11INTRODUÇÃO“Os homens sempre procuraram instintivamente, na magia da arte o seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>cura”. Cyro MartinsExistem diferentes tipos <strong>de</strong> narrativas e uma das suas mais importantes características éa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> serem onipresentes, <strong>de</strong> estarem em diferentes tempos, lugares e culturas. Essacaracterística levou Roland Barthes, em sua obra Análise estrutural da narrativa, a procuraruma <strong>de</strong>finição que englobasse os diversos tipos <strong>de</strong> narrativa:Inumeráveis são as narrativas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Há em primeiro lugar uma varieda<strong>de</strong>prodigiosa <strong>de</strong> gêneros, distribuí<strong>do</strong>s entre substâncias diferentes, como se todamatéria fosse boa para que o homem lhe confiasse suas narrativas: a narrativa po<strong>de</strong>ser sustentada pela linguagem articulada, oral ou escrita, pela imagem, fixa oumóvel, pelo gesto ou pela mistura or<strong>de</strong>nada <strong>de</strong> todas essas substâncias; está presenteno mito, na lenda, na fábula, no conto, na novela, na epopéia, na história, natragédia, no drama, na comédia, na pantomima, na pintura (...), no vitral, no cinema,nas histórias em quadrinhos, no fait divers, na conversação. Além disso, sob essasformas quase infinitas, a narrativa está presente em to<strong>do</strong>s os tempos, em to<strong>do</strong>s oslugares, em todas as socieda<strong>de</strong>s; a narrativa começa com a própria história dahumanida<strong>de</strong>; não há, em parte alguma povo algum sem narrativa; todas as classes,to<strong>do</strong>s os grupos humanos têm suas narrativas, e freqüentemente estas narrativas sãoapreciadas em comum por homens <strong>de</strong> cultura diferente, e mesmo oposta; a narrativaridiculariza a boa e a má literatura; internacional, trans-histórica, transcultural; anarrativa está aí, como a vida. (1971, p. 18)Neste trabalho vamos consi<strong>de</strong>rar apenas a narrativa literária ficcional a partir <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>srealiza<strong>do</strong>s por alguns críticos da teoria da narrativa e suas concepções com relação a romancee seus personagens. A narrativa ficcional é realizada no plano verbal, pois só ocorre através <strong>de</strong>palavras que expressam fatos vivi<strong>do</strong>s por diversos seres fictícios, as personagens, em umlugar já pré-estabeleci<strong>do</strong>, com duração certa. Os homens sempre usaram a narrativa comouma forma <strong>de</strong> expressar i<strong>de</strong>ias, opiniões e, sobretu<strong>do</strong>, como uma forma <strong>de</strong> autoconhecimento,<strong>de</strong> conhecer as outras pessoas, os diferentes seres com que convive, o mun<strong>do</strong> em que habita,realizan<strong>do</strong>, <strong>de</strong>ssa maneira, uma busca constante para enten<strong>de</strong>r a sua existência.Para isso criou mun<strong>do</strong>s imaginários, habita<strong>do</strong>s por seres fictícios, que apresentamcaracterísticas reais, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> elas advir ou não da vida real: “Quem narra, narra o que viu, oque viveu, o que testemunhou, mas também o que imaginou, o que sonhou, o que <strong>de</strong>sejou. Por
12isso, NARRAÇÃO e FICÇÃO praticamente nascem juntas” (LEITE, 1989, p. 6). A condiçãodas personagens <strong>de</strong> serem seres fictícios com características <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> real, juntamente com oenre<strong>do</strong> e a técnica utilizada pelo escritor são responsáveis pela verossimilhança interna daobra, o que permite ao leitor uma maior aproximação com texto através <strong>do</strong> processo <strong>de</strong>i<strong>de</strong>ntificação leitor/personagem.Ao consi<strong>de</strong>rarmos que as primeiras narrativas oci<strong>de</strong>ntais eram em verso, convémlembrar as i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> Platão e Aristóteles, <strong>do</strong>is <strong>do</strong>s primeiros estudiosos da narrativa. Seusestu<strong>do</strong>s e conhecimentos serviram <strong>de</strong> base para os atuais pesquisa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> assunto. Platão eAristóteles divergiam opiniões em relação à ficcionalida<strong>de</strong> da obra. Para o primeiro, em Arepública, a arte em geral é vista como uma imitação da imitação, pois acredita que o mun<strong>do</strong>em que vive é uma cópia <strong>do</strong> “Mun<strong>do</strong> das I<strong>de</strong>ias”, verda<strong>de</strong>iro mun<strong>do</strong> <strong>de</strong> on<strong>de</strong> viemos:Do mesmo mo<strong>do</strong> diremos, parece-me, que o poeta, por meio <strong>de</strong> palavras e frases,sabe colorir <strong>de</strong>vidamente cada uma das artes, sem enten<strong>de</strong>r <strong>de</strong>las mais <strong>do</strong> que saberimitá-las, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que, a outros que tais, que julgam pelas palavras, parecem falarmuito bem, quan<strong>do</strong> dissertam sobre a arte <strong>de</strong> fazer sapatos, ou sobre a arte daestratégia, ou sobre qualquer outra com metro, ritmo e harmonia. Tal é a gran<strong>de</strong>sedução natural que estas têm, por si sós. (1949, p. 461)Aristóteles, por sua vez, na obra intitulada Poética, expõe suas i<strong>de</strong>ias sobre poesia, asquais diferem em parte das <strong>de</strong> Platão. Se, para esse último, a poesia e a arte em geral, eramimitação da imitação, Aristóteles crê que a poesia é e sempre será imitação, mas não umaimitação ilusória e sim revela<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> características fundamentais da constituição natural <strong>do</strong>sseres, chegan<strong>do</strong> a consi<strong>de</strong>rar o poeta um filósofo, por expressar não só fatos passa<strong>do</strong>s, mas oque po<strong>de</strong>rá acontecer futuramente. Dessa maneira, o poeta tem a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> revelarpossibilida<strong>de</strong>s:Pelo que atrás fica dito, é evi<strong>de</strong>nte que não compete ao poeta narrar exatamente oque aconteceu; mas sim o que po<strong>de</strong>rias ter aconteci<strong>do</strong>, o possível, segun<strong>do</strong> averossimilhança ou a necessida<strong>de</strong>. O historia<strong>do</strong>r e o poeta não se distinguem um <strong>do</strong>outro, pelo fato <strong>do</strong> primeiro escrever em prosa e o segun<strong>do</strong> em verso (pois a obra <strong>de</strong>Heró<strong>do</strong>to houvesse si<strong>do</strong> composta em verso, nem por isso <strong>de</strong>ixaria <strong>de</strong> ser obra <strong>de</strong>história, figuran<strong>do</strong> ou não o metro nela). Diferem entre si, porque um escreveu o queaconteceu e o outro o que po<strong>de</strong>ria ter aconteci<strong>do</strong>. Para tal motivo a poesia é maisfilosófica e <strong>de</strong> caráter mais eleva<strong>do</strong> que a história, porque a poesia permanece nouniversal e a história estuda apenas o particular. (2003, cap. IX)Milan Kun<strong>de</strong>ra, em seu livro A Arte <strong>do</strong> Romance, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a importância das narrativasporque possibilitam certa “abertura ao mun<strong>do</strong> das possibilida<strong>de</strong>s” para o leitor, oferecen<strong>do</strong>lheuma realida<strong>de</strong> virtual para que possa compreen<strong>de</strong>r a sua existência e toda a complexida<strong>de</strong>
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