>dos</strong> de jogos, de prejudicar atletas e clubes<br />
que não a apoiasse nas suas tramóias e de direcionar<br />
conquistas de títulos.<br />
Na condição de Constituinte, no entanto, queremos<br />
chamar a atenção para um aspecto de<br />
problema que consideramos bem mais grave: é<br />
a campanha que se esboça lá em Sergipe, no<br />
sentido de que a Caixa Econômica do Governo<br />
Estadual deverá resolver, quer dizer,pagar a dívida<br />
da Federação - o Impasse.<br />
Ora, no momento em que severas medidas<br />
de contenção nos gastos públicos são tomadas<br />
pelo Governo Federal, algumas até achatando<br />
mais ainda o já deteriorado poder aquisitivo do<br />
funcionalismo federal (aqui, é claro, estamos nos<br />
referindo à imensa maioria <strong>dos</strong> que trabalh~m<br />
e percebe mingua<strong>dos</strong> vencimentos);<br />
No momento em que são corta<strong>dos</strong> recursos<br />
destina<strong>dos</strong> à implantação ou continuação de<br />
obras prioritárias fundamentais para o pleno desenvolvimento<br />
do país;<br />
No momento em que chuvas demais aqui e<br />
falta de chuva acolá provocam o desabrigo, a<br />
doença, a fome a prejuízos enormes sem que<br />
se disponha <strong>dos</strong> recursos suficientes para enfrentar<br />
a situação;<br />
No momento em que cortes profun<strong>dos</strong> são<br />
feitos nos investimentos de fundo social, pesquisas<br />
científicas, etc. Seria, não um contra-senso,<br />
mas um verdadeiro crime desperdiçar milhões<br />
e milhões de cruza<strong>dos</strong> para encobrir a incompetência,<br />
a irresponsabilidade e a leviandade.<br />
Não acreditamos, aliás, que o governo do Estado<br />
aceite o papel de salvador de uma instituição<br />
falida, morta, há muito tempo apodrecida, mas<br />
é nossa dever denunciar o perigo que representa<br />
para a comunidade as pretensões desse grupelho<br />
medíocre e fracassado instalado na Federação<br />
Sergipana de Futebol.<br />
o SR. DARCY DElTOS (PMDB- PRo Sem<br />
revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Constituinte,<br />
desde o início <strong>dos</strong> trabalhos desta Assembléia<br />
Nacional Constituinte temos trazido a nossa<br />
preocupação e a preocupação <strong>dos</strong> agricultores<br />
brasileiros para que, no texto constitucional a ser<br />
aprovado, sejam inseridas normas permanentes<br />
da condução da política agrícola. E agora as medidas<br />
baixadas pelo Governo Federal para a safra<br />
do trigo externam bem esta noss~ preocupação,<br />
de que, mais do que nunca, na próxima Constituição<br />
a ser promulgada, tenhamos normas permanentes<br />
na condução da política agrícola, porque<br />
as medidas baixadas, no sentido de que os<br />
financiamentos não sejam concedi<strong>dos</strong> para o aumento<br />
da área de plantio, trazem uma séria preocupação<br />
ao Estado do Paraná, que é o celeiro<br />
agrícola deste País e cuja froteira agrícola está<br />
praticamente exaurida e as áreas preparadas para<br />
o plantio não estão podendo ser plantadas, devido<br />
à não liberação de financiamentos<br />
Fazemos aqui um apelo ao Ministério da Agricultura,<br />
para que sejam revistas as normas baixadas<br />
e, assim, possam os agricultores brasileiros,<br />
com o Estado do Paraná, ampliar o plantio da<br />
área do trigo.<br />
O SR. SOTERO CCJNHA (PDC - RJ. Pronuncia<br />
o seguinte discurso.) - Sr. Presidente,<br />
Srs. Constituintes, o custo <strong>dos</strong> alimentos báSICOS<br />
não permite que estes cheguem à mesa <strong>dos</strong> trabalhadores<br />
brasileiros. Apartir dessa simples constatação<br />
podemos afirmar que a desnutrição tem<br />
funcionado como suporte de doenças que tantos<br />
vitimas têm feito entrea populaçãoadulta e infantil<br />
de nosso País.<br />
O meio rural, bem como a periferia <strong>dos</strong> grandes<br />
centros urbanos, não dispõem de sistemas de<br />
saneamento, o que tem originado grandes epidemias,<br />
com prejuízos incalculáveis para a saúde<br />
do trabalhador, bem como para os cofres públicos.<br />
A leptospirose é um exemplo das conseqúências<br />
da falta de instalações de saneamento básico,<br />
que tanto tem castigado a população de nosso<br />
Estado, principalmente da Baixada F1uminese.<br />
No Brasil temos praticado em maior escala a<br />
medicina preventiva. Isso tem causado grandes<br />
danos a saúde <strong>dos</strong> brasileiros que, na maioria<br />
<strong>dos</strong> casos, não tem estrutura para suportar as<br />
doenças mais comuns.<br />
As condições sanitárias de nosso estado tem<br />
propiciado as mais diversas epidemias. A dengue<br />
que tanto sofrimento trouxe para os cariocas,<br />
ameaça agora voltar com efeitos maléficos redobra<strong>dos</strong>.<br />
De posse desses exemplos, só nos resta exigir,<br />
em nomeda populaçãobrasileira, queos recursos<br />
destina<strong>dos</strong> à saúde sejam emprega<strong>dos</strong> o mais<br />
racionalmente possível, pois fica minto mais em<br />
conta evitar certos tipos de epídemías do que<br />
curar os doentes atingi<strong>dos</strong> por elas.<br />
Os órgãos liga<strong>dos</strong> à saúde, no Governo da Nova<br />
República, perderam muito tempo com as discussões<br />
em torno das propostas de se unificar o<br />
sistema de saúde no Brasil. Enquanto o Ministério<br />
da Saúde brigava pela unificação, a Previdência<br />
Social queria manter a estrutura atual. Essa polêmica<br />
custou muito tempo e tempo precioso que<br />
poderia ser usado para determinar campos de<br />
ação mais urgentes.<br />
Precisamos definir urgentemente uma política<br />
mais agressiva de combate às doenças epidêmicas<br />
uma vez que estasjá deveriam estar erradícadas<br />
de nosso meio há muito tempo. A Constituinte<br />
poderá representar o suporte de uma nova<br />
sistemática a ser implantada no Brasil, onde se<br />
dê atenção especial à medicina preventiva, e uma<br />
maior eficácia no combate de casosjá registra<strong>dos</strong>.<br />
Era o que tínhamos a dizer, Sr. Presidente,<br />
O SR. CJl...DWUCO PlI"ITO (PMDB - BA.<br />
Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente,<br />
Srs. Constituintes, analisada em sua correta perspectiva,<br />
a gestão da economia brasileira, nas últímas<br />
décadas, além de apresentar os mais nefastos<br />
reflexos sociais e políticos, distingue-se como<br />
uma verdadeira luta contra a natureza, capaz de<br />
provocar os mais graves impactos ambientais.<br />
Não julgo necessário recordar, a propósito, que<br />
o modelo do desenvolvimento econômico, voltado<br />
para fora, marginalizou acintosamente a dimensão<br />
ambiental do progresso e, dirigido para<br />
a concentração do capital, caracterizou-se, precipuamente,<br />
por intensificar o "agravamento de<br />
uma estrutura inadequada de propriedade e uso<br />
da terra", por privilegiara utilização de tecnologias<br />
importadas - que nunca interiorizaram em suas<br />
estratégias a preocupação'com a natureza do País<br />
- e por deslocar a força de trabalho - pelo<br />
emprego de processos produtivos intensivos de<br />
capital.<br />
Tal orientação, além de ter trazido, como conseqüêncía,<br />
o arrocho salarial e a pauperização da<br />
grande maioria da população, vem degradando<br />
violentamente o patrimônio natural do País e, nessas<br />
condições, como já foi dito, os benefícios gera<strong>dos</strong><br />
pelo relativo avanço tecnológico não têm<br />
sido compartilha<strong>dos</strong> pela comunidade nacional,<br />
na mesma proporção <strong>dos</strong> sacrifícios e <strong>dos</strong> flagelos<br />
físicos, sociais, econômicos e de qualidade<br />
de vida a ela impostos, inclusive porque esses<br />
benefícios são direciona<strong>dos</strong> prioritariamente para<br />
o atendimento da demanda externa.<br />
Os efeitos negativos e residuais desse doloroso<br />
processo de exploração e acumulação capitalista,<br />
extensiva, insisto, em matéria de mão-de-obra <br />
devido ao baixo salário pago aos trabalhadores<br />
- e intensiva no uso <strong>dos</strong> recursos naturais e<br />
do meio ambiente, processo esse aliado à inexistência<br />
de uma política setorial ajustada aos legítimos<br />
interesses coletivos, se fazem sentir, destarte,<br />
pelo aumento das desigualdades sociais, por um<br />
grau insuportável de dependência externa, pelo<br />
aumento incontrolável da população na periferia<br />
das cidades de grande e médío porte, pela devastação,<br />
degradação e poluição do meio ambiente,<br />
jamais sentidas no passado.<br />
Vemos, dentro dessa moldura, que os grandes<br />
projetos econômicos, leva<strong>dos</strong> a efeito nos últimos<br />
anos, costumam ser classifica<strong>dos</strong> como de "elevado<br />
interesse nacional" - o que desestimula,<br />
até certo ponto, o debate público em tomo de<br />
sua conveniência e funciona comoverdadeiro instrumento<br />
do imobilismo popular - embora sejam<br />
desastrosos, quer do ponto de vista da conservação<br />
do meio ambiente, quer na parte referrente<br />
à chamada ecologia humana, vale dizer, às<br />
condições de ambiente, de segurança e de saúde<br />
nos locais de trabalho <strong>dos</strong> diversos setores econômicos.<br />
Assim, pela permissividade e negligência <strong>dos</strong><br />
poderes públicos, que levam ao extremo a degradação<br />
ambiental, convivemos com a devastação<br />
das reservas vegetais nas regiões sul, sudoeste<br />
e leste do País, devastações que se propagam<br />
agora às regiões Centro-Oeste e Norte, comprometendo,<br />
portanto, a mata tropical úmida da<br />
Amazônia; o assoreamento <strong>dos</strong> portos; a destruição<br />
diária de centenas de espécies animais; a<br />
contaminação de peixes e mariscos em lagoas<br />
e estuários; e destruição <strong>dos</strong> mangues; o envenenamento<br />
industrial das bacias'hidrográficas; a poluição<br />
do mar e da atmosfera.<br />
Além disso, para a região amazônica são transferidas<br />
técnicas agropecuárias utilizadas na região