69Parti<strong>do</strong> Comunista, outras organizações, contesta<strong>do</strong>ras <strong>do</strong> regime vigente, apareciam nocenário nacional, encontran<strong>do</strong> repercussão no Rio Gran<strong>de</strong>” (PESAVENTO, 2002, p. 113),<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a essas manifestações, o governo estadual, ainda representa<strong>do</strong> por Flores da Cunha,preparou-se com armas e materiais para a ditadura, mas o centro cortou suas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>articulação, obrigan<strong>do</strong>-o a renunciar e fugir para o Uruguai. O interventor fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> RioGran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul passou a ser o General Manoel <strong>de</strong> Cergueira Daltro Filho.Em 10 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1937 fin<strong>do</strong>u-se a República Nova e começou o Esta<strong>do</strong> Novo. OEsta<strong>do</strong> Novo (1937 – 1945) só po<strong>de</strong> ser implanta<strong>do</strong> porque a burguesia nacional ce<strong>de</strong>u seuspo<strong>de</strong>res ao governo em troca <strong>de</strong> segurança, progresso e paz social. Quem governou o país foiuma <strong>de</strong>terminada classe apoiada pelo exército e que promoveu o golpe. Essa classe <strong>de</strong>fendia ocapitalismo e a burguesia e <strong>de</strong>fendia como sistema vigente o autoritário-corporativo.Durante o Esta<strong>do</strong> Novo se solidificou a indústria e caiu o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> agroexportação,benefician<strong>do</strong> o industrial <strong>do</strong> centro <strong>do</strong> país que já se beneficiava há algum tempo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> café. Mas o Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul continuou com a sua função <strong>de</strong> abastecero merca<strong>do</strong> interno com produtos agropecuários, <strong>de</strong>ssa maneira, cada vez tornava-se maisvisível a distância entre o Esta<strong>do</strong> gaúcho e São Paulo no processo industrial. Na década <strong>de</strong>1940, por fim, <strong>de</strong>sapareceram as charqueadas e surgiram cooperativas com melhorestecnologias para transformação da carne.Acentuava-se o problema da divisão das terras, pois os minifúndios eram cada vez maisdividi<strong>do</strong>s entre her<strong>de</strong>iros, que eram muitos para que o trabalho ren<strong>de</strong>sse, <strong>de</strong> maneira que empouco tempo a terra tornava-se escassa e o solo enfraqueci<strong>do</strong>. A personagem <strong>de</strong> seu Osório,em Estrada nova representa esses pequenos proprietários que não têm como subdividir entreos filhos a pouca terra que lhe cabe: “- Escute só o meu caso. Eu, por exemplo, estou com opé no estribo. Vendi o campito faz poucos dias. Ora, eu, me diga que é que eu ia fazer comessas poucas braças e este mundaréu <strong>de</strong> filhos?” (1992, p. 34).2.2.9 O início <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> êxo<strong>do</strong> ruralCom a <strong>de</strong>svalorização da agricultura e da pecuária, Os peões das estâncias que aindarestavam não recebiam pagamento pelos serviços presta<strong>do</strong>s, seu salário consistia no direito à
70alimentação e moradia. Alguns recebiam pequenos pedaços <strong>de</strong> terra para sobrevivência dafamília. A agricultura e a pecuária estavam <strong>de</strong>svalorizadas e, aos poucos, a tecnologia foia<strong>de</strong>ntran<strong>do</strong> nos campos sulinos, trazen<strong>do</strong> alguns benefícios aos cria<strong>do</strong>res e muitas tristezasaos emprega<strong>do</strong>s:Entretanto, o completo cercamento <strong>do</strong>s campos e a introdução <strong>de</strong> alguma tecnologianos méto<strong>do</strong>s criatórios foi fazen<strong>do</strong> com que houvesse menor necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> braçospara a criação. Acentuou-se, com isso, o processo <strong>de</strong> êxo<strong>do</strong> rural que já semanifestava <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os anos trinta. (PESAVENTO, 2002, p. 116)Em Porteira fechada Júlio Bica, estancieiro da região, pensa na ocupação que dará aocampo que acaba <strong>de</strong> comprar, que é on<strong>de</strong> vivem Gue<strong>de</strong>s e a família. Caso o arrendatário lhepeça para permanecer no local alegará que nos dias atuais não são mais necessários posteiros<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à tecnologia atual: “Além disso, posteiro não se usava mais. Pra quê? Uma estânciacomo a sua, toda tapada, marchava lin<strong>do</strong> com três ou quatro peães. E isso mesmo porque eracaprichoso, gostava <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> arregla<strong>do</strong>. A rigor, até <strong>do</strong>is mensuais bastavam” (1993, p. 20).Também Eusébio, carreteiro antigo, recorda, no velório <strong>de</strong> Gue<strong>de</strong>s, a conversa que tevecom esse há algum tempo atrás, quan<strong>do</strong> o campeiro procurava um lugar para morar erecomeçar a vida. Nessa conversa, Eusébio comenta a difícil e dura vida <strong>do</strong>s homenscampesinos, <strong>do</strong>s peões <strong>de</strong> estâncias, a <strong>de</strong>svalorização da moeda e <strong>final</strong>iza seu pensamentocom a certeza <strong>de</strong> que não há outra solução para os pobres da campanha senão morar nacida<strong>de</strong>:“O que eu vinha enxergan<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> tempito largo – prosseguiu Eusébio, altean<strong>do</strong>levemente a cabeça e a voz – era que nós to<strong>do</strong>s, os pobres da campanha, ia acabaemangueira<strong>do</strong>s, como capão pra consumo. E sabem on<strong>de</strong>? Aqui mesmo na al<strong>de</strong>ia,nesse cisco.” (1993, p. 40)Os trabalha<strong>do</strong>res que aban<strong>do</strong>navam o campo e iam pra cida<strong>de</strong> esperavam uma melhorqualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, mas não estavam prepara<strong>do</strong>s para o trabalho citadino, sabiam apenas otrabalho campesino, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que muitos não se acertaram com a vida na cida<strong>de</strong> e morreramna miséria: “Uma vez fora <strong>do</strong> latifúndio, este trabalha<strong>do</strong>r buscava cida<strong>de</strong>s. Todavia,constituía-se uma mão-<strong>de</strong>-obra que era jogada no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho sem ter especializaçãonenhuma, pois suas habilida<strong>de</strong>s na vida campeira nada valiam para a vida urbana”(PESAVENTO, 2002, p. 116).
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