109dia, à tardinha visita o centro <strong>do</strong> parti<strong>do</strong> e à noite encontra-se com a amante. Ela não é amadapelo mari<strong>do</strong>, pois durante o jantar, ele não agüenta a comichão erótica que tumultua seuíntimo pensan<strong>do</strong> no encontro com Lolita e classifica a mulher e as amigas como “velhotas”(1992, p. 137) as quais não suporta a presença.Como po<strong>de</strong>mos perceber, em Estrada nova, Cyro apresenta a mulher tímida, oprimida,tratada como um objeto que pertence a seu mari<strong>do</strong>. Ela aceita o casamento por interesse, ésubmissa ao mari<strong>do</strong>, divi<strong>de</strong>-o com a amante e passa seus dias a cuidar da casa e a rezar. Aoração torna-se um meio <strong>de</strong> fuga, <strong>de</strong> esquecimento <strong>do</strong>s problemas e <strong>de</strong> aceitação dasinjustiças sofridas. Assim, indiferente da classe social a que pertencem elas são solitárias,trêmulas, não opinam, andam com passos leves, miudinhos, quase a <strong>de</strong>slizar, silenciosas,encolhidas, esperan<strong>do</strong> a primeira or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> mari<strong>do</strong> para que possam cumpri-la rapidamente.Elas não têm nenhuma liberda<strong>de</strong>, limitam-se a suspirar e rezar quan<strong>do</strong> as coisas nãoacontecem como <strong>de</strong>sejam, estão a procura <strong>de</strong> uma esperança, melhores condições <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong>uma nova estrada on<strong>de</strong> seja possível ser feliz.3.2.4 Consi<strong>de</strong>rações sobre a mulher gaúcha <strong>do</strong> início século XX <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com aspersonagens da trilogia <strong>de</strong> Cyro MartinsApós a leitura <strong>de</strong>ssas obras refletimos a respeito da opressão vivida pelas mulheresdurante séculos. Quan<strong>do</strong> nascemos, nosso sexo é <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> pela natureza, mas a condutadiferenciada <strong>de</strong>stinada a cada sexo <strong>de</strong>corre diretamente da formação e educação querecebemos no meio social. A socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>fine os papéis que <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>sempenha<strong>do</strong>s porhomens e mulheres <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com sua cultura e classes sociais. Como vimos em cada perío<strong>do</strong>histórico os sexos <strong>de</strong>sempenharam diferentes funções.As pessoas são educadas e formadas diariamente, pelas escolas, pela família, Igreja,meios <strong>de</strong> comunicação, leis, etc. Dessa maneira, a cultura <strong>de</strong> um povo torna-se responsávelpelos papéis <strong>de</strong>siguais da mulher e <strong>do</strong> homem, o que traz graves consequências à socieda<strong>de</strong>em geral. Segun<strong>do</strong> Marodim esses comportamentos diferencia<strong>do</strong>s entre os sexos parte dafamília <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o nascimento, já que cabe a ela a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transmitir “normas e
110valores da cultura, ensinan<strong>do</strong> aos indivíduos o que significa ser masculino e feminino a partir<strong>do</strong> nascimento.” (1997, p. 10)Dessa maneira, à mulher foi atribuída, como função primordial, a reprodução, além dasubmissão ao companheiro, pois o homem é responsável pelas relações familiares,comerciais, profissionais e intelectuais. Isso averiguamos nas personagens femininas emasculinas das três obras que compõem a trilogia <strong>do</strong> gaúcho a pé: Sem rumo, Porteirafechada e Estrada nova.As mulheres <strong>de</strong>ssas obras são extremamente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>do</strong>s mari<strong>do</strong>s em sua gran<strong>de</strong>maioria. Em Estrada nova, Almerinda, Francisca e Alcina representam esse mo<strong>de</strong>lopadroniza<strong>do</strong> pela socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> comportamento feminino. Em Sem rumo Alzira e Evaristaexpressam o sofrimento que enfrentam por causa das regras <strong>de</strong> conduta feminina que <strong>de</strong>vemseguir. Assim, Evarista sofre por ter ti<strong>do</strong> filhos antes <strong>do</strong> casamento e pela rejeição <strong>do</strong>companheiro. A vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong>la é <strong>de</strong> dissolver a união, mas não se atreve por me<strong>do</strong> e mantém ocompromisso nos mol<strong>de</strong>s pré-estabeleci<strong>do</strong>s pela socieda<strong>de</strong>.Alzira, por sua vez assume o papel que lhe cabe: a maternida<strong>de</strong>. Quan<strong>do</strong> foge comChiru <strong>do</strong> campo i<strong>de</strong>aliza uma vida melhor na cida<strong>de</strong>, como isso não acontece <strong>de</strong>cepciona-se esente-se oprimida, mas <strong>de</strong>sempenha a função <strong>de</strong> mãe fervorosamente. Quan<strong>do</strong> se sente fraca ecansada <strong>de</strong> carregar o filho no colo pensa em pedir ajuda ao pai <strong>do</strong> menino, porém, ao veroutras mulheres seguram seus filhos, recompõem-se <strong>do</strong> cansaço ligeiramente e ce<strong>de</strong> aosvalores que lhe cabem como mãe e esposa, obediente.Em Porteira fechada, Maria José, Querubina e Fausta são mulheres <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong>sfortes, que em muitos momentos conseguem impor suas opiniões, mas <strong>de</strong> maneira algumaabdicam <strong>de</strong> suas obrigações maternas. Maria José é amiga e leal ao esposo, João Gue<strong>de</strong>s.Devi<strong>do</strong> às dificulda<strong>de</strong>s financeiras que enfrenta sua família ela cria um trabalho autônomo oque representa um novo padrão <strong>de</strong> comportamento feminino, mas quan<strong>do</strong> a filha foge com onamora<strong>do</strong> ela não aceita, chaman<strong>do</strong>-a <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>la esquentada, pois vê nisso um comportamentopecaminoso e indigno <strong>de</strong> uma moça.Fausta é uma mulher que se revolta com as atitu<strong>de</strong>s <strong>do</strong> mari<strong>do</strong>. Ela não aceita oservilismo <strong>de</strong>le para com os políticos que lhe fazem falsas promessas <strong>de</strong> aposenta<strong>do</strong>ria.
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