53Sul buscan<strong>do</strong> comida e matan<strong>do</strong> ga<strong>do</strong> xucro para o abastecimento da gran<strong>de</strong> massapopulacional que concentravam as minera<strong>do</strong>ras. As vacarias eram atacadas por tropeiros econtrabandistas, tipos sociais da época, <strong>de</strong>scritos por Sandra Jatay Pesavento: “O tipo socialpor excelência <strong>de</strong>ste perío<strong>do</strong> – o tropeiro – era necessariamente um chefe <strong>de</strong> ban<strong>do</strong> arma<strong>do</strong>”(2002, p. 14).A distribuição das sesmarias gaúchas ocorreu na década <strong>de</strong> 1730. Ga<strong>do</strong>s e terras foramdistribuí<strong>do</strong>s para tropeiros e militares que <strong>de</strong>ram baixa, assim surgiram as primeiras gran<strong>de</strong>sestâncias Sul- riogran<strong>de</strong>nses. Essas estâncias possuíam expressivos rebanhos e tinham comomão-<strong>de</strong>-obra para os serviços campesinos os peões, que nada mais eram que homens sempara<strong>de</strong>iro, sem moradia, como alguns índios fugitivos e tropeiros <strong>de</strong> ga<strong>do</strong>, sempre subalternosa seus senhores. Nas obras literárias encontramos a Estância <strong>do</strong> Silêncio, <strong>de</strong> Sem rumo, aEstância <strong>do</strong>s Salsos, <strong>de</strong> Porteira fechada e a Estância Velha <strong>de</strong> Estrada nova paraexemplificar essas gran<strong>de</strong>s fazendas retratadas na história, que, mesmo estan<strong>do</strong>exemplificadas em obras literárias que focalizam um tempo posterior, resquícios da época dacolonização.Os estancieiros tinham como mão-<strong>de</strong>-obra barata os peões, que eram geralmente,homens sem um rumo <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> para suas vidas, sem, muitas vezes saber <strong>de</strong> on<strong>de</strong> surgiram,qual era sua origem e <strong>de</strong>scendência. Esses tipos humanos são representa<strong>do</strong>s em Sem rumopelas personagens <strong>de</strong> Clarimun<strong>do</strong> e Chiru.Clarimun<strong>do</strong> é retrata<strong>do</strong> pelo narra<strong>do</strong>r como um homem seco e <strong>de</strong> traços indígenas, sua<strong>de</strong>scendência, talvez, viesse <strong>do</strong>s índios que fugiram das Missões e buscaram abrigos nasfazendas: “Clarimun<strong>do</strong> não a cumprimentou nem olhou para ela. Arrastou o banco com o pé esentou-se com o porte entona<strong>do</strong> <strong>de</strong> quem manda. Torceu <strong>de</strong>vagar, distraí<strong>do</strong>, as pontas <strong>do</strong>bigo<strong>de</strong> ralo, <strong>de</strong> índio” (1997, p.40).Chiru é um menino que vive na Estância <strong>do</strong> Silêncio. Não lembra <strong>do</strong>s pais, nem sabequem são e <strong>de</strong>sconhece seu local <strong>de</strong> origem. Não tem um nome propriamente dito, conhece-seapenas por Chiru, afilha<strong>do</strong> <strong>de</strong> Nicanor Ayres, <strong>do</strong>no <strong>do</strong> Silêncio:
54Em to<strong>do</strong> o caso, se chegasse a vez...não <strong>de</strong>smentiria a raça. Raça? Quem seria o seupai? Um índio guapo, talvez um índio vago... Se lhe perguntassem na coluna o nome<strong>de</strong> seu pai, o que respon<strong>de</strong>ria? Diria a verda<strong>de</strong>? Diria? Uma pergunta daquelas lhefaria um re<strong>de</strong>moinho nas i<strong>de</strong>ias. Mas, se fosse o caso, total, na guerra como naguerra... Respon<strong>de</strong>ria , até meio entona<strong>do</strong>: “Seu comandante, eu não tenho marca,não conheço pai nem mãe! Não sou <strong>de</strong> gente <strong>de</strong> condição. Sou afilha<strong>do</strong> <strong>de</strong> seuNicanor Ayres, isso sim, <strong>do</strong>no <strong>do</strong> Silêncio.” (1997, p. 82-83)Através <strong>do</strong> trabalho árduo e não recompensa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s peões <strong>de</strong> estância o Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong>Sul <strong>de</strong>senvolveu como fruto principal <strong>de</strong> sua economia o charque e com o crescimento dascharqueadas foi sen<strong>do</strong> introduzi<strong>do</strong> no Esta<strong>do</strong> o trabalho escravo. O negro foi o principaltrabalha<strong>do</strong>r das charqueadas sulinas e permaneceu como serviçal nas fazendas duranteséculos, já que a lei Áurea foi assinada em 1888 e em mea<strong>do</strong>s da década <strong>de</strong> 1950 no livroEstrada nova Dona Almerinda tem como serviçais <strong>do</strong>mésticas e amigas duas negras, umavelha, chamada Anastácia, outra nova com o nome <strong>de</strong> Amélia, que trabalham na Estância etem como pagamento <strong>de</strong> seus serviços o local para morar e a comida, em nenhum momento émenciona<strong>do</strong> o pagamento das duas serviçais.A atitu<strong>de</strong> <strong>do</strong> Coronel Teo<strong>do</strong>ro com Anastácia revela o autoritarismo e o man<strong>do</strong>nismocom que agia em relação a seus emprega<strong>do</strong>s. Após uma gran<strong>de</strong> reflexão a respeito da vida quelevava, e <strong>do</strong>s tempos que apresentavam mudanças no seu sistema <strong>de</strong> vida, fatiga<strong>do</strong> da vida e<strong>do</strong>s homens, Teo<strong>do</strong>ro pe<strong>de</strong> um copo <strong>de</strong> água à negra Anastácia e lhe agra<strong>de</strong>ce pela primeiravez em anos <strong>de</strong> serviço, expressan<strong>do</strong> que recém havia se da<strong>do</strong> conta <strong>de</strong> que a negra não tinhaobrigação <strong>de</strong> servi-lo como pensava:- Me dá um copo d’água, Anastácia! – disse Teo<strong>do</strong>ro, com uma maciez que não lheera comum. Ao mesmo tempo pensava: garanti<strong>do</strong> que o diabo da china já havia <strong>de</strong>estar farejan<strong>do</strong> o que lhe passava pela cabeça. Aquilo era um azougue.- Gracias, estava bem fresca.Anastácia branqueou os olhos com espanto. Ué, o que estaria para acontecer santoDeus? Não tinha lembrança <strong>de</strong> lhe ouvir um muito obriga<strong>do</strong>, por mais que ela lheservisse com o melhor jeito <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. (1992, p. 191)Com a gran<strong>de</strong> produção e venda <strong>de</strong> charque para as minera<strong>do</strong>ras <strong>do</strong> centro <strong>do</strong> país,surgiu, no esta<strong>do</strong> gaúcho a primeira camada social rica, não tão aristocrática quanto aaçucareira nor<strong>de</strong>stina, mas com vozes <strong>de</strong> man<strong>do</strong> muita vezes autoritárias, pois mesmo que oEsta<strong>do</strong> fosse o último a ser coloniza<strong>do</strong> em nível nacional e o último a utilizar trabalho escravosempre houve relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r entre as camadas sociais: “Isso todavia não indica quepadrões autoritários <strong>de</strong> man<strong>do</strong> não tenham existi<strong>do</strong> e se exerci<strong>do</strong> violentamente, numa
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