103a porta aberta e torta, o parapeito <strong>de</strong> três cordas frouxas, a cancela caída, as aves, as poucasárvores, o cusco...” (1992, p. 56)Mas quan<strong>do</strong> começa a conversar com o pai Ricar<strong>do</strong> percebe a difícil situação em que seencontram. O Coronel Teo<strong>do</strong>ro comprou as terras da viúva Antônia e está forçan<strong>do</strong> Janguta ea família a <strong>de</strong>ixar o local há seis meses, esses estão <strong>de</strong>moran<strong>do</strong> para sair porque nãoencontram lugar para viver no campo e não querem ir para a cida<strong>de</strong>,O Coronel Teo<strong>do</strong>ro é um homem culto em relação aos outros que vivem na EstânciaVelha e nos arre<strong>do</strong>res. Ele lê o jornal Correio <strong>do</strong> Povo, escuta o noticiário da rádio eseguidamente recorre ao dicionário para o entendimento <strong>de</strong> alguma palavra <strong>de</strong>sconhecida.Apesar <strong>de</strong> ser um homem bem informa<strong>do</strong> e interessa<strong>do</strong> em adquirir novos conhecimentos,possui um temperamento forte, é agressivo e autoritário em gestos e palavras.Certo dia, enquanto escuta o noticiário, ouve a notícia <strong>de</strong> que a polícia <strong>de</strong> Porto Alegrehavia <strong>de</strong>scoberto um plano organiza<strong>do</strong> pelos comunistas. Preocupa-se com seus bens, enervasee manda o negrinho Abel chamar Miguel, seu capataz, para que faça uma recorrida em seuscampos à procura <strong>de</strong> algum vestígio <strong>de</strong> pouso ou para<strong>de</strong>iro <strong>do</strong>s comunistas que, acredita,fugiram da capital. O capataz não encontrou nada. Após isso, Teo<strong>do</strong>ro manda chamar Lobo, osubprefeito <strong>do</strong> distrito para que fosse até a casa <strong>de</strong> Janguta intimá-lo e ameaçá-lo para que<strong>de</strong>socupe, o mais rápi<strong>do</strong> possível, a terra que acabou <strong>de</strong> comprar.No outro dia, Lobo e Demenciano, seu ajudante, são recebi<strong>do</strong>s por Francisca e a filha,pois Janguta e Ricar<strong>do</strong> haviam saí<strong>do</strong>. O subprefeito <strong>de</strong>ixa o reca<strong>do</strong> para a esposa, avisa que háuma queixa <strong>do</strong> Coronel e que fora até lá levar uma intimação. Como vê o rosto assusta<strong>do</strong> dasduas mulheres, Lobo resolve explicar o que está acontecen<strong>do</strong>:- Sim. O coronel Teo<strong>do</strong>ro me <strong>de</strong>u parte <strong>do</strong> seu mari<strong>do</strong>. Ele comprou este campo háseis meses e não há jeito <strong>de</strong> vocês saíres daqui. Já man<strong>do</strong>u o capataz uma meia dúzia<strong>de</strong> vezes avisar que tinham <strong>de</strong> sair e não fizeram caso. Isto é um abuso. É invasão daproprieda<strong>de</strong> alheia. É crime. E a minha obrigação, como autorida<strong>de</strong>, é fazer cumpriro que é <strong>de</strong> direito, e pouco se me importa se o acusa<strong>do</strong> é pobre ou rico.” (1992, p.79)Quan<strong>do</strong> Janguta e o filho chegam em casa e sabem o que acontecera pouco antes,conversam, trocam opiniões. O jovem, após essa conversa, <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> que vai pessoalmente
104conversar com o Coronel Teo<strong>do</strong>ro, os pais se opõem a tal i<strong>de</strong>ia, temerosos. Mas Ricar<strong>do</strong> tomauma <strong>de</strong>cisão e, mesmo contra os pais, dirige-se à Estância Velha no outro dia para falar comTeo<strong>do</strong>ro.Ao chegar à fazenda, Ricar<strong>do</strong> é recebi<strong>do</strong> com certa reserva pelo Coronel, que estranha ocostume <strong>do</strong> jovem usar calças e sapatos. Durante a conversa, Ricar<strong>do</strong> fala da miséria em quevivem os trabalha<strong>do</strong>res da campanha e faz uma comparação com a vida confortável quelevam os fazen<strong>de</strong>iros, comenta sobre a difícil situação em que se encontram seus pais e pe<strong>de</strong>para que permaneçam na fazenda, como emprega<strong>do</strong>s. O Coronel toma por <strong>de</strong>saforo essas“intromissões” <strong>do</strong> rapaz, exalta-se e o chama <strong>de</strong> comunista.Enquanto retorna para a casa <strong>do</strong>s pais, Ricar<strong>do</strong> fuma e joga o cigarro fora, o queocasiona um incêndio nas pastagens <strong>do</strong> Coronel. Isso basta para que Teo<strong>do</strong>ro tenha certeza <strong>de</strong>que o jovem realmente é um comunista, e <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> ligar, no dia seguinte, para o Dr. Serafim,representante político <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r estadual e advoga<strong>do</strong> <strong>do</strong> município, com a intenção <strong>de</strong> pedirapoio <strong>do</strong> parti<strong>do</strong> na incriminação <strong>de</strong> Ricar<strong>do</strong>.Dr. Serafim, ao perceber o nervosismo e me<strong>do</strong> <strong>de</strong> Teo<strong>do</strong>ro, <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> tirar proveito dainsegurança <strong>do</strong> fazen<strong>de</strong>iro para arrecadar algum dinheiro para os cofres <strong>do</strong> parti<strong>do</strong>. Apósreceber a ligação <strong>do</strong> Coronel, Dr. Serafim <strong>de</strong>ixa o escritório e dirige-se ao quarto <strong>do</strong> casalon<strong>de</strong> se veste elegantemente e perfuma-se para o encontro com a amante Lolita após o jantar.Encontra sua mulher, D. Alcina, e mais seis senhoras <strong>de</strong>votas a organizar os aposentos on<strong>de</strong> obispo irá permanecer em sua visita a São João Batista, faz alguns elogios à atitu<strong>de</strong> dassenhoras e dirige-se à sala <strong>de</strong> jantar. Enquanto isso, Cabral, auxiliar <strong>de</strong> Serafim, procura o<strong>de</strong>lega<strong>do</strong> Alarico para informar da invasão comunista na Estância Velha com a intenção <strong>de</strong>pedir auxílio e homens para a proteção <strong>do</strong> local.Os planos <strong>de</strong> Serafim dão certo. Em sua visita ao Coronel consegue quinhentoscruzeiros para os cofres <strong>do</strong> parti<strong>do</strong>. Alarico resolve ir pessoalmente à fazenda e vai, emcompanhia <strong>de</strong> Lobo, atrás <strong>de</strong> Ricar<strong>do</strong> para prendê-lo pelo crime, mas o jovem fora embora.Desse mo<strong>do</strong>, resolvem pren<strong>de</strong>r a família <strong>do</strong> rapaz. Janguta, Francisca e Rosa são leva<strong>do</strong>sprisioneiros à fazenda, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> soltos rumam para a cida<strong>de</strong>, a pé, com a esperança <strong>de</strong> um diaa vida melhorar. Enquanto caminha, Janguta se pergunta quan<strong>do</strong> virão os homens <strong>de</strong> queRicar<strong>do</strong> falara com tanta esperança, os homens que “[...] um dia viriam pela ‘estrada nova’, a
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