105galope, alvisseiros, cortan<strong>do</strong> os campos ver<strong>de</strong>s, acordan<strong>do</strong> os pagos, anuncian<strong>do</strong> uma fartura<strong>de</strong> verão chuvoso, enriquecen<strong>do</strong> <strong>de</strong> alegria o coração <strong>do</strong>s pobres!” (1992, p. 191)To<strong>do</strong>s esses acontecimentos fazem com que Teo<strong>do</strong>ro comesse a refletir sobre a vida queleva. Quan<strong>do</strong> Ricar<strong>do</strong> o enfrenta em igualda<strong>de</strong> ele percebe que os tempos estão mudan<strong>do</strong>,sente-se velho e fraco diante das circunstâncias. Deci<strong>de</strong> ir embora para a cida<strong>de</strong> e não temcoragem <strong>de</strong> entregar a fazenda para os filhos administrarem porque, conhecen<strong>do</strong>-os bem, sabeque logo irão botar tu<strong>do</strong> fora, então, resolve vir <strong>de</strong> vez em quan<strong>do</strong> dar uma olhada nas coisascomo vão.A partir <strong>de</strong>sses pensamentos, Coronel Teo<strong>do</strong>ro percebe que sua autorida<strong>de</strong> to<strong>do</strong>s essesanos não valeu <strong>de</strong> nada, que to<strong>do</strong> seu trabalho não adiantou, e começa a valorizar as pessoasque lhe serviram a vida inteira como o capataz, a quem pensa em <strong>de</strong>ixar um pedaço <strong>de</strong> campo,mas não se anima porque sabe que os filhos tomarão quan<strong>do</strong> ele vier a falecer. Agra<strong>de</strong>ce<strong>de</strong>licadamente o copo <strong>de</strong> água que Anastácia lhe serve, o que causa espanto na criada,também preocupa-se com Almerinda, em como contar para ela que irão para a cida<strong>de</strong>, poissabe que ela gosta <strong>de</strong> viver no campo.O Coronel Teo<strong>do</strong>ro, ao saber que Janguta e a família foram presos se dá conta <strong>de</strong>tamanha injustiça que está a cometer com aquela pobre gente que não tem on<strong>de</strong> morar.Or<strong>de</strong>na que sejam soltos, mas quan<strong>do</strong> fica saben<strong>do</strong> eles já haviam parti<strong>do</strong>. Teo<strong>do</strong>ro, então seentrega às mudanças <strong>do</strong>s tempos, senta na sua ca<strong>de</strong>ira e acaricia lacrimoso o gato manhosoque lhe pulou no colo, a divagar com seus pensamentos, sentin<strong>do</strong> sauda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um tempo que,recém percebera, não existe mais.Ricar<strong>do</strong>, por sua vez, não toma o rumo <strong>de</strong> Porto Alegre como imagina a polícia. Ele vaia São João Batista para encontrar Celeste e noivar com a moça. Ao chegar à cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>para-secom a homenagem ao bispo que acontecia, mas quem discursava sobre os gran<strong>de</strong>sacontecimentos da Estância Velha era Dr. Serafim, que aproveitara o alvoroço para adquirirprestígio para o parti<strong>do</strong> e afirmar que tu<strong>do</strong> estava sob controle, que os comunistas estavampresos e a vida voltaria ao normal. Com essa atitu<strong>de</strong>, ele foi proclama<strong>do</strong> o herói <strong>do</strong> dia.Ricar<strong>do</strong> limita-se a ouvir as mentiras contadas pelo advoga<strong>do</strong> e <strong>de</strong>pois segue seu rumo.
106D. Almerinda e Teo<strong>do</strong>ro constituem o principal casal da história. Teo<strong>do</strong>ro casa-se comAlmerinda, mulher trintona e consi<strong>de</strong>rada passada, por interesse, já que ela é irmã <strong>do</strong> CoronelJanuário, para quem trabalha como peão durante anos. Ele é um homem que utiliza palavrassecas e rígidas, também é extremamente machista. Fala a to<strong>do</strong>s com ru<strong>de</strong>za, firmeza no olhar,<strong>de</strong> cara fechada, certo <strong>de</strong> sua soberania. Apesar <strong>de</strong> ter atitu<strong>de</strong>s brutas ele busca conhecimento,faz cálculos, lê jornal e mantém-se atualiza<strong>do</strong>, admite as intervenções da tecnologia, instalaluz elétrica e telefone na Estância, além <strong>de</strong> fazer melhorias como o banheiro, construí<strong>do</strong> apouco.Seu po<strong>de</strong>r é total na região e to<strong>do</strong>s lhe dirigem a palavra <strong>de</strong> cabeça baixa, sem fitar-lheos olhos, por isso atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ricar<strong>do</strong> o enraivece. Como não consegue <strong>de</strong>scontar sua raiva nojovem, que parece indiferente ao seu rompante <strong>de</strong> ira, <strong>de</strong>sconta nas mulheres da casa quan<strong>do</strong>as vê.Quan<strong>do</strong> ocorre o incêndio em suas terras resolve chamar o Dr. Serafim para ajudá-lo,mas, por ser <strong>de</strong>sconfia<strong>do</strong>, percebe as segundas intenções <strong>do</strong> advoga<strong>do</strong>: “[...] cruzou ao mesmotempo, a galope, um pensamento <strong>de</strong>sconcertante: este alarife está mas é queren<strong>do</strong> meembromar!” (1992, p. 163), mas ce<strong>de</strong> as investidas e dá quinhentos cruzeiros ao parti<strong>do</strong> paracertificar-se que seria atendi<strong>do</strong> em seu pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> pren<strong>de</strong>r Ricar<strong>do</strong>, como isso não acontece,fica, pela primeira vez, enfastia<strong>do</strong> da vida e <strong>do</strong>s homens, percebe que não possui tanto po<strong>de</strong>rcomo imagina e <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> ir embora <strong>do</strong> campo.D. Almerinda leva uma vida rotineira. Passa seus dias a cozinhar, arrumar a casa e daror<strong>de</strong>ns as suas empregadas Anastácia e Amélia. Ela não tem a quem se queixar <strong>de</strong> seusproblemas, o mari<strong>do</strong> não a escuta:A patroa retroce<strong>de</strong>u sem jeito, apertan<strong>do</strong> os cantos da boca. Ia dizer ao Teo<strong>do</strong>ro quenão agüentaria mais aquela situação um dia sequer! Que china malcriada! Quantomais velha, pior. Já estaria caducan<strong>do</strong>? Ia dizer... Ia dizer o quê? Pra quem? (1992,p. 68)Dessa maneira, ela não reclama das <strong>do</strong>res reumáticas que sente, vive encolhida emiudinha, <strong>de</strong> óculos, a fazer crochê. De manhã sempre usa um xale <strong>de</strong> lã sobre os ombrospara proteger suas costas da aragem, o que lhe dá um aspecto <strong>de</strong> velhice, aparenta ser maisi<strong>do</strong>sa <strong>do</strong> que realmente é. Quan<strong>do</strong> percebe que Teo<strong>do</strong>ro está irrita<strong>do</strong> fica ainda mais submissa,
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