19Ao abordar o tema <strong>do</strong> êxo<strong>do</strong> rural Cyro Martins procura recriar em sua ficção literáriauma época histórica <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul no início <strong>do</strong> século XX. Dessa forma esse autor seenquadra na classificação <strong>de</strong> Fabio Lucas (1970, p. 52) como um ficcionista social, poisprocura retratar em suas personagens tipos e heróis sem perspectivas <strong>de</strong> um futuro melhor,mutila<strong>do</strong>s pela socieda<strong>de</strong>, mas que aspiram ser íntegros, mesmo que essa socieda<strong>de</strong> os force atomar atitu<strong>de</strong>s consi<strong>de</strong>radas errôneas. Para esse autor, o caráter social da ficção brasileiraaparece “[...] quan<strong>do</strong> as personagens e as situações criadas possam constituir expressão viva<strong>de</strong> relações entre grupos sociais.” ( 1970, p. 53).Ao estudarmos um autor que afirma preten<strong>de</strong>r expressar uma realida<strong>de</strong> vivenciada nacampanha gaúcha em suas páginas <strong>de</strong> ficção, a<strong>de</strong>ntramos no princípio da representaçãoliterária. Sobre esse assunto consi<strong>de</strong>ramos os estu<strong>do</strong>s e opiniões <strong>de</strong> Fabio Lucas quan<strong>do</strong>afirma que “Não po<strong>de</strong>mos esquecer nunca da obra <strong>de</strong> arte como forma <strong>de</strong> conhecimento eaprofundamento <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> real.” (1970, p. 15), ou a reflexão <strong>de</strong> Antonio Candi<strong>do</strong> aocomentar sua visão <strong>de</strong> Literatura como uma transposição <strong>do</strong> real on<strong>de</strong> “[...] se combinam umelemento <strong>de</strong> vinculação à realida<strong>de</strong> natural ou social, e um elemento <strong>de</strong> manipulação técnica[...]” (2002, p 53) e Hay<strong>de</strong>n White, quan<strong>do</strong> expõe que na História há tanta ficção quanto naLiteratura e, por isso, essa última também po<strong>de</strong> ser vista como um registro histórico concretoe acessível para o pesquisa<strong>do</strong>r da área:Tampouco é incomum para os teóricos da literatura, quan<strong>do</strong> se referem ao“contexto” <strong>de</strong> uma obra literária, supor que esse contexto – o “meio histórico” – temuma concretu<strong>de</strong> e uma acessibilida<strong>de</strong> que a obra em si nunca po<strong>de</strong> ter, como se fossemais fácil perceber a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um mun<strong>do</strong> passa<strong>do</strong> constituí<strong>do</strong> com base emmilhares <strong>de</strong> <strong>do</strong>cumentos históricos <strong>do</strong> que sondar as profun<strong>de</strong>zas <strong>de</strong> uma única obraliterária que se apresenta aos olhos <strong>do</strong> crítico que a estuda. Mas a suposta concretu<strong>de</strong>e acessibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s meios históricos, estes contextos <strong>do</strong>s textos examina<strong>do</strong>s porestudiosos da literatura, são elas próprias produtos da capacida<strong>de</strong> fictícia <strong>do</strong>shistoria<strong>do</strong>res que estudaram estes contextos. (2001, p. 106)Como enten<strong>de</strong>mos a Literatura como uma forma <strong>de</strong> conhecimento <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> em quevivemos, temos por objetivo <strong>de</strong>sse trabalho verificar como é construída a história,principalmente a história das mulheres, nas narrativas literárias. Procuramos mostrar que aLiteratura transmite um conhecimento histórico ao leitor e, portanto, Cyro Martins, em suatrilogia, apresenta o Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul <strong>do</strong> início <strong>do</strong> século XX com os problemas enfrenta<strong>do</strong>spelo povo gaúcho. Se ele expressa em suas linhas os problemas que enfrentava a socieda<strong>de</strong>
20gaúcha na época, também apresenta a mulher gaúcha caracterizada com sua submissão esilêncio. Poucos livros <strong>de</strong> História <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul enfocam a vida que levavam asmulheres nesse Esta<strong>do</strong>, pois houve a preocupação <strong>do</strong>s historia<strong>do</strong>res em relatar os gran<strong>de</strong>sfeitos heróicos <strong>do</strong>s homens gaúchos nas guerras em que lutaram. Por isso buscamos naLiteratura ficcional estudar as personagens femininas <strong>de</strong> Sem rumo, Porteira fechada eEstrada nova. Acreditamos que nessas obras, Cyro Martins expõe com maestria como era avida <strong>de</strong>ssas mulheres, duplamente oprimidas em relação aos homens <strong>do</strong> tempo.Nosso trabalho será composto <strong>de</strong> três capítulos. No primeiro capítulo, <strong>de</strong>fundamentação teórica, enfocamos o psicanalista e escritor Cyro Martins e as concepções <strong>de</strong>respeitáveis escritores, críticos e psicanalistas sobre a vida e obra literária <strong>de</strong>sse importanteautor.Já no segun<strong>do</strong> capítulo realizamos, primeiramente, uma explanação teórica a respeito<strong>do</strong>s conhecimentos históricos e literários, para isso utilizamos concepções e opiniões <strong>de</strong>diversos estudiosos <strong>do</strong> assunto como Hay<strong>de</strong>n White, Elizabeth Torresini, Sandra JatahyPesavento, Paul Veyne e outros. A seguir, elaboramos uma análise literário-histórica dasobras que constituem a trilogia <strong>do</strong> gaúcho a pé. Nelas, observamos como a história estápresente nas narrativas literárias em estu<strong>do</strong>. Os fatos da história gaúcha em que nos baseamose elaboramos a análise foram retira<strong>do</strong>s <strong>do</strong> livro História <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul <strong>de</strong> SandraJatahy Pesavento.Por fim, no terceiro e último capítulo, organizamos um estu<strong>do</strong> histórico das mulheres,basea<strong>do</strong> na pesquisa <strong>de</strong> Rosalind Miles com a obra A história <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> pela mulher e <strong>de</strong>maisobras que vieram a enriquecer o assunto. Após esse apanha<strong>do</strong> histórico formamos uma análisedas personagens das três obras em estu<strong>do</strong>, principalmente das personagens femininas,buscan<strong>do</strong> enten<strong>de</strong>r o contexto social, econômico e cultural <strong>do</strong> universo feminino presente natrilogia <strong>do</strong> gaúcho a pé, <strong>de</strong> Cyro Martins.
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