43White ainda consi<strong>de</strong>ra o bom historia<strong>do</strong>r aquele que tem consciência <strong>do</strong> trabalho e dapesquisa que elabora, que consi<strong>de</strong>ra a brevida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>scobertas, que po<strong>de</strong>m, ou não,serem passageiras. Esse historia<strong>do</strong>r é aquele que lembra seu leitor sobre a natureza provisória<strong>de</strong> suas <strong>de</strong>scobertas e reconhece seus registros como incompletos. Esse crítico <strong>final</strong>iza<strong>de</strong>finin<strong>do</strong> a escrita histórica como literária, cria<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> ficção:O mo<strong>do</strong> como uma <strong>de</strong>terminada situação histórica <strong>de</strong>ve ser configurada <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> dasutileza com que o historia<strong>do</strong>r harmoniza a estrutura específica <strong>de</strong> enre<strong>do</strong> comoconjunto <strong>de</strong> acontecimentos históricos aos quais <strong>de</strong>seja conferir um senti<strong>do</strong>particular. Trata-se essencialmente <strong>de</strong> uma operação literária, vale dizer, cria<strong>do</strong>ra <strong>de</strong>ficção. (2001, p. 102)Dessa maneira, po<strong>de</strong>mos concluir que o ponto <strong>de</strong> vista difere <strong>de</strong> historia<strong>do</strong>r parahistoria<strong>do</strong>r, pois um mesmo fato po<strong>de</strong> ser conta<strong>do</strong> sob diversos ângulos, diferentes opiniões einterpretações. O autor <strong>de</strong> História tem certa liberda<strong>de</strong> em escolher a maneira como irá relataros fatos <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o público a que se <strong>de</strong>stina. Por isso, a História está a to<strong>do</strong> o momentopermeada <strong>de</strong> ficção, mesmo que tenha que provar seus fatos, existe a liberda<strong>de</strong> imaginária nomomento em que o historia<strong>do</strong>r relata os fatos que pesquisou. Portanto, a História possuificção em suas páginas, não tanto como no texto literário, mas mais <strong>do</strong> que muitas vezessupomos.2.1.6 A Literatura como fonte da pesquisa históricaAo pensarem na complexida<strong>de</strong> da História, os historia<strong>do</strong>res voltaram-se para o estu<strong>do</strong>das diversas linguagens presentes na vida cotidiana <strong>do</strong> ser humano e que po<strong>de</strong>m revelar muito<strong>de</strong> seu passa<strong>do</strong>. Para dar conta da tarefa que lhe cabe, o historia<strong>do</strong>r atual sente-se na obrigação<strong>de</strong> variar seu material investigativo, voltan<strong>do</strong> sua atenção para as diversas formas <strong>de</strong>expressão humana: literatura, música, pintura, relatos, etc. Tu<strong>do</strong> se constitui em fontes para apesquisa histórica, basta que o pesquisa<strong>do</strong>r tenha seleciona<strong>do</strong> seu tema e elabora<strong>do</strong> suasperguntas. Através disso, ele <strong>de</strong>scobre e coleta da<strong>do</strong>s que buscam explicar como ocorreu<strong>de</strong>termina<strong>do</strong> fato passa<strong>do</strong>.A narrativa ficcional tornou-se um objeto extremamente valioso para o historia<strong>do</strong>r, porrevelar tensões e testemunhos <strong>de</strong> uma época, conforme comenta Maria Pilar <strong>de</strong> Araújo Vieira:
44“É um objeto privilegia<strong>do</strong> para alcançar mudanças não apenas registradas pela Literatura, masprincipalmente, mudanças que se transformaram em literatura, pois, mais <strong>do</strong> que dar umtestemunho, ela revelará momentos <strong>de</strong> tensão” (1989, p.21)A Literatura constitui uma fonte para a História porque representa sensivelmente omun<strong>do</strong> e essa outra maneira <strong>de</strong> ver a realida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> orientar o historia<strong>do</strong>r para outras fontes,on<strong>de</strong> ele possa observar com um olhar diferencia<strong>do</strong> <strong>do</strong> costumeiro. Dessa maneira, aLiteratura torna-se uma fonte especial para o historia<strong>do</strong>r, ao lhe oferecer acesso ao imaginário,que, por sua vez, permitirá que ele enxergue traços e pistas diferentes das oferecidas poroutras fontes.Sandra Jatahy Pesavento concorda que a Literatura é uma gran<strong>de</strong> fonte <strong>de</strong> pesquisahistórica e salienta que o historia<strong>do</strong>r, ao pesquisar um acontecimento em uma obra literária<strong>de</strong>ve examinar, acima <strong>de</strong> tu<strong>do</strong>, a representação <strong>de</strong> mun<strong>do</strong> presente nela: “Para o historia<strong>do</strong>r aliteratura continua a ser <strong>do</strong>cumento ou fonte, mas o que há para ler nela é a representação queela comporta.” (1998, p.22)De certa maneira o texto literário apresenta um engajamento político, pois para serformula<strong>do</strong> houve uma seleção, por parte <strong>do</strong> escritor, <strong>de</strong> imagens e discursos, recrian<strong>do</strong> amemória social <strong>de</strong> um povo <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada época. Cyro Martins em A criação artística e apsicanálise apresenta o escritor como um ser que expressa o seu tempo, participante ativo dasocieda<strong>de</strong>: “Na verda<strong>de</strong>, a gran<strong>de</strong>za <strong>do</strong> artista <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> essencialmente <strong>de</strong> sua autenticida<strong>de</strong>. Eesta <strong>de</strong>corre da fertilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> solo humano no qual sua inspiração se enraíza. Essas raízes ofazem necessariamente partícipe <strong>do</strong> campo social.” (1970, p. 40)Vieira menciona a gran<strong>de</strong> carga <strong>de</strong> realida<strong>de</strong> social expressa no livro <strong>de</strong> ficção literária,e comenta a gran<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> da ficção literária em formular para o leitor problemas sociaismuito pareci<strong>do</strong>s com os reais enfrenta<strong>do</strong>s pelas pessoas <strong>de</strong> diferentes épocas, com ahabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enfocar por vários ângulos a situação vivenciada:Ela po<strong>de</strong> expressar possíveis não realiza<strong>do</strong>s. Oferece uma avaliação <strong>do</strong> real namedida em que tem uma visão problemática da realida<strong>de</strong>. Nessa avaliação acabaselecionan<strong>do</strong> a existência <strong>de</strong> elementos que obstaculizam a realização das propostase elementos que ajudam. ( 1989, p. 21)
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