146 Graziela Nascimento da Silva e Mary Sandra Carlottocom <strong>ou</strong>tras pessoas. Segundo Maslach e Jackson (1981),<strong>se</strong> constitui de três dimensões conceitualmente distintas,mas empiricamente relacionadas: exaustão emocional,despersonalização e falta de realização profissional.<strong>Os</strong> autores referem ainda que a exaustão emocionalpode <strong>se</strong>r entendida pela situação na qual os trabalhadores<strong>se</strong>ntem que não podem <strong>se</strong> entregar mais. É uma situaçãode esgotamento da energia dos recursos emocionaispróprios, uma experiência de estar emocionalmentedesgastado devido ao contato diário com pessoas comas quais necessitam <strong>se</strong> relacionar em função de <strong>se</strong>utrabalho. A despersonalização pode <strong>se</strong>r definida comoo de<strong>se</strong>nvolvimento de <strong>se</strong>ntimentos e atitudes negativa<strong>se</strong> de distanciamento para as pessoas destinatárias dotrabalho. A falta de realização profissional, faz comque os trabalhadores <strong>se</strong> sintam descontentes consigomesmos e insatisfeitos com os resultados de <strong>se</strong>u trabalho.A Síndrome de Burn<strong>ou</strong>t em profissionais daeducação vem recebendo crescente atenção por partede pesquisadores. Diversos estudos (Byrne, 1993;Pretorius, 1994; Carvalho, 1995; M<strong>ou</strong>ra, 1997; Carlotto,2002b) têm sido realizados com essa categoria profissional.Conforme pontua Codo (1999), muitos esforços têm sidofeitos para traçar um perfil do educador que é maissuscetível ao <strong>se</strong>ntimento de Burn<strong>ou</strong>t. Es<strong>se</strong>s esforços <strong>se</strong>justificam, na medida em que a <strong>se</strong>veridade da síndromeem professores já é, atualmente, superior à dosprofissionais de saúde, o que coloca o magistério com<strong>ou</strong>ma das profissões de alto risco de incidência (Iwanicki& Schwab, 1981; Farber, 1991).Burn<strong>ou</strong>t na educação é um fenômeno complexo emultidimensional resultante da interação entre aspectosindividuais e o ambiente de trabalho. Este ambiente nãodiz respeito somente à sala de aula <strong>ou</strong> ao contextoinstitucional, mas sim a todos os fatores envolvidos nestarelação, incluindo os fatores macrossociais como política<strong>se</strong>ducacionais e fatores sócio-históricos (Carlotto, 2002a).Sua ocorrência em professores tem sido consideradaum fenômeno psicossocial relevante, pois afeta nãosomente o professor, mas também o ambienteeducacional, interferindo na obtenção dos objetivospedagógicos, uma vez que os profissionais acometidospela síndrome de<strong>se</strong>nvolvem um processo de alienação,desumanização e apatia (Guglielmi & Tatrow, 1998).Muitas são as variáveis associadas ao Burn<strong>ou</strong>t, noentanto, a variável <strong>se</strong>xo tem chamado atenção especialde alguns pesquisadores (Burke & Greenglass; 1989;Farber, 1991; Carvalho, 1995; Burke, Greenglass &Schwarzer, 1996; Gil-Monte, Peiró & Valcárcel, 1996).Maslach e Jackson (1985) afirmam que esta variável podenão surgir como fator determinante de Burn<strong>ou</strong>t, porém,quando ocorre, a consistência que emerge da diferençavem de dados analisados principalmente na dimensão dedespersonalização, pois homens geralmente apre<strong>se</strong>ntamescores mais altos que as mulheres dentro da mesmaocupação e do mesmo contexto organizacional. Estesautores entendem que tal diferença pode estar relacionadaa três questões: responsabilidade familiar, tipo de ocupaçãoe papel do <strong>se</strong>xo na socialização. Destacam que a últimaquestão abordada é a mais importante, pois identifica aconcepção de que as mulheres estão mais envolvidas comcuidados, alimentação e preocupação com o bem-estarde <strong>ou</strong>tras pessoas, aspectos que <strong>se</strong> colocam de formadiferenciada com relação ao homem. A elevação daexaustão emocional por parte das mulheres é interpretadapelos autores a partir da questão da emocionalidadevinculada ao papel feminino. Já a grande intensidade deinsatisfação no trabalho dos homens pode estar vinculadaàs expectativas de sucesso, competição e de<strong>se</strong>nvolvimentoque são geralmente elementos mais identificados com opapel masculino. Etzion (1987) identific<strong>ou</strong> resultado<strong>se</strong>melhante, também atribuindo a ele questões tradicionaisdo processo de socialização e organização social que <strong>se</strong>colocam diferenciadamente para homens e mulheres.Apple (1995) e Borsoi (1995) pontuam que osproblemas referentes ao trabalho enfrentados pelasmulheres não são os mesmos enfrentados pelo trabalhadordo <strong>se</strong>xo masculino. <strong>Os</strong> riscos relacionados ao trabalhosão diferentes para homens e mulheres (Moreno, 1999).Ao ingressar no mercado de trabalho a mulher pass<strong>ou</strong> ade<strong>se</strong>nvolver uma dupla jornada, a profissional e adoméstico. Em nossa sociedade, as mulheres têm umarelação dupla com o trabalho assalariado. Elas são, aomesmo tempo, trabalhadoras remuneradas e nãoremuneradas.Tal situação, no entanto, vem <strong>se</strong>modificando, pois de maneira crescente o homem estádividindo com as mulheres as responsabilidades e osafazeres do lar. Compartilhar as responsabilidades e aspreocupações com a criação dos filhos e as tarefasdomésticas já é bastante comum (Apple, 1995; Borsoi,1995). Brito (1999) complementa, referindo, entretanto,que a alternância trabalho/tempo livre só tem <strong>se</strong>ntido paraa população masculina. Quando <strong>se</strong> trata de mulheres, aalternância significativa é a de trabalho profissional/trabalho doméstico, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, o que é central é uma visãoglobal do emprego do tempo cotidiano.
Síndrome de Burn<strong>ou</strong>t: Um estudo com professores da rede pública 147O magistério, profissão com um número bastanteelevado de mulheres, aos p<strong>ou</strong>cos vem <strong>se</strong> abrindo para aentrada dos homens, principalmente nos níveis de ensinomédio (Codo & Gazzotti, 1999). Investigação realizadapor M<strong>ou</strong>ra (1997) com professores revela, no entanto,que as mulheres são grupo majoritário e possuem piorsituação quanto à remuneração, titulação e localizaçãohierárquica no sistema escolar, quando comparadas aos<strong>se</strong>us colegas do <strong>se</strong>xo masculino.Na relação entre gênero e Burn<strong>ou</strong>t, Farber (1991)diz que estudos têm mostrado <strong>se</strong>rem professores do gêneromasculino mais vulneráveis ao Burn<strong>ou</strong>t que os do gênerofeminino, levantando a suposição de que as mulheres sãomais flexíveis e mais abertas para lidar com as váriaspressões pre<strong>se</strong>ntes na profissão de ensino. Burke e cols.(1996) confirmam este resultado através de estudorealizado, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, professores do <strong>se</strong>xo masculino possuíampontuações mais altas em despersonalização, porém nãofoi encontrado o mesmo resultado para exaustãoemocional. Burke e Greenglass (1989) tambémencontraram altas pontuações em despersonalização emprofessores homens, identificando nível global de Burn<strong>ou</strong>tmaior em homens do que em mulheres. Ao analisaremeste aspecto do ponto de vista do suporte social recebidopor um e por <strong>ou</strong>tro grupo, concluíram que mulherespossuem maior rede de suporte social afetivo.Estudo transcultural realizado por Pedrabissi, Rollande Santinello (1993) identific<strong>ou</strong> a existência de diferençasnos níveis de Burn<strong>ou</strong>t entre professoras italianas efrancesas. No grupo francês existia somente diferençasignificativa entre homens e mulheres na dimensão dedespersonalização. No italiano, a diferença fic<strong>ou</strong> evidentenas dimensões de exaustão emocional edespersonalização, confirmando a hipóte<strong>se</strong> de que ocontexto cultural influencia os resultados de Burn<strong>ou</strong>t.Estudo com professores espanhóis de<strong>se</strong>nvolvido porFernández-Castro, Doval e Edo (1994) encontr<strong>ou</strong>maiores índices de Burn<strong>ou</strong>t em mulheres. Já <strong>ou</strong>tro<strong>se</strong>studos, também com professores, não encontraramdiferenças significativas entre homens e mulheres(Mohammed, 1995; Aluja, 1997; Isorna, 1998; Carlotto,2002b). Na relação com alunos, Schwab e Iwanicki(1981) identificaram que professores homensapre<strong>se</strong>ntavam maior número de comportamentosnegativos que as mulheres.Tendo em vista o acima exposto, o pre<strong>se</strong>nte estudobusc<strong>ou</strong> verificar <strong>se</strong> a variável gênero estabelece diferençassignificativas nos níveis e no processo da Síndrome deBurn<strong>ou</strong>t em professores de escolas da rede pública.Também verific<strong>ou</strong> <strong>se</strong> variáveis demográficas, profissionai<strong>se</strong> comportamentais <strong>se</strong> associavam ao Burn<strong>ou</strong>t de formadiferenciada em professores do gênero masculino efeminino. Assim, o referencial teórico orient<strong>ou</strong> o trabalhopara as <strong>se</strong>guintes hipóte<strong>se</strong>s: H1 professores do gênerofeminino apre<strong>se</strong>ntam maior índice de Exaustão Emocionale menor de Despersonalização e Realização Profissionalque professores do gênero masculino; H2 Variáveisdemográficas, profissionais e comportamentais <strong>se</strong>associam às dimensões de Burn<strong>ou</strong>t de forma diferenciadaem professores do gênero masculino e feminino. <strong>Para</strong>tanto, busc<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> de<strong>se</strong>nvolver um estudo epidemiológicoob<strong>se</strong>rvacional analítico de corte transversal.MÉTODOParticipantesA amostra, de conveniência, <strong>se</strong> constituiu de 61homens e mulheres que exercem atividade docente emescolas públicas da cidade de Canoas, independente deestado civil e nível de ensino. Esta foi subdividida em31 homens e 30 mulheres. Todos os participante<strong>se</strong>xerciam a atividade docente há mais de <strong>se</strong>is me<strong>se</strong>s enão haviam estado em licença <strong>ou</strong> afastados do trabalhohá menos de dois me<strong>se</strong>s da coleta de dados.Instrumentos<strong>Para</strong> levantamento das variáveis demográficas,profissionais e comportamentais foi utilizado umquestionário elaborado especificamente para o estudovisando atender <strong>se</strong>us objetivos, tendo como ba<strong>se</strong> oreferencial teórico sobre a Síndrome de Burn<strong>ou</strong>t emprofessores. Foi realizado um estudo piloto com dez(N=10) professores a fim de verificar o adequadoentendimento das questões que compõem os instrumentos.<strong>Para</strong> avaliar a Síndrome de Burn<strong>ou</strong>t foi utilizado o MBI– Maslach Burn<strong>ou</strong>t Inventory – forma ED - professores,que apre<strong>se</strong>nta tradução para a língua portuguesa validadapor Benevides-Pereira (2001). O inventário é auto-aplicadoe totaliza 22 itens. Em <strong>sua</strong> versão americana, a freqüênciadas respostas é avaliada através de uma escala depontuação que varia de 1 a 7. Utilizamos, neste estudo, aversão MBI-ED para professores com validação para <strong>ou</strong>so no Brasil por Benevides-Pereira (2001). Utiliz<strong>ou</strong>-<strong>se</strong>ainda o sistema de pontuação de 1 a 5, também usado porPsicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 2 145-153
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