29afirmação passa a ser visto como comunista pelo Coronel Teo<strong>do</strong>ro, que faz uma queixa àpolícia e or<strong>de</strong>na a prisão <strong>do</strong> jovem, mas a polícia não chega a tempo. Ricar<strong>do</strong> sai <strong>do</strong>s camposlivre, passa em São João Batista para noivar com Celeste, moça que conhece na visita aospais, e <strong>de</strong>pois intenciona rumar para Porto Alegre.Em São João Batista, parti<strong>do</strong>s conserva<strong>do</strong>res e progressistas se enfrentam. Lá Ricar<strong>do</strong> évisto como um alia<strong>do</strong> das mudanças políticas e luta<strong>do</strong>r pela igualda<strong>de</strong> social. O moço, porém,resolve voltar para sua casa sem engajar-se em nenhum parti<strong>do</strong> político, pois acredita quelogo as coisas irão melhorar para os homens <strong>do</strong> campo. O mesmo pensa Janguta ao ir emboraa pé da campanha, rumo à cida<strong>de</strong>, sem nada, mas esperançoso <strong>de</strong> que logo haverá um novocaminho, uma nova estrada, para sua gente.Em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> ter causa<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s esses acontecimentos, Teo<strong>do</strong>ro sente que suaganância não levou a nada e que existem pessoas que enfrentam seu man<strong>do</strong>nismo eautoritarismo, vê que os tempos estão mudan<strong>do</strong> e <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> mudar-se, também, para a cida<strong>de</strong>.Dessa maneira, a trilogia <strong>do</strong> gaúcho a pé recria um Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul <strong>do</strong> início <strong>do</strong>século XX com seus problemas humanos, sociais, políticos e econômicos. Sem rumo mostra oinício <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> expulsão <strong>do</strong> homem <strong>do</strong> campo, <strong>de</strong> classe baixa, menos favoreci<strong>do</strong>: <strong>do</strong>peão, <strong>do</strong> carreteiro, <strong>do</strong> capataz, <strong>do</strong> agrega<strong>do</strong>, etc., Porteira fechada aborda um momento <strong>de</strong><strong>de</strong>sespero total <strong>do</strong> gaúcho, que se vê obriga<strong>do</strong> a sair <strong>do</strong> campo, <strong>de</strong>sprepara<strong>do</strong> para asexigências da vida citadina, o que o leva ao suicídio, e em Estrada nova, há um êxo<strong>do</strong> ruralcompleto, até mesmo <strong>do</strong>s gran<strong>de</strong>s proprietários <strong>de</strong> terra pela falta <strong>de</strong> recursos e pela gran<strong>de</strong>infiltração tecnológica na campanha gaúcha, o que não impe<strong>de</strong> que o autor <strong>final</strong>ize dan<strong>do</strong> umaesperança à classe marginalizada <strong>do</strong> campo.Sobre essas obras Cyro Martins comenta que não teve em nenhum momento e intenção<strong>de</strong> elaborar uma trilogia, e sim <strong>de</strong> representar as figuras sociais da campanha rio-gran<strong>de</strong>nse:Essa trilogia, que não nasceu trilogia, mas que, embora sem intenção premeditada,ao longo <strong>do</strong> seu e <strong>do</strong> meu caminho foi adquirin<strong>do</strong> essas características, enriqueceuse<strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> humana <strong>de</strong> livro para livro, a ponto <strong>de</strong> eu agora po<strong>de</strong>r dizer, semexagero, que quase todas as figuras representativas das diversas camadas dapopulação da campanha rio-gran<strong>de</strong>nse e das cida<strong>de</strong>s estão aí, em <strong>de</strong>sfile, com seupitoresco, com as suas altanerias, com seus trapos, com suas humilhações, enfim,com seus aspectos formais e essenciais, principalmente. (1997, P. 12)
30Dessa maneira, a narrativa ficcional <strong>de</strong>sse autor aponta um tempo <strong>de</strong> mudanças sociais,<strong>de</strong> inconstância e <strong>de</strong> empobrecimento <strong>do</strong> povo sul-rio-gran<strong>de</strong>nse <strong>do</strong> campo, pois a socieda<strong>de</strong>mo<strong>de</strong>rnizava-se, começava a aumentar a população das cida<strong>de</strong>s, a indústria e o comérciocresciam intensamente.Na verda<strong>de</strong>, as massas campeiras foram sen<strong>do</strong> pouco a pouco dispensadas – por quenão dizer excluídas? – por <strong>de</strong>snecessárias, numa <strong>de</strong>corrência lógica <strong>do</strong> rumo quetomavam as li<strong>de</strong>s campeiras. Com efeito, o gaúcho pobre não foi chama<strong>do</strong> aparticipar <strong>do</strong> ciclo que se iniciava, <strong>de</strong> intensa comercialização da pecuária.(MARTINS, 1997, p. 27)Tânia Franco Carvalhal (1999, p. 37) afirma que Cyro em sua trilogia, a que ele mesmoaplica a <strong>de</strong>signação <strong>de</strong> trilogia <strong>do</strong> gaúcho a pé, vai contrapor à feição i<strong>de</strong>alizada <strong>do</strong> gaúchouma <strong>versão</strong> mais realista e coerente com mudanças econômicas e sociais porque a figurapassa a ser obrigada a apear <strong>do</strong> cavalo, a migrar para centros urbanos e a enfrentar aperspectiva <strong>do</strong> horizonte reduzi<strong>do</strong>.Deste mo<strong>do</strong>, não é só o gaúcho pobre que é obriga<strong>do</strong> a sair <strong>do</strong> campo por causa <strong>do</strong>sgran<strong>de</strong>s latifúndios, mas também os gran<strong>de</strong>s estancieiros, pelo progresso <strong>do</strong>s tempos e pelamo<strong>de</strong>rnização que a<strong>de</strong>ntra na campanha e expulsa aqueles que não sabem fazer outra coisasenão as li<strong>de</strong>s campeiras. Assim, a problemática que Cyro aborda é social, coletiva, comoafirma José Clemente Pozenato:Mas acredito que Cyro Martins começou a fazer romances em que as personagensaparecem quase que em plano <strong>de</strong> conjunto. Sem <strong>de</strong>smerecer a força <strong>de</strong> personagensparticulares, como Chirú e outros, o que a visão <strong>do</strong> leitor apanha é o quadro social,to<strong>do</strong>, presente na narrativa. (1999, p. 48)Carlos Jorge Appel, em seu estu<strong>do</strong> crítico As coxilhas sem monarca comenta sobre atemática <strong>de</strong> Cyro Martins, e para isso utiliza as próprias palavras <strong>do</strong> o autor quan<strong>do</strong> comentaque foi convida<strong>do</strong>, em 1935, pelas damas <strong>de</strong> carida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Quaraí para fazer uma conferênciana Semana <strong>do</strong> Cobertor, uma campanha municipal para os <strong>de</strong>sabriga<strong>do</strong>s. Para isso, Cyro seperguntava:Sobre o que falar? Qual será o assunto mais interessante para o público e, ao mesmotempo <strong>de</strong> algum valor social? Cheguei à conclusão <strong>de</strong> que o mais lógico seriaabordar um tema que incluísse fundamentalmente a gente a qual se <strong>de</strong>stinavam oscobertores e <strong>de</strong>mais abrigos que estavam sen<strong>do</strong> angaria<strong>do</strong>s na cida<strong>de</strong>. 11 http://www.celpcyro.org.br/v4/Fortuna_Critica/couxinhas.htm
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