130preocupação de ensinar a ler e a escrever a partir daspráticas cotidianas dos alunos. Ela propõe práticaspedagógicas, particularmente em relação ao ensino daLíngua Portuguesa, que trabalham com a idéia d<strong>ou</strong>niverso letrado, considerando a escrita por si só,enquanto repre<strong>se</strong>ntação gráfica (Corrêa, 2001).É fato que a aprendizagem do código escrito éimportante para o de<strong>se</strong>nvolvimento das práticas de leiturae de escrita no cotidiano. No entanto, pode-<strong>se</strong> aprendera ler e a escrever a partir das práticas sociais, comopropõem os novos Parâmetros Curriculares Nacionais.Ler e escrever devem <strong>se</strong>r práticas de letramentopre<strong>se</strong>ntes no cotidiano escolar, de<strong>se</strong>nvolvidas atravésde um processo contínuo dos usos sociais e culturais daleitura e da escrita. Assim, o aprendizado deixa de <strong>se</strong>rconsiderado como uma simples transferência deconhecimentos do professor para o aluno: ele é mediadoatravés de processos interativos e a ocorrência des<strong>se</strong>aprendizado depende do modo como uma atividade éestruturada, da quantidade de contato, prática e instruçãoproporcionados ao aluno e da qualidade des<strong>se</strong> contato(Collins & Michaels, 1991).Segundo Kleiman (1995), as práticas de letramentopre<strong>se</strong>ntes no contexto escolar são construídas noprocesso de interação entre professor e aluno, em que oindivíduo identifica o elo entre as práticas de letramentona aula e as necessidades do uso da escrita no cotidiano.Es<strong>se</strong> tipo de letramento é denominado letramentoacadêmico (Kleiman, 1995) <strong>ou</strong> letramento escolar(Soares, 1998) caracterizado por requerer formasdiferenciadas de oralidade e de escrita, importantes paraa escolarização e que emergem das práticas sociaistecnologicamente mais sofisticadas em sociedade<strong>se</strong>scolarizadas (Rojo, 2001).Estudos sobre o letramento realizados por Kleiman(1995), Soares (1998) e Ribeiro (1999) têm discutido aquestão das práticas sociais e escolares da leitura e daescrita. Estes estudos mostram que a escolarizaçãocontribui para o de<strong>se</strong>nvolvimento de níveis mais elevadosde letramento, embora esta não <strong>se</strong>ja considerada comoprimordial para que o indivíduo esteja in<strong>se</strong>rido em umasociedade letrada.É inegável que o espaço escolar pode <strong>se</strong>r considerad<strong>ou</strong>m lugar privilegiado quanto à circulação de diferentesformas discursivas do texto e também à articulação dasmodalidades oral e escrita. Cabe à escola in<strong>se</strong>rir novaspráticas de letramento relacionadas aos conteúdosacadêmicos e orientar o aluno na construção de textosEliane Porto Di Nucciescritos e orais de forma que ele aprenda a utilizar alinguagem culta e formal (Rojo, 2001). Assim, pode-<strong>se</strong>dizer que essa instituição visa transformar a oralidadedos alunos através da introdução do código escrito,exigindo as marcas formais da fala e da escrita. A escolanão introduz nova maneira de falar sobre o mundo,apenas <strong>se</strong>leciona novos tópicos para o exercício deformas discursivas já familiares.A escola, como espaço institucional em que convivemdetentores de práticas sociais e discursivas da escrita,tem a função de tornar alfabetizados os membros dasociedade, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, oferecer ao aluno a oportunidadepara adquirir o domínio da língua, particularmente docódigo escrito e das habilidades instrumentais básicas.Essas habilidades devem permitir ao aluno compreendere participar das distintas manifestações da cultura e olhara leitura e a escrita de forma reflexiva e crítica, paraque atue <strong>se</strong>letivamente frente aos meios de comunicaçãosocial. É um lugar social onde o contato com o sistemade escrita e com a construção do conhecimento ocorrede forma sistemática, potencializando os efeitos dosaspectos culturais sobre os modos de pensamento(Oliveira, 1995).Assim, com a escolarização, o aluno torna-<strong>se</strong>alfabetizado, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, aprende o domínio do código,tornando-<strong>se</strong> alfabetizado. Porém, o principal desafio daescola é tornar o aluno um indivíduo alfabetizado eletrado, habilitando-o a usar a escrita em diferentesatividades comunicativas (Tf<strong>ou</strong>ni, 1995).Soares (1998) ob<strong>se</strong>rva que cabe à escola alfabetizarletrando, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, ensinar a ler e a escrever no contextodas práticas sociais da leitura e da escrita, de modo queo indivíduo aprenda, ao mesmo tempo, o domínio docódigo escrito (alfabetização) e os usos sociais da escrita(letramento). Dessa forma, o processo de alfabetizaçãocoloca como pano de fundo o letramento escolar: in<strong>se</strong>rir,em um contexto específico, diferentes práticas cotidianasde leitura e de escrita.Nessa perspectiva, as práticas pedagógicas precisamalmejar a criação de oportunidades de <strong>se</strong> experimentara leitura e a escrita de textos significativos que cumpramdiferentes funções sociais e psicológicas (Ribeiro, 2001).É importante que elas estejam pre<strong>se</strong>ntes na sala de aula,na aprendizagem de conteúdos acadêmicos e tambémno contexto geral do ambiente escolar.Atualmente, as novas Diretrizes Curricularesconsideram o Ensino Médio uma etapa final da educaçãobásica, com duração mínima de três anos, de forma a
O letramento escolar de jovens do ensino médio 131preparar o aluno não apenas para o acúmulo deinformações, mas para a continuação do de<strong>se</strong>nvolvimentoda capacidade de aprender e da compreensão do mundosocial e cultural (MEC, 1999). Essas novas diretrizes,hoje, propõem o de<strong>se</strong>nvolvimento das capacidades depesquisar, buscar informações e analisá-las, dacapacidade de aprender, criar e formular hipóte<strong>se</strong>s arespeito das práticas cotidianas ao invés do exercício dememorização e imposição de modelos. Essa propostasugere a in<strong>se</strong>rção do letramento no ambiente escolar, oque implica em rever o projeto pedagógico das escolas,de forma a promovê-lo na escola.Refletindo sobre a nova proposta de Educação, opre<strong>se</strong>nte estudo teve como objetivo descrever e analisaras práticas de letramento escolar de jovens alunos da 3ªsérie do Ensino Médio, de uma escola urbana, da redepública estadual, da cidade de Campinas.MÉTODOParticipantesParticiparam da pesquisa 30 alunos da 3ª série doEnsino Médio de uma escola urbana da rede estadualde ensino, situada em Campinas - SP. Todos osparticipantes (100%; F=30) eram solteiros, <strong>se</strong>ndo 56,7%(F=17) do <strong>se</strong>xo feminino e 43,3% (F=13) do <strong>se</strong>xomasculino. A idade vari<strong>ou</strong> entre 16 e 21 anos, <strong>se</strong>ndoem média 17 anos. A maioria dos jovens (90,0%; F=27)pertencia ao nível sócio-econômico médio, <strong>se</strong>gundoclassificação adotada pela Unicamp (2000), conformea ocupação profissional dos pais.Instrumentos<strong>Para</strong> a coleta dos dados foi utilizado um roteiro deentrevista com o objetivo de conhecer as práticas deletramento escolar pre<strong>se</strong>ntes no cotidiano dos jovens dareferida escola. Este roteiro foi estruturado com questõesabertas relacionadas às práticas de leitura e de escritapre<strong>se</strong>ntes no ambiente escolar, tanto em sala de aulacomo nos demais ambientes da escola. Foram realizadasob<strong>se</strong>rvações sistemáticas durante as aulas de LínguaPortuguesa a fim de complementar as informaçõesobtidas na entrevista. Foram ob<strong>se</strong>rvados os tipos detextos utilizados em aula, como a professora trabalhavaos conteúdos acadêmicos através de textos que circulamsocialmente, por exemplo, revistas, panfletos, cartazes,embalagens ... e a participação dos alunos durante asaulas. Essas informações foram utilizadas na discussãodos dados.ProcedimentosA entrevista foi realizada individualmente com cadaparticipante. Todas as entrevistas foram gravadas e,posteriormente, transcritas para a análi<strong>se</strong> dos dados. Asrespostas dos sujeitos foram agrupadas em diferentescategorias, definidas pela autora. Essas respostas foramclassificadas de acordo com tais categorias equantificadas através da freqüência (F) e porcentagem(%) em cada questão.RESULTADOSNo ambiente escolar são encontradas diversaspráticas de letramento relacionadas à leitura e à escritaque fazem parte do cotidiano, conforme descrição a<strong>se</strong>guir.A Tabela 1 apre<strong>se</strong>nta a freqüência e a porcentagemde respostas, quanto às práticas de letramento escolarrelacionadas à leitura, citadas pelos jovens da amostra.Tabela 1: Freqüência e porcentagem de respostas em relaçãoàs práticas de leitura pre<strong>se</strong>ntes no ambiente escolar(N=30).Categoria F %Cartazes nos corredores 27 23,7Anotações no caderno 26 22,8Textos de apostilas 15 13,2Livros 12 10,5Xerox de textos 12 10,5Pichações nas paredes 11 9,7Informações nos murais 7 6,1Transparências das aulas 2 1,8Vídeo das aulas 2 1,8Total 114 100Entre as 114 respostas apontadas pelos sujeitos, aspráticas de letramento escolar mais freqüentementerelacionadas à leitura são a leitura de cartazes fixadosnos corredores da escola (23,7%; F=27) e as anotaçõesno caderno (22,8%; F=26) - cópia das matérias na l<strong>ou</strong>sae exposição oral do professor. Outras práticas voltadaspara a aprendizagem como a leitura de textos de apostilasPsicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 2 129-134
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