180 Raquel S<strong>ou</strong>za Lobo Guzzo, Patrícia do Carmo Pereira Ito e Cristiane Vallitemperamentais. Com es<strong>se</strong>s propósitos, váriosinstrumentos foram de<strong>se</strong>nvolvidos para a avaliação dotemperamento de crianças através do relato de <strong>se</strong>us pais,respondendo a um questionário (Carey & McDevitt,1989; Rothbart, 1989) e análi<strong>se</strong>s dos mesmos vêm <strong>se</strong>ndoconduzidas para o estudo de <strong>sua</strong>s característicaspsicométricas (Angleitner & Wiggins, 1986).A avaliação do comportamento de crianças feita pormeio do relato de pais <strong>ou</strong> responsáveis, é uma técnicade coleta de dados bastante utilizada em pesquisas detemperamento infantil (Mangelsdorf, Schoppe & Buur,2000). Pais <strong>ou</strong> responsáveis tem a possibilidade deob<strong>se</strong>rvar o comportamento da criança em uma variedadede contextos e situações, eles proporcionam informaçõessobre o comportamento infantil que de <strong>ou</strong>tra maneira<strong>se</strong>riam inacessíveis (Bosa & Piccinini, 1994; DiLalla &Jones, 2000).O interes<strong>se</strong> pela compreensão e avaliação dotemperamento infantil tem como principais precursoresChess e Thomas (1987), que numa abordageminteracionista de temperamento iniciaram em 1956importante estudo longitudinal conhecido na literaturacomo “New York Longitudinal Study – NYLS”. Nes<strong>se</strong>estudo Chess e Thomas (1987), por meio de uma análi<strong>se</strong>de conteúdo do relato de mães sobre o comportamentode <strong>se</strong>us bebês durante os <strong>se</strong>is primeiros me<strong>se</strong>s de vida,identificaram nove dimensões de temperamento, quesubmetidas a análi<strong>se</strong>s qualitativas da significânciafuncional, apoiadas pela análi<strong>se</strong> fatorial, agruparam-<strong>se</strong>em três constelações temperamentais: crianças detemperamento fácil, de temperamento difícil e deaquecimento lento (Chess & Thomas, 1987, 1991).Influenciada por Chess e Thomas (1987), Rothbart(1986) também tem <strong>se</strong>u interes<strong>se</strong> predominante noestudo do temperamento infantil, particularmente nacompreensão do de<strong>se</strong>nvolvimento do temperamento e<strong>se</strong>us componentes e a influência exercida por eles noprocesso de socialização e interações sociais da criança(Rothbart, 1986).Numa perspectiva mais biológica e fisiológica, Strelau(1989) de<strong>se</strong>nvolveu a Teoria Regulativa doTemperamento, a qual teve <strong>sua</strong>s concepções básicasformuladas no final da década de 1960 e início da décadade 1970, tomando como ponto de partida as concepçõesde funcionamento do sistema nervoso de Pavlov epesquisas e teorias de<strong>se</strong>nvolvidas nos períodos de 1950e 1960 (Strelau, 1989). Nesta perspectiva teórica, umdos instrumentos utilizado para avaliação dascaracterísticas temperamentais é a escala PavlovianTemperament Survey – PTS (Strelau, Angleitner &Newberry, 1999).A PTS foi construída objetivando avaliar a expressãocomportamental das propriedades do sistema nervosocentral, conforme entendido por Pavlov. Estas propriedadesforam caracterizadas do ponto de vista funcional, reforçandoo papel de<strong>se</strong>mpenhado por elas no processo de adaptaçãodo indivíduo ao ambiente e referem-<strong>se</strong> a traços gerais,revelados em todos os tipos de comportamento, incluindocaracterísticas, atividades verbais e reações emocionaismotoras (Strelau & cols., 1999).Inicialmente construída para avaliar o temperamentode adolescentes e adultos acima de 14 anos, foi adaptadapor Hoogendorp (1992) para avaliar o temperamentode crianças e adolescentes de 7 a 14 anos. Nesta novaversão, os itens da PTS foram reformulados para que<strong>se</strong> tornas<strong>se</strong>m repre<strong>se</strong>ntativos de comportamentos decrianças e adolescentes, <strong>se</strong>ndo mantida a mesmafundamentação teórica, dimensões avaliadas, número deitens e forma de pontuação da versão original destinadaa avaliar pessoas maiores de 14 anos. Pais <strong>ou</strong>responsáveis são solicitados a responder aos itens daescala pensando nos comportamentos e característicasde <strong>sua</strong> criança.A PTS versão 7 a 14 anos de<strong>se</strong>nvolvida porHoogendorp (1992) é composta por 252 itens queavaliam três dimensões de temperamento, ba<strong>se</strong>adas naspropriedades pavlovianas do Sistema Nervoso Central:1) Força de Excitação (FE) - caracteriza como oindivíduo reage frente a estimulação, está pre<strong>se</strong>nte em90 itens da escala; 2) Força de Inibição (FI) – avalia acapacidade do indivíduo refrear dado comportamentoquando necessário, 84 itens compõem esta dimensão;3) Mobilidade (MO) – avalia a habilidade do indivíduoresponder adequadamente a contínuas mudanças noambiente, pre<strong>se</strong>nte em 78 itens. <strong>Os</strong> 252 itens sãoavaliados no formato Likert, com quatro possibilidadesde resposta: concordo plenamente, concordo, discordoe discordo plenamente.No Brasil, os primeiros estudos sobre temperamentorealizados com a PTS envolveram a versão destinada aavaliação de características temperamentais deadolescentes e adultos (Guzzo, Riello & Primi, 1996;Guzzo, Riello, Serrano & Primi, 1997; Riello, 1999;Guzzo, Primi, Ito & Valli, 2000).Dando continuidade aos estudos sobre avaliação dotemperamento utilizando a escala PTS, es<strong>se</strong> estudo
Adaptação da Pavlovian Temperament Survey para a realidade brasileira - versão 7 a 14 anos 181busc<strong>ou</strong> adaptar a PTS versão 7 a 1 4 anos de<strong>se</strong>nvolvidapor Hoogendorp (1992) para a realidade brasileira como propósito de <strong>se</strong>lecionar os itens mais repre<strong>se</strong>ntativospara a descrição de crianças através do relato de <strong>se</strong>uspais e, considerando a importância da adequação<strong>se</strong>mântica e psicométrica de instrumentos para aavaliação psicológica no Brasil, possibilitar estudosfuturos do temperamento nesta faixa etária.Durante esta primeira etapa do estudo, foramrealizadas as atividades de tradução da escala do originalalemão (Hoogendorp, 1992) para o português, e <strong>sua</strong>retrotradução, de tal sorte que as duas escalas pudes<strong>se</strong>m<strong>se</strong>r comparadas com a escala em <strong>sua</strong> versão original.O processo de adaptação de instrumentos paraavaliação psicológica deve as<strong>se</strong>gurar a <strong>sua</strong> equivalênciacom versões de <strong>ou</strong>tras línguas e culturas, de tal formaque possibilite o de<strong>se</strong>nvolvimento de pesquisastransculturais e comparações internacionais. Hambleton(1994) destaca que a busca de padrões para a práticaequivalência dos itens com ba<strong>se</strong> na igualdade de <strong>se</strong>usignificado. Depois que os itens são consideradosadequados, a escala passa para uma fa<strong>se</strong> experimentalde aplicação em pais, os quais são solicitados a emitiremjulgamento sobre a pertinência dos itens na avaliaçãodo temperamento de <strong>se</strong>us filhos. Por sucessivasaplicações, foram considerados como itens da escala,aqueles que obtiveram avaliação 70% de comentáriospositivos quanto à <strong>sua</strong> intelegibilidade e pertinência paradescrição do temperamento infantil.A escala em <strong>sua</strong> versão final, tal como em <strong>sua</strong> versãooriginal, está composta por 252 itens distribuídos entreas três dimensões Força de Excitação (90 itens), Forçade Inibição (84 itens) e Mobilidade (78 itens) avaliadaspela PTS. Exemplos dos itens constituintes de cada umadas dimensões podem <strong>se</strong>r ob<strong>se</strong>rvados na Tabela 1.Como continuidade dos trabalhos para busca depadrões psicométricos para a versão brasileira, foramrealizados novos estudos com o instrumento emTabela 1: Exemplos de itens que compõem as dimensões Força de Excitação (FE), Força de Inibição (FI) e Mobilidade (MO)da escala Pavlovian Temperament Survey – PTS versão infantil.Dimensão ItemFE 043) Prefere estudar com o rádio ligado.154) Tem facilidade em manter-<strong>se</strong> calmo (a) e tranquilo (a) mesmo num clima agitado.172) Mantém-<strong>se</strong> atento em <strong>sua</strong>s atividades, mesmo com gente conversando alto por perto.FI 53) Con<strong>se</strong>gue esperar para abrir um pre<strong>se</strong>nte que acab<strong>ou</strong> de ganhar.134) Continua uma atividade já planejada até o fim, mesmo que sinta vontade de fazer <strong>ou</strong>tra coisa.185) Con<strong>se</strong>gue guardar <strong>se</strong>gredos quando solicitado.MO 12) Acostuma-<strong>se</strong> rapidamente com uma visista que chega de surpresa117) Aceita, facilmente, mudanças em <strong>sua</strong> rotina177) É facil dadaptar-<strong>se</strong> a mudanças repentinas em <strong>se</strong>u horário escolar.de avaliação e de<strong>se</strong>nvolvimento de instrumentos diagnósticos,tais como validade, fidedignidade e normatização,tem recebido muita atenção de estudiosos e pesquisadore<strong>se</strong>m diversos paí<strong>se</strong>s. Entretanto, percebe-<strong>se</strong> queprocedimentos para adaptação são objeto de menorcontrole, quando deveriam estar também <strong>se</strong>ndo de<strong>se</strong>nvolvidoscom igual <strong>ou</strong> superior interes<strong>se</strong>, uma vez quefazem parte do processo de pesquisa transcultural degrande importância internacional.O pre<strong>se</strong>nte estudo utiliz<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> do processo de versõessucessivas (Brislin, 1970) em que duas versões de umamesma escala são comparadas e avaliadas por juizestanto da língua original como daquela que é alvo daadaptação. Este procedimento favorece a avaliação dadiferentes populações. Catini (1999) de<strong>se</strong>nvolveu umestudo preliminar sobre as qualidades psicométricas daescala PTS versão 7 a 14 anos, no qual 72 crianças deambos os <strong>se</strong>xos, com idades entre 7 e 13 anos tiveram<strong>sua</strong>s características de temperamento avaliadas a partirdas respostas de <strong>sua</strong>s mães aos itens da escala. Nesteestudo foram obtidos índices de consistência interna,calculada pelo Alpha de Cronbach, satisfatórios nas trêsdimensões avaliadas pela escala (FE=0,90; FI=0,92;MO=0,89). Além de aplicar a PTS versão 7 a 14 anos,Catini (1999) também utiliz<strong>ou</strong> em parte das mães, paraavaliação das crianças, a PTS versão 14 a 18 anos –em fa<strong>se</strong> de normatização (Guzzo & cols., 2000) – ecorrelacion<strong>ou</strong> os resultados obtidos. Na comparação dosPsicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 2 179-183
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