101enquanto ele retruca “Que animal!” (1993, p. 60). O Capitão, porém, reconhece sua miséria esabe que foi iludi<strong>do</strong> com falsas promessas, por isso não tem esperanças <strong>de</strong> um futuro melhor:Naturalmente, fora vítima, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong>-se iludir, não atinan<strong>do</strong> nas conseqüências más,pensan<strong>do</strong> só nas vantagens. E que vantagens tirara? O coronel sim, vira-se livre <strong>de</strong>mais um adversário perigoso. Mas ele... Bem-feito, um índio cru se meten<strong>do</strong> com osgraú<strong>do</strong>s! (1993, p 60-61)No <strong>final</strong> da história, Fagun<strong>de</strong>s recebe uma intimação da Higiene, ou coloca o bolicheem perfeitas condições, ou fecha. O capitão sabe que irá fechar e com o tempo enlouquece,por culpa <strong>do</strong>s crimes cometi<strong>do</strong>s e pela falta <strong>de</strong> perspectiva <strong>de</strong> um futuro melhor.Em Porteira fechada, encontramos uma reação feminina frente às regras machistas quepermeavam a socieda<strong>de</strong> da época. Querubina representa a mulher leitora <strong>de</strong> revistas que,mesmo que seja uma futilida<strong>de</strong>, pelo menos já tem acesso à leitura. Maria José é a mulhertrabalha<strong>do</strong>ra, que auxilia no sustento da família com o trabalho autônomo e Fausta é aimagem <strong>de</strong> uma mulher que começa a enfrentar o homem em busca <strong>de</strong> seus direitos humanos.Esse romance, <strong>de</strong>ntre os três que compõem a trilogia, é o que mostra que a mulher estáconseguin<strong>do</strong> um espaço na socieda<strong>de</strong>, recém começa a encontrar aberturas para expressari<strong>de</strong>ias e sentimentos e, muitas vezes, impõe limites ao mari<strong>do</strong>. As mulheres <strong>de</strong>ssa obra dão osprimeiros passos em um caminho que ainda está com a porteira fechada.3.2.3 A opressão e as personagens femininas <strong>de</strong> Estrada novaO terceiro romance da trilogia <strong>do</strong> gaúcho a pé engloba situações <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1922 até os anos<strong>de</strong> 1951 a 1954 e narra os conflitos sociais, existenciais e econômicos <strong>do</strong> homem <strong>do</strong> campo<strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul. A história se passa no município fronteiriço <strong>de</strong> São João Batista e seuinterior, on<strong>de</strong> se localiza a Estância Velha, fazenda que pertence ao Coronel Teo<strong>do</strong>ro, um <strong>do</strong>sprincipais personagens da obra.A primeira personagem apresentada no romance é Ricar<strong>do</strong>, um jovem <strong>de</strong> aparênciadiscreta, que <strong>de</strong>ixa o campo para prestar o serviço militar na cida<strong>de</strong>. O rapaz vive em Porto
102Alegre e trabalha como conta<strong>do</strong>r. É filho <strong>de</strong> Janguta e Francisca que vivem no interior <strong>de</strong> SãoJoão Batista nas terras pertencentes à viúva Antônia. Na cida<strong>de</strong>, o jovem mora em umapensão e ao presenciar o suicídio <strong>do</strong> velho Policarpo, amigo e companheiro <strong>de</strong> pensão que<strong>de</strong>ci<strong>de</strong> morrer por ter perdi<strong>do</strong> suas proprieda<strong>de</strong>s e ter si<strong>do</strong> obriga<strong>do</strong> a aban<strong>do</strong>nar o campo, ojovem <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> visitar sua família “uma visita, na verda<strong>de</strong>, bastante forçada pelascircunstâncias” (1992, p. 14). Visita forçada porque sente a obrigação <strong>de</strong> ver como estão ospais já que a cada ano mais campesinos são obriga<strong>do</strong>s a mudarem para a cida<strong>de</strong> por não teron<strong>de</strong> morar no interior.No trem on<strong>de</strong> rumava para a casa <strong>de</strong> seus pais, Ricar<strong>do</strong> encontra seu Fábio, arrendatáriodas terras <strong>do</strong> Espinilho, gran<strong>de</strong> fazenda da região <strong>de</strong> São João Batista. Os <strong>do</strong>is começam aconversar e o jovem percebe que Fábio está encolhi<strong>do</strong>, com a voz preocupada e tristonha.Então Ricar<strong>do</strong> <strong>de</strong>scobre que a fazenda <strong>do</strong> Espinilho fora comprada por um castelhanoendinheira<strong>do</strong> e que Fábio ficara sem moradia, na verda<strong>de</strong>, estava viajan<strong>do</strong> à procura <strong>de</strong>emprego, mas sentia que sua vida terminaria nos arrabal<strong>de</strong>s <strong>de</strong> alguma cida<strong>de</strong>.Quan<strong>do</strong> chega ao seu <strong>de</strong>stino, São João Batista, Ricar<strong>do</strong> avista um rancho compri<strong>do</strong>,distante uns mil metros da estação e pergunta a um menino se ali ainda mora o seu Osório,como o garoto lhe respon<strong>de</strong> que sim, <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> visitar o velho amigo que o conhece <strong>de</strong>s<strong>de</strong> guripara passar a noite e seguir seu caminho <strong>de</strong> manhã ce<strong>do</strong>.De Osório, Ricar<strong>do</strong> ouve o drama que enfrentam os pobres da campanha: “[...] não haymais pobres, porque os ricos correram com to<strong>do</strong>s que havia por aqui!” (1992, p. 34). Issoporque os fazen<strong>de</strong>iros cercavam as pequenas proprieda<strong>de</strong>s compran<strong>do</strong> terras ao re<strong>do</strong>r parapressionar, <strong>de</strong> toda forma, os minifundiários à venda das suas. Quan<strong>do</strong> isso acontecia ospequenos proprietários eram obriga<strong>do</strong>s a <strong>de</strong>ixar a fazenda. Enquanto conversam, Ricar<strong>do</strong>encanta-se pelas feições bonitas <strong>de</strong> Celeste, filha <strong>de</strong> Osório, ainda moça que vem chamá-lospara jantar.No outro dia, <strong>de</strong> manhã, Ricar<strong>do</strong> <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> seguir viagem e consegue um cavaloempresta<strong>do</strong> com o amigo. Ao avistar o rancho humil<strong>de</strong> on<strong>de</strong> vivem Janguta, Francisca e afilha Rosa, Ricar<strong>do</strong> sente sauda<strong>de</strong>s e relembra seu tempo <strong>de</strong> infância. Tu<strong>do</strong> parece estar <strong>do</strong>mesmo jeito em que estava quan<strong>do</strong> partira, tu<strong>do</strong> parece estar tranqüilo: “- Tu<strong>do</strong> no mesmo poraqui, mocito, não se arreceie <strong>de</strong> apear! – pareciam dizer-lhe a quincha arrepiada da cumeeira,
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