119CONCLUSÃOA partir das análises realizadas ao longo <strong>de</strong>ste trabalho, po<strong>de</strong>mos perceber algumascaracterísticas particulares da obra <strong>de</strong> Cyro Martins, tópicos, posicionamentos e situações quedistinguem a trilogia <strong>do</strong> gaúcho a pé <strong>de</strong> outros romances até então publica<strong>do</strong>s. Nesse capítuloconclusivo, almejamos fazer uma retomada daquilo que julgamos mais expressivo nasanálises.Ao estudarmos a vida e obra <strong>de</strong> Cyro Martins observamos que suas narrativas possuemum enre<strong>do</strong> complexo e abordam problemas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m social, econômicos, políticos e,sobretu<strong>do</strong>, humanos. Por ser médico psiquiatra, Cyro consegue analisar profundamente ohomem marginaliza<strong>do</strong> das socieda<strong>de</strong>s gaúchas e procura expor, através da sua criaçãoliterária, as mudanças socioeconômicas que ocasiona a mo<strong>de</strong>rnização quan<strong>do</strong> a<strong>de</strong>ntra acampanha sulina nos anos iniciais <strong>do</strong> século XX. Devi<strong>do</strong> a isso, o escritor aborda um temasocial on<strong>de</strong> as personagens são extremamente intrincadas e muito bem perfiladas, além <strong>de</strong>viverem relações <strong>de</strong>nsas e intensas. Por conhecer e compreen<strong>de</strong>r a condição humana, esseautor vê os conflitos existentes no homem como uma forma <strong>de</strong> crescimento e transformação,como po<strong>de</strong>mos observar nos enre<strong>do</strong>s <strong>de</strong> suas obras on<strong>de</strong> a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m, seja no campoemocional ou social das personagens, é responsável pelas mudanças nos comportamentos<strong>de</strong>ssas.Durante a elaboração <strong>de</strong>sse trabalho buscamos um conhecimento interpretativo quejamais po<strong>de</strong> ser visto como <strong>de</strong>finitivo e acaba<strong>do</strong>, pois Sem rumo, Porteira fechada e Estradanova são obras que a cada dia revitalizam sua atualida<strong>de</strong> e que revelam um gran<strong>de</strong> potencial<strong>de</strong> conhecimento crítico, cultural e histórico da socieda<strong>de</strong> gaúcha, pois abordam problemassociais que se apresentam na contemporaneida<strong>de</strong>.É importante observarmos a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> observação crítica <strong>de</strong>sse autor em criar obrasliterárias diferentes das lançadas até aquele momento. Com uma visão extremamentehumanista e sensível, Cyro Martins preocupou-se em dar voz ao gaúcho pobre, expulso <strong>do</strong>campo pela ganância <strong>do</strong>s gran<strong>de</strong>s estancieiros e que acaba por viver na periferia <strong>do</strong>s centrosurbanos. Esse gaúcho leva uma vida miserável e não tem como mudá-la, já que não estáprepara<strong>do</strong> para as exigências da vida citadina. É na trilogia <strong>do</strong> gaúcho a pé que Cyro
120contrapõe à feição até então i<strong>de</strong>alizada <strong>do</strong> gaúcho, uma <strong>versão</strong> realista e coerente com asmudanças sociais e econômicas em que se encontrava o povo gaúcho no início <strong>do</strong> século XX.Quan<strong>do</strong> enfocamos as relações existentes entre História e Literatura, pontos em comume distintos entre ambas, concluímos que tanto na Literatura como na História há ficção, naprimeira em maior grau que na segunda. Também percebemos que as obras literárias, seanalisadas <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o interesse <strong>do</strong> historia<strong>do</strong>r, po<strong>de</strong>m constituir fontes historiográficas<strong>de</strong> um povo porque o escritor é um produto <strong>de</strong> seu tempo e po<strong>de</strong> recriar a realida<strong>de</strong> que ocerca, ou que vivenciou, através <strong>de</strong> suas narrativas.Por isso, a análise que realizamos, contrapon<strong>do</strong> os fatos Históricos <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong>Sul com os fatos Literários presentes na trilogia em estu<strong>do</strong>, nos permite observar que aHistória <strong>do</strong> povo gaúcho apresentada nos livros <strong>de</strong> História está transfigurada nas obras.Dessa maneira, alguns <strong>do</strong>s fatos narra<strong>do</strong>s na ficção literária coinci<strong>de</strong>m com os narra<strong>do</strong>s pelaHistória, mas as personagens literárias veem o mun<strong>do</strong> sob um ponto <strong>de</strong> vista diferente <strong>do</strong>historia<strong>do</strong>r porque vivem aquele enre<strong>do</strong>, estão presentes naquele episódio narra<strong>do</strong>, o que nosproporciona um conhecimento aprofunda<strong>do</strong> <strong>do</strong> ser humano e sua complexida<strong>de</strong> diante <strong>do</strong>sproblemas sociais, econômicos e políticos que se apresentam.Nessa análise observamos que o tempo histórico da trilogia situa-se entre os anos <strong>de</strong>1923 a aproximadamente 1954 <strong>do</strong> tempo histórico real. O interessante é que os problemassociais e humanos que vivem as personagens são semelhantes aos que percebemos na vidareal. Isso <strong>de</strong>monstra que o problema da miséria em que vive o homem <strong>do</strong> campo é expressopela ficção literária <strong>de</strong> Cyro Martins como uma forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncia que o autor faz aosgovernantes que pouco fazem por aquelas pessoas que aban<strong>do</strong>naram a vida rural e foram paraas cida<strong>de</strong>s tentar uma vida melhor, acaban<strong>do</strong> miseravelmente nas periferias <strong>do</strong>s gran<strong>de</strong>scentros urbanos.Cyro Martins diversas vezes afirma que em sua a trilogia <strong>do</strong> gaúcho a pé procurou aomáximo expor os tipos campeiros com os quais teve contato em suas experiências vividas nacampanha, as histórias e causos que ouvia ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong> fogo <strong>de</strong> chão, no galpão da venda <strong>de</strong>seu pai, com a peonada que por ali passava e pernoitava. Essa preocupação <strong>do</strong> autor emprocurar, ao máximo, expressar a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua época torna sua obra <strong>de</strong> valor incalculável,
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