271.2 Trilogia <strong>do</strong> gaúcho a pé: uma gênese <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação sócio-econômica<strong>do</strong> homem <strong>do</strong> campo sul-rio-gran<strong>de</strong>nseEm sua trilogia Cyro Martins procura dar uma possível explicação para a miséria que hánas gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s gaúchas, principalmente ao re<strong>do</strong>r <strong>de</strong>las, em sua periferia. Sua obra narra agênese <strong>de</strong>sse processo <strong>de</strong> superlotação das gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s, tal como se vê hoje.De certa maneira Érico Veríssimo e Cyro Martins abordam o mesmo tema: o RioGran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul em sua fase campesina, das gran<strong>de</strong>s fazendas <strong>de</strong> campanha e sua criação <strong>de</strong>ga<strong>do</strong>, base da economia sul- riogran<strong>de</strong>nse da época. Uma das diferenças <strong>de</strong> estilo entre os<strong>do</strong>is escritores está no fato <strong>de</strong> Érico enfocar preferencialmente em seus romances a classe alta,<strong>de</strong> condições sociais e econômicas elevadas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> seu início até seu fim, sua ruína; CyroMartins, pelo contrário, preocupa-se em dar voz aos pequenos proprietários, peões, posteiros,arrendatários, carreteiros, agrega<strong>do</strong>s e outros tipos sociais <strong>de</strong>sampara<strong>do</strong>s, que per<strong>de</strong>ram opouco que tinham e se viram obriga<strong>do</strong>s a migrar para a cida<strong>de</strong> em busca <strong>de</strong> um futuro melhorpara a família.Nesse texto, procuramos antecipar brevemente o enre<strong>do</strong> <strong>do</strong>s livros que compõem atrilogia em estu<strong>do</strong> e que será melhor <strong>de</strong>senvolvida nos capítulos <strong>de</strong> análise. Já queapresentamos comentários críticos sobre suas obras, é importante que possamos enten<strong>de</strong>r umpouco <strong>do</strong> universo ficcional <strong>de</strong> Sem rumo, Porteira fechada e Estrada nova.Em Sem rumo é narrada a vida <strong>de</strong> um peão <strong>de</strong> estância chama<strong>do</strong> Chiru, que vive naEstância <strong>do</strong> Silêncio e é cria<strong>do</strong> livremente. Devi<strong>do</strong> às surras e humilhações que sofre <strong>do</strong>capataz <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> fugir da estância ainda jovem. Após sua fuga, tenta ganhar a vida <strong>de</strong> diversasmaneiras como carreteiro, mascate e boteiro, sen<strong>do</strong> que à época <strong>de</strong>ssa última ocupação eraano <strong>de</strong> eleição (primeira vez <strong>do</strong> voto secreto no Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul) e Chiru i<strong>de</strong>ntifica-se coma i<strong>de</strong>ologia <strong>do</strong> parti<strong>do</strong> da oposição, por isso sofre gran<strong>de</strong> pressão <strong>do</strong> parti<strong>do</strong> que está no po<strong>de</strong>r.Chega<strong>do</strong> o dia da votação ele se atrapalha ao <strong>de</strong>positar a cédula e essa sua atitu<strong>de</strong> éinterpretada como prova <strong>de</strong> infi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>, o que lhe causa a perda <strong>do</strong> emprego <strong>de</strong> boteiro. Aoencontrar outro serviço numa obra <strong>do</strong> governo, na construção <strong>de</strong> uma ferrovia, é novamente<strong>de</strong>miti<strong>do</strong> acusa<strong>do</strong> <strong>de</strong> ter apoia<strong>do</strong> a oposição. No fim <strong>do</strong> romance Chiru não sabe em quem
28votou, e sua família está sem <strong>de</strong>stino, novamente <strong>de</strong>semprega<strong>do</strong>, Chiru está, literalmente, semrumo.Em Porteira fechada o autor utiliza a técnica <strong>do</strong> flash back, pois a história inicia peloseu fim, o narra<strong>do</strong>r retroce<strong>de</strong> no tempo e remete o leitor ao passa<strong>do</strong>, para relatar a vida <strong>de</strong>Gue<strong>de</strong>s e sua família. João Gue<strong>de</strong>s arrenda um pequeno pedaço <strong>de</strong> terra que lhe serve apenaspara sustento <strong>de</strong> um fazen<strong>de</strong>iro, que se enforca por causa <strong>de</strong> dívidas. A terra passa, então, paraJúlio Bica, estancieiro local que aumenta suas proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>masiadamente. Ao assumir aproprieda<strong>de</strong> Júlio Bica exige que Gue<strong>de</strong>s aban<strong>do</strong>ne sua terra com a explicação <strong>de</strong> que fará láum campo para o engor<strong>de</strong> <strong>de</strong> bois. Dessa maneira, Gue<strong>de</strong>s, sua esposa e mais cinco filhospartem à cida<strong>de</strong> para tentar uma vida melhor.Na cida<strong>de</strong> Gue<strong>de</strong>s não encontra emprego, o que o leva a beber e frequentar um boliche,on<strong>de</strong> faz amiza<strong>de</strong>s com outros que estão na mesma situação. Ao ver a família passar fome, eleobriga-se a roubar ovelhas das fazendas próximas da cida<strong>de</strong> para ven<strong>de</strong>r o pelego e utilizar acarne como alimento. Num <strong>de</strong>sses roubos é preso em flagrante e vai preso. Sua esposa tenta<strong>de</strong> todas as maneiras libertá-lo e pe<strong>de</strong> auxílio a parentes ricos, porém <strong>de</strong> nada adiantam seusapelos. Ao ser solto, Gue<strong>de</strong>s é obriga<strong>do</strong> a ven<strong>de</strong>r o único vínculo que ainda lhe resta com opassa<strong>do</strong>: os arreios, fato esse que aumenta sua tristeza e humilhação. Alguns dias após éencontra<strong>do</strong> morto perto <strong>de</strong> uma sanguinha.Em Estrada nova, Cyro preocupa-se em traçar um caminho para o processo <strong>de</strong>mo<strong>de</strong>rnização que ocorre na campanha gaúcha <strong>do</strong> início <strong>do</strong> século XX <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao gran<strong>de</strong>crescimento <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> tecnológico. O romance inicia com o suicídio <strong>do</strong> velho Policarpo,homem que foi expulso <strong>do</strong> campo, e se enforca com o manea<strong>do</strong>r na pensão on<strong>de</strong> viveRicar<strong>do</strong>, um jovem contabilista que nasceu na campanha e foi para a cida<strong>de</strong> servir e estudar.Com essa triste cena, Ricar<strong>do</strong> resolve “voltar aos pagos” para ver como está seu pai Janguta, amãe e a irmã, temen<strong>do</strong> que estejam na miséria.As terras que o pai <strong>de</strong> Ricar<strong>do</strong> arrenda pertencem ao Coronel Teo<strong>do</strong>ro, estancieiro brutoe individualista, que <strong>do</strong>mina a região com seu po<strong>de</strong>rio financeiro e está muito preocupa<strong>do</strong>com o comunismo. Teo<strong>do</strong>ro expulsa a família <strong>de</strong> Janguta e Ricar<strong>do</strong> enfrenta o fazen<strong>de</strong>iro,alegan<strong>do</strong> haver pessoas que lutam pela questão social, que se preocupam com as pessoas quesaem <strong>do</strong> campo sem terem para on<strong>de</strong> ir e que logo tu<strong>do</strong> seria <strong>de</strong>muda<strong>do</strong>. Por causa <strong>de</strong>ssa
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