71Isso ocorre com Chiru, em Sem rumo. Ao perceber que a cida<strong>de</strong> não é o melhor localpara se viver, essa personagem reflete sobre a vida que leva ali e vê seu envelhecimentoprecoce: “Meio-dia. Mortas, a cida<strong>de</strong>, a praça, as ruas. Meio morto, ele mesmo. Massacra<strong>do</strong>.Um caco <strong>de</strong> gente, e tão novo! (1997, p. 99).Em Estrada nova, Osório comenta a falta <strong>de</strong> preparo que tem para a vida citadina, poissabe que só enten<strong>de</strong> <strong>de</strong> li<strong>de</strong>s campeiras e <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> com os animais, mas não encontra umasolução a não ser aban<strong>do</strong>nar o campo e tentar a vida no centro urbano mais próximo: “Tiran<strong>do</strong>disso, eu e toda essa gauchada pobre que anda passan<strong>do</strong> quem sabe o quê por aí afora, nãoenten<strong>de</strong>mos <strong>de</strong> cousa nenhuma.” (1992, p. 34). A indústria não estava <strong>de</strong>senvolvida a ponto<strong>de</strong> acolher toda essa massa populacional campesina que chegava para viver na cida<strong>de</strong>. Dessamaneira, esse povo alojou-se pelas vilas marginais <strong>de</strong> periferia, num nível <strong>de</strong> subemprego,muitos migraram para <strong>Santa</strong> Catarina e Paraná.As condições <strong>de</strong> vida na cida<strong>de</strong> já eram precárias na década <strong>de</strong> 30. Chiru, em Sem rumo,sente sauda<strong>de</strong> da vida no campo, mas sabe que essa crise não é só ele que enfrenta, são to<strong>do</strong>sos homens da campanha gaúcha, e, por isso, <strong>de</strong>sola-se ao pensar em voltar para o interior, jáque a vida lá não é mais a mesma: “E <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> muito engrolar, concluíram: é que não tinhamais ‘antigamente’! Ser peão <strong>de</strong> estância como os <strong>de</strong> agora, não.” (1997, p. 111)Durante a ditadura <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Novo, os Esta<strong>do</strong>s eram governa<strong>do</strong>s por interventoresnomea<strong>do</strong>s pelo centro. Por causa <strong>do</strong> regime autoritário, os parti<strong>do</strong>s gaúchos foram extintos, esímbolos estaduais como a ban<strong>de</strong>ira e o escu<strong>do</strong> foram queima<strong>do</strong>s. O governo queria obterpo<strong>de</strong>r absoluto e incontestável sobre a população e o Esta<strong>do</strong>. Com isso, a população começoua revoltar-se e a fundar novos parti<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>ntre eles o Parti<strong>do</strong> Social Democrático e o Parti<strong>do</strong>Comunista Brasileiro.Em 1939 eclodiu a Segunda Guerra Mundial, e em 1942 o Brasil entra na Guerra aola<strong>do</strong> <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, sua posição foi tomada por interesses e ligações econômicas, pois osEsta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s <strong>de</strong>veriam emprestar dinheiro ao Brasil para que esse pu<strong>de</strong>sse aumentar emelhorar sua industrialização.
72Durante esse perío<strong>do</strong> conturba<strong>do</strong> mundialmente, as forças anti-Vargas uniram-se com aUnião Democrática Nacional (UDN), que <strong>de</strong>fendiam um liberalismo <strong>de</strong>mocrático e atraíam asclasses médias. Os principais nomes levanta<strong>do</strong>s contra Vargas eram: Osval<strong>do</strong> Aranha, Floresda Cunha e Borges <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros. Mas, Getúlio Vargas só foi <strong>de</strong>posto <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r em 1945 peloministro da guerra Góes Monteiro durante o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> campanha eleitoral. No <strong>final</strong> <strong>do</strong>Esta<strong>do</strong> Novo o país passou, então, a ser governa<strong>do</strong> pelo po<strong>de</strong>r judiciário.2.2.10 Perío<strong>do</strong> Populista.Em 1945 iniciou-se o perío<strong>do</strong> da história <strong>do</strong> Brasil chama<strong>do</strong> <strong>de</strong> Populista. E nessaépoca, a economia nacional <strong>final</strong>mente baseou-se, em primeiro lugar na indústria, aagroexportação passou a segun<strong>do</strong> plano já que a industrialização crescia e se fortalecia cadavez mais. As massas urbanas começaram a influir nas eleições <strong>do</strong> país porque a populaçãoemergente aumentava, e em uma socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocrática, o voto passou a ser uma maneira <strong>de</strong>solucionar problemas <strong>de</strong>ssa classe, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que, em muitos casos, ele era vendi<strong>do</strong> em troca<strong>de</strong> favores pessoais. Assim, quem votava com o governo tinha po<strong>de</strong>r e liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ações,como observamos na personagem <strong>de</strong> Lopes, em Sem rumo, que obtém lucros com frau<strong>de</strong>s,mas não é preso por causa <strong>do</strong> apoio ao governo: “Ladrão <strong>de</strong> ga<strong>do</strong> prova<strong>do</strong>, joga<strong>do</strong>r, assassino(levava já duas ou três mortes na cacunda...) [...] No entanto, está aí, atira<strong>do</strong> pra trás,protegi<strong>do</strong> pelos graú<strong>do</strong>s [...]” (1997, p. 112)Em 1946 foi eleito para presi<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> Brasil o General Eurico Gaspar Dutra, que, naverda<strong>de</strong>, representava a continuação <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Vargas, mesmo que longe <strong>do</strong>s seus olhos. Ogoverna<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> gaúcho foi Walter Jobin. A economia estadual continuava com base naagropecuária, mesmo que o centro favorecesse a indústria, por isso, o Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sulcontinuava em crise, pois, mesmo com frigoríficos à disposição <strong>do</strong>s cria<strong>do</strong>res as empresasnacionais não obtiveram o “padrão <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>” exigi<strong>do</strong> pelo merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> exportação. Essasexigências com as carnes gaúchas levaram muitos estancieiros à falência já que a maioria <strong>do</strong>scria<strong>do</strong>res possuía dívidas com o governo pelos empréstimos concedi<strong>do</strong>s na era Vargas: “Asproprieda<strong>de</strong>s, ante a insolvência por dívidas <strong>do</strong>s pecuaristas, passavam para a esfera bancária,
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